O governo de São Paulo promete alfabetizar 90% das crianças com 7 anos de idade até 2026, e pretende atingir esse objetivo por meio do programa educacional Alfabetiza Juntos SP, lançado pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) nessa terça-feira, 20.
A proposta prevê uma parceria do Estado com os municípios, e a eficácia da política do governo paulista será testada por meio de provas que serão aplicadas três vezes ao ano. Esses exames avaliarão a fluência leitora dos alunos do 2º ano do Ensino Fundamental.
A fluência leitora, na prática, é a habilidade de ler corretamente um total de 45 a 60 palavras por minuto, e servirá de indicador para avaliar o nível de alfabetização dos alunos paulistas.
Uma avaliação feita em dezembro do ano passado com estudantes do 2º ano do ensino fundamental de 600 municípios paulistas identificou que 64% dos alunos têm o índice de fluência leitora adequado para a idade. Os outros 36%, porém, foram enquadrados como pré-leitores, ou seja, não atingiram o nível de alfabetismo esperado para esta fase da escolaridade.
As fases de introdução ao letramento e alfabetização das crianças costumam ficar a cargo das prefeituras, por envolver as fases da pré-escolas e dos primeiros anos do fundamental. Especialistas ouvidos pelo Estadão consideram importante o movimento que o Estado faz de articular uma política com os municípios.
Eles apresentam, porém, ressalvas ao Alfabetiza Juntos SP. Uma delas é relativa ao foco na avaliação da fluência leitora, uma vez que a alfabetização engloba outros aspectos, como escrita, interpretação de texto e construção de sentido a partir da leitura.
“Tem pontos do Alfabetiza Juntos SP que são importantes e acertados, principalmente no que diz respeito à articulação da política com o Ministério da Educação e governo federal, e a colaboração do Estado com os municípios”, afirma a pedagoga Anna Helena Altenfelder, superintendente do Cenpec, entidade que atua na área de educação.
“Há cidades mais estruturadas como São Paulo, as do ABC Paulista, Ribeirão Preto. Esses locais têm universidades, pesquisadores, e mais tradição”, observa Anna Helena. “Mas existem municípios muito pequenos que não têm capacidade técnica e financeira para desenvolver os próprios programas (de alfabetização). E essa pode ser a realidade da maioria das mais de 600 cidades do Estado.”
Na opinião dela, entretanto, o governo se equivoca ao usar a fluência leitora como único parâmetro para avaliar sucesso do programa. Ela acredita que, ser aprovado em provas que testam a capacidade do estudante de apenas decodificar o que está escrito não dá, ao aluno, a garantia de uma alfabetização adequada para a continuação na escolaridade.
“Me preocupa uma política que seja muito centrada em apenas um dos aspectos da alfabetização, que é a fluência leitora, e desconsidera outros aspectos que são importantes da leitura e da própria produção escrita”, afirma. “Se a alfabetização focar apenas na decodificação, até pode gerar bons resultados em testes, mas não vai garantir que o aluno, na sequência, consiga ler e compreender (um texto), construir sentido, e interpretar o que está lendo”, acrescenta.
Ela sugere também que avaliação seja mais abrangente e não fique restrita somente aos estudantes de de 7 anos, uma vez que alunos que foram alfabetizados durante a pandemia, há três, quatro anos, podem apresentar uma defasagem nas habilidades de leitura e escrita.
“(O programa) Tem foco muito grande no 2º ano, mas é necessário olhar para os estudantes que estão mais adiantados, que são alunos que estavam no 1º e no 2º durante a pandemia, e agora estão no 5º e 6º ano”, diz.
Qualificação do ensino infantil
Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, entende que o lançamento do Alfabetiza Juntos SP é uma amostra de que o governo de São Paulo assumiu “papel fundamental” na articulação com as demais esferas administrativas e entende que o programa tem acertos por considerar as idades corretas de alfabetização.
Para ela, porém, ainda é necessário que o governo avance na qualificação da educação infantil e na conexão desses processos de aprendizagem nas demais etapas educacionais”.
“É impossível falar de alfabetizar o 1º e 2º anos sem conectar isso a todo um processo de desenvolvimento que começa na gravidez e segue na primeira infância — que é a fase da creche (do nascimento aos 3 anos e) e também a fase da pré-escola (etapa de 4 a 5 anos e 11 meses)”, diz a especialista.da creche (do nascimento aos 3 anos e) e também a fase da pré-escola (etapa de 4 a 5 anos e 11 meses)”, diz a especialista.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.