Brasil

Lemann e Bloisi contam como chegaram à liderança de suas gerações

Em bate-papo descontraído, um dos maiores empresários do mundo e o jovem CEO do iFood têm conversa franca sobre suas histórias e mercado com o decano de Harvard, Nitin Nohria

Texto: Redação / Foto: Valéria Gonçalvez/Estadão

08 de abril de 2022 | 15h50


O Painel Especial sobre “Lideranças” da 7ª Brazil Conference Harvard & MIT, em parceria com o Estadão, trouxe para o debate três personalidades do mundo dos negócios e da universidade, o fundador e presidente do conselho de administração da Fundação Lemann e empresário, Jorge Paulo Lemann, o CEO da iFood e presidente do conselho da Movile, Fabrício Bloisi, e o decano da Harvard Business School, Nitin Nohria. O painel foi liderado pelo copresidente da BC, Gustavo Coutinho, neste 17 de abril.

Nohria conduziu a conversa de forma leve e descontraída para que o público pudesse saber um pouco mais sobre a história de vida de Lemann e Bloisi, assim como a opinião sobre o desempenho nos negócios da geração de cada um deles. Uma das conclusões é de que está nas mãos da nova geração desbravar o mundo dos negócios com inovação, tecnologia, responsabilidade social e ambiental, em um cenário em que ganhar dinheiro é bom, mas é preciso ter projetos alinhados ao bem-estar da sociedade global.

“Espero que vocês tenham sido inspirados, assim como eu, a ouvir estes dois líderes”, afirmou Nohria. Ele citou o fato de Lemann seguir com sua paixão em fazer negócio, ao envolvimento de Bloisi com a inovação tecnológica e respeito socioambiental.  “Vocês que estão na casa dos 20 anos, prestem atenção ao que o Jorge Paulo e Fabrício disseram: as oportunidades que vocês têm à frente são infindáveis. Estamos contando com a liderança de vocês para tornar esse mundo um lugar melhor e que vocês ganhem dinheiro também”, disse.


Confira o evento na íntegra


Keynote Jorge Paulo Lemann

● Jorge Paulo Lemann Fundador e presidente do Conselho de Administração da Fundação Lemann
● Fabrício Bloisi CEO do iFood e presidente do Conselho da Movile
● Nitin Nohria Decano da Harvard Business School
● Gustavo Coutinho Copresidente e líder do Painel



Gustavo Coutinho - Olá, meu nome é Gustavo Coutinho e eu sou um dos copresidente da Brazil Conference 2021. É uma honra apresentar esse painel a respeito de Liderança. Nós temos três palestrantes incríveis. Jorge Paulo Lemann, fundador e presidente da Fundação Lemann; Fabrício Bloisi, CEO do iFood e presidente do conselho da Movile e Nitin Nohria, Decano da Harvard Business School de 2010 a 2020. É uma honra agora passar a palavra a Nitin.

Nitin Nohria - Obrigado, Gustavo. É realmente um privilégio estar com todos vocês nessa Brazil Conference 2021. Admiro muito, e quero dizer que é um privilégio estar em meio a dois grandes líderes como Jorge Paulo Lemann e Fabrício Bloisi. Vou começar a conversa. Talvez muita gente conheça vocês através das muitas coisas que já foram escritas a respeito de vocês, mas vou tentar criar um retrato de quem vocês são, o que pensam, fazendo perguntas rápidas e talvez sejam respostas de uma palavra ou de uma frase essa é única regra dessa primeira parte, então, vamos começar. Quem foi a pessoa que teve a maior influência na vida de vocês, nos primeiros anos, quando vocês pensam na infância, quem vocês diriam que que foi a primeira a pessoa que teve um grande impacto para quem vocês se tornaram hoje?

Fabrício Bloisi - Boa tarde a todo mundo. Olá Jorge Paulo e Nitin. Uma grande influência para mim para pensar grande foi Bill Gates. Desde o começo eu sempre o tive como referência, Jorge Paulo.

Jorge Paulo - Foi minha mãe, ela era muito próxima de mim. Meu pai morreu muito cedo, então minha mãe era uma personalidade muito forte e teve uma grande influência nos meus primeiros anos.

Nitin Nohria - Ótimo, eu me lembro, na minha vida, de assistir ao pouso na lua, eu fui uma das crianças na minha escola, que foram escolhidas para ver o Apollo 11 alunissar, e a televisão na Índia não era tão disponível, mas eu pude ver, e eu me lembro, isso estimulou a minha imaginação tecnológica. Jorge Paulo, você lembra de um evento que foi tecnologicamente importante para você?

Jorge Paulo - Sim, quando era criança, eu gostava de ler muito a respeito de inventores, e o (Thomas) Edison foi o cara que realmente despertou minha imaginação. A pessoa que inventou tantas coisas diferentes, fracassou em outras, e tentou de novo e continuava sempre, e realmente teve uma grande influência sobre esse mundo tecnológico que temos hoje.

Nitin Nohria -Você sabe que ele (Thomas Edison) ainda é a pessoa de negócio com o maior número de patentes no seu nome até hoje, mesmo com tantas outras pessoas que vieram depois do Edison e ele é a pessoa com mais patentes registradas no mundo até hoje, é extraordinário. E Fabrício, quando você pensa a respeito de uma invenção tecnológica que tenha mudado a sua vida?

Fabrício Bloisi - Eu era fascinado pelo Star Trek, Star Wars, ficção científica, depois o aparecimento e crescimento do PC, MSX, o velho computador pessoal, depois PC SXT e esses dois computadores me fizeram sonhar e ainda não parou.

Nitin Nohria - Na sua adolescência, se os seus amigos fossem descrever vocês usando três palavras, como seus amigos descreveriam vocês, Fabrício.

Fabrício Bloisi - Algo como computadores, visionário, pensando em computadores, tímido até hoje. Eu sou da Bahia, um baiano tímido.

Nitin Nohria - Essa é sua possibilidade, eu pensei que ele fosse isso fosse uma impossibilidade, baiano tímido, muito bem (risos), Jorge Paulo.

Jorge Paulo Lemann - Eu era reconhecido como um atleta, jogador de tênis, surfista, o cara da praia, era a minha fama.

 Nitin Nohria - Quando você foi para faculdade, qual era sua aula predileta, o professor preferido, Jorge Paulo.

Jorge Paulo Lemann - Pode parecer estranho, porque eu fui para a administração, mas em Harvard eu gostava do curso de filosofia, ler Aristóteles e Sócrates, eu tinha um bom professor de filosofia, então, foi uma surpresa para mim, eu realmente gostava de filosofia e eu nunca teria adivinhado.

Nitin Nohria - Olha só que coisa incrível, você aprende coisas que você não teria aprendido, e você Fabrício.

Fabrício Bloisi - Eu era o mais nerd, então, computação, programação, física era o tipo de coisa que eu adorava.

Nitin Nohria - Parece que você entrou nesse bichinho da Ciência da Computação muito cedo, não é?

Fabrício Bloisi - E comecei a procurar a programar muito cedo.

Nitin Nohria - Quando você se formou, você imaginou que você seria quem você é hoje?

Fabrício Bloisi - Não. Eu me imaginava 100 vezes maior, mas ainda tenho alguns anos pela frente, então tenho confiança.

Nitin Nohria - Então você tinha visões ainda maiores para si mesmo quando saiu da faculdade?

Fabrício Bloisi - Eu não olho tanto para o passado, com relação ao que alcancei, acho que foi uma jornada muito boa e gostaria de transformar o mundo para melhor através da tecnologia e inovação. Então, eu penso no que está por vir. Eu vou me concentrar nisso.

Nitin Nohria - Ótimo, e você Jorge Paulo o que pensou que seria quando se graduou em Harvard?

Jorge Paulo Lemann - Bom, por um tempo era jogador de tênis, eu continuei jogando no circuito de tênis, e depois decidi ir trabalhar. Quando eu fui trabalhar, eu queria fazer uma coisa grande. Eu queria copiar o que eu tinha visto nos Estados Unidos, fazer algo nas finanças que fosse grande. No banco Garantia foi isso, e depois disso evoluiu para comprar empresas e tentar melhorá-los basicamente, então, a ideia sempre foi grande.

Nitin Nohria - Isso é interessante, então talvez eu dê um mergulho nisso. Vocês dois muito cedo queriam fazer coisas grandes, de onde vocês acham que veio isso, você tinha uma noção de onde vem esse desejo de fazer uma coisa grande?

Jorge Paulo Lemann - Eu realmente não sei de onde veio. Eu sempre fui competitivo, adorava competir, eu gosto de competir por competir, e se você adora competir, você gosta de fazer coisas maiores e melhores.

Nitin Nohria - É interessante, eu às vezes reclamo que queríamos um mundo que os jovens ganhassem prêmios só por jogar, então, e, mas eu vejo esse poder da competição também, que bom que você mencionou isso. Fabrício, de onde veio essa sua visão de fazer uma coisa grande?

Fabrício Bloisi - Eu li um livro que dizia que você tem que anotar suas metas para 20 anos, mostrar aos seus amigos e eles vão dizer: - isso é impossível! Quando eu tinha 16, 17 anos eu comecei a escrever meus sonhos. Até hoje escrevo, o que eu quero para hoje, para o próximo ano, para os próximos 10 ou 20 anos. Então, hoje meu sonho seria ir para a lua e eu quero ir lá, então, sempre pensando em sonhos novos e grandes também para a minha empresa e isso se tornou parte da nossa cultura corporativa. E o que vamos fazer em 10, 20 anos, escrevo e vamos fazer todo mundo trabalhar junto para chegar lá.

Nitin Nohria - Qual o maior risco que você pensa que assumiu na vida? Jorge Paulo, quando você olha para trás, houve algum momento em que você fez algo que parecia muito arriscado e você sentiu que não era decisão fácil, no entanto, você assumiu o risco?

Jorge Paulo Lemann - Eu sempre assumi riscos. Uma das vantagens da minha mãe é que ela me deu muita liberdade para fazer as coisas, sempre assumindo riscos, como viajar para onde eu não devia fazer o que não devia, então, você tem o sentido do risco. E acho que maior risco que assumimos nos negócios, foi quando nós fizemos uma captação de mercado de US$ 25 bilhões e nós decidimos comprar a Anheuser-Busch por US$ 54 bilhões, e tomamos dinheiro emprestado, então, aquilo foi um risco, quando os mercados financeiros estavam desabando, em 2009.

Nitin Nohria - Fabrício você.

Fabrício Bloisi - É difícil competir depois disso.

Nitin Nohria - Eu diria que não muitas pessoas no mundo vão assumir um risco assim.

Fabrício Bloisi - Muitas pessoas me perguntaram qual o maior risco? Todo mês eu assumo riscos, mudo a direção do negócio, mudo a estrutura, aporto no negócio. Eu acredito que a coisa mais importante no grupo é que mudamos tudo a cada seis meses. Então, eu acho que o maior risco, por exemplo, na semana passada ocorreu quando decidi entrar no novo negócio, eu fico nervoso, mas para cada cinco coisas que dão errado, a gente faz uma muito bem. E já fizemos muitas coisas que deram errado, mas uma ou duas às vezes nós acertamos, então, é o tempo todo.

Nitin Nohria - Eu não sei quanto a vocês dois, mas eu devo admitir que quando o Facebook foi lançado, se tivessem me dito que Facebook ia se tornar uma das empresas mais valiosas do mundo, eu teria rido, eu não poderia acreditar nisso. E existem momentos em que ainda me pergunto porque realmente é um negócio típico da tecnologia que sempre me surpreendeu. Existe algo na vida que você subestimou, quando você viu e pensou: - meu Deus isso não vai dar em nada, e depois você estava errado?

Fabrício Bloisi - Estou rindo aqui, uma coisa absurda, eu me lembro do dia em que o Steve Jobs lançou o iPhone, e eu estava assistindo ao vivo, é incrível, mas óbvio que ninguém vai comprar esse negócio, só os muito ricos, e hoje nós temos bilhões de smartphones. E mesmo assim, naquela ocasião, eu ri.

Nitin Nohria - Incrível, não é? E você Jorge Paulo?

Jorge Paulo Lemann - O que eu diria é que algumas coisas que me parecem muito ruins resultaram de uma crise e terminaram saindo-se muito bem. Eu tinha um uma corretora, mas o Mercado de Ações entrou em colapso, eu me tornei um mercador de títulos, melhor do que de ações e depois uma empresa quis, um dos maiores bancos, quis se juntar a nós para fazer um banco de investimento, mas não deu certo. Então, fomos deixados à nossa própria sorte e tivemos de criar um banco de investimento por conta própria. Por exemplo, a compra da Anheuser-Busch, por 20 anos nós pensamos a respeito de comprá-los e depois chegou a ocasião com o fim do mundo nos mercados financeiros. Foi assustador e ao final nos saímos muito bem. Então, essa é a maior parte do nosso negócio hoje em dia, o mais rentável. Eu já me vi surpreendido por coisas que são resultados de crise, que não parecem boas, e na verdade se mostram muito boas.

Nitin Nohria - Interessante. Vamos falar, de maneira curta, a respeito de uma série de coisas no curto e longo prazo. Espaço e criptomoedas?

Fabrício Bloisi - Não especificamente bitcoins, mas a tecnologia. E concordo é uma coisa longa o SpaceX. O espaço vai ser a nova fronteira, a gente vai poder viajar para muitos lugares no espaço, a lua e mais além, estamos apenas começando e nos próximos 100 anos tudo vai mudar.

Jorge Paulo Lemann - E gosto daqui, tem muitas coisas, não sou um tipo de cara que está muito ansioso para ir ao espaço e dar uma volta para o espaço não.

Nitin Nohria - Tesla?

Fabrício Bloisi - A Tesla agora vale bilhões, e cada dia tem valor mais alto, eu realmente acho que daqui a um ano, talvez seja curto prazo, a competitividade nos carros elétricos é muito grande e todo mundo vai ter um carro elétrico com certeza.

Nitin Nohria - Jorge Paulo.

Jorge Paulo Lemann - Eu tenho uma mulher que acha que ela está investindo em Tesla desde o princípio, e realmente eu não vou vender de jeito nenhum as minhas ações, talvez eles tenham razão.

Nitin Nohria - General Motor, longo ou curto prazo?

Fabrício Bloisi - Curto prazo.

Nitin Nohria - Vocês não acham que essas velhas empresas vão ter que inovar muito mais, vão ter que começar um novo mercado?

Fabrício Bloisi - A General Motors vai começar a entregar melhor também. Quando você fala de inovação, no futuro muita tecnologia verde e muita inovação relacionada a isso a curto prazo.

Jorge Paulo Lemann - Também a curto prazo.

Nitin Nohria - Amazon?

Fabrício Bloisi -  Amazon excelente empresa inovando muito.

Jorge Paulo - Eu sou neutro nisso, sou meio suspeito de pensar que vamos ficar muito grandes, muitas pessoas. Eu admiro muito o que está sendo feito até o momento, mas sou neutro.

Nitin Nohria - Walmart?

Jorge Paulo Lemann - Neutro.

Fabrício Bloisi - Neutro, mas acho que é uma tendência curta, porque os primeiros serviços de entregas tiveram uma grande mudança no mundo inteiro, portanto as novas empresas têm que inovar. Acho que a maior parte das empresas mais antigas, a curto prazo, eles têm de se reinventar, inovar se puderem fazer, vão ter sucesso, se não terão um mau tempo pela frente.

Nitin Nohria - Robinhood?

Jorge Paulo - Eu comprei algumas ações.

Nitin Nohria - Não parece uma resposta muito animada.

Fabrício Bloisi - Talvez eu esteja errado, também porque eu não gosto de apostar, mas eu fico curto prazo, não por causa do modelo, porque o mercado está bastante aquecido, todo mundo investindo em tudo, e eu acho que a gente vai ter algumas alterações antes de chegar em um crescimento a longo prazo, que vai acontecer depois de algumas alterações.

Nitin Nohria -  China?

Jorge Paul Lemann - Em minha opinião a longo prazo. É diferente, mas eles não vão desacelerar nos próximos 20 anos, eu acho.

Fabrício Bloisi - O maior benchmark quando eu criei iFood era Bill Gates e o Vale do Silício. A China hoje em dia é um grande desafio na inovação e vou muito pra China. O nível de inovação, a disrupção, é a longo prazo porque é um país realmente que está inovando, e nós temos que desconsiderar a ideologia e ver como eles estão se movendo por tanta rapidez, que é uma coisa que deve inspirar outros países como o Brasil.

Nitin Nohria - Brasil, curto ou longo prazo?

Fabrício Bloisi - Longo, nós temos muitos desafios agora no momento. Adoro o assunto desse evento que é o diálogo, e nós precisamos muito mais de diálogo no Brasil no momento, mas depois que a gente conseguir chegar a essa inovação e ter mais empresas eficientes, vamos encontrar uma maneira de crescer muito mais.

Jorge Paulo Lemann - Longo prazo e eu acho que é bastante fácil de consertar, se a gente conseguir colocar as pessoas adequadas, uma melhor governança, e por isso, que a gente investe tanto nas pessoas esperando que elas voltem para o Brasil para podermos chegar às situações de soluções pragmáticas, essa é uma esperança.

Nitin Nohria - Obrigado por compartilhar isso. Eu espero que com essas perguntas o público tenha uma melhor ideia de quem são vocês dois líderes, o que vocês pensam sobre muitos assuntos, mesmo que se concordem ou não um com o outro. Eu acho que isso é bastante interessante e divertido. Agora eu vou passar e perguntar vocês, para fazer uma coisa com todo mundo diferente, Fabrício eu vou pedir a você - se está pensando sobre a ABI (Anheuser-Busch Inbev) como Jorge Paulo, o maior negócio seu portfólio, na sua carteira, se você fosse analista o que você diria para ele sobre as fraquezas e forças de ABI e Jorge Paulo vou pedir que você faça a mesma coisa em relação ao iFood.

Fabrício Bloisi - Eu vou falar sobre as fortalezas, existe uma lenda em relação ao Jorge Paulo, pois ele sempre foi considerado o líder das melhores empresas do mundo. Golden Sachs e o Walmart e nossa empresa e usou ABI como benchmark. Eu fui um sócio de Jorge Paulo e aprendi muito sobre a cultura, e copiamos muito das coisas que ABI faz corretamente falando sobre as forças, é uma cultura que sonha grande e todos os grandes negócios nos desafiam sempre a sermos maiores do que os sonhos da ABI. Também é uma cultura para orientar as pessoas, procuram as melhores pessoas e empoderam essas pessoas com base nos resultados e não de onde elas vieram. Então, acho que os nossos valores empoderam as melhores pessoas, e nós somos uma empresa orientada para os resultados. Muito obrigado Jorge Paulo, nós aprendemos muito com você. É uma coisa que historicamente, eu noto, que se não fosse tão forte e vou botar você numa posição aqui, essa abertura para a inovação e disruptiva quando você vê a nossa empresa e nós copiamos a ABI e depois começamos com um parceiro do Vale do Silício e dizer que estamos abertos para a inovação. Nós temos que procurar o resultado também, fazer tudo o novo, desafiar o seu próprio negócio, apostar em mil coisas, mas para ser honesto isso o que o Jorge Paulo falou dois anos atrás, nessa conferência, ele disse que era o seu maior objetivo é fazer ABI ter mais riscos, então, com base na sua história e eles vão ser bem-sucedidos.

Nitin Nohria - Até o momento você não vê fraquezas, viu o que a empresa fez o suficiente para ser disruptiva com ela mesmo. Jorge Paulo, agora fale sobre o iFood, para nós como você vê, como você investiu neles também por um período.

Jorge Paulo Lemann - Bom, é uma empresa mais nova, mais jovem, e ele se centrou muito mais no consumidor, diferente de nós a gente se centrou muito mais na produção de maneira barata e distribuindo muito bem. E ele tem um enfoque muito grande nos seus consumidores, quem são seus clientes, o que não era o nosso enfoque na verdade, e como ele é orientado mais para a técnica, ele conhece muito mais o digital, muito mais, e me parece também que nós treinamos as pessoas de maneira muito similar. As pessoas têm que ser eficientes, mas não tão inovadores, e considerando que a empresa tenha objetivos métricos muito claros, e os inovadores não participam tanto, porque não podemos medi-los com retornos imediatos. Portanto eu acho que ele está bem, está correto. Nós não fomos suficientemente inovadores, nem centrados no consumidor, mas nós estamos tentando, é difícil mudar uma cultura de uma coisa tão grande, que já teve muito sucesso e continua tendo sucesso, mas eu acho que nós estamos no caminho de fazê-lo agora. E outra coisa é que ele está governando uma plataforma enorme que tem acesso aos clientes, nós temos que criar a nossa própria plataforma também, e nós estamos fazendo isso, portanto, nós vamos ter acesso direto a muitos consumidores e isso está acontecendo. Eu o criticava, por que eu sou da velha escola, eu adoro ver uma linha de base, isso me anima muito e esse negócio de construir, construir, construir um dia não vai existir uma linha base e isso me incomoda um pouco. É isso o que ele está fazendo e entregando 60 milhões de refeições por mês, era 20 milhões um ano atrás, uma coisa assim, eu gosto de ver assim a coisa mais concreta, me preocupa a Amazon, por exemplo, mudou o mundo em termos de muitos anos investindo, em crescimento e, eventualmente, eles podem mostrar o lucro enquanto que outras pessoas que estamos tentando fazer para mostrar lucro, não sei realmente, essa é minha dúvida.

Nitin Nohria - Esta é a grande pergunta que algumas pessoas têm, especialmente, no negócio de iFood, em algum momento, durante um período, parece que existe uma transferência dos investidores aos consumidores nesses negócios, porque você tem que adquirir ações, isso verdadeiro em relação a muitas empresas que podem ter um grande montante de capital e o capital vai na premissa que se você tem um massa crítica e a economia continua melhorando, você vai chegar o lucro, mas existe pessoas como Jorge Paulo, que em certo momento dizem quais são os negócio que se comprovam. Vocês estão vulneráveis para participar de outras plataformas. Será que eu vou me preocupar se iFood, nos Estados Unidos funcionaria, existem várias maneiras que eu possa competir, como você responde as pessoas que fazem essa pergunta -  algum dia você vai ser lucrativo? Você pode dizer, eu não me importo mais já ganhei muito dinheiro, e não estou nem aí para isso?

Fabrício Bloisi - Eu não penso em sair disso. Eu penso em continuar construindo uma empresa tão linda como o Jorge Paulo e tenho muito a crescer ainda, vou parar de falar de crescimento quando eu chegar ao tamanho do Amazon. Eu vou continuar focando no crescimento, mas o que você acabou de falar não é a única maneira de fazer empresas de tecnologia. Existem muitas empresas, nós temos acesso à liquidez no mundo - venture captures investindo muito, destruindo dinheiro dando vouchers para os clientes sem pensar na eficiência. Eu penso diferente, nós temos que usar tecnologia e inovação para entregar eficiência, não tem que usar a inteligência artificial para que os custos da entrega sejam mais baixos. Nós entregamos em 27 minutos, temos que usar a tecnologia para permitir às pessoas que recebam as coisas em 10, 15, 20 minutos com custo menor. Queremos ajudar 300 mil restaurantes através da tecnologia, mas a maneira de fazer não é investir e continuar crescendo, é procurar eficiência através da tecnologia. A empresa no momento tem o objetivo social. Durante a pandemia nós tivemos de ajudar os motoristas de restaurantes, gastamos muito mais dinheiro para dar mais condições aos motoristas, mas essa empresa pode ser lucrativa, vai ser lucrativa, quando chegar o momento correto. Nós acreditamos que o negócio de entrega é o princípio da jornada. Cem anos atrás a gente costurava a nossa própria roupa em casa, eu acho que no futuro a gente não vai preparar nossa comida em casa. A gente vai falar com o nosso relógio digital e ele vai entregar a melhor comida, mesmo sem a gente fazer o pedido, mais barato e com melhor qualidade e mais saudável. Então nós estamos no início de uma tendência mais disruptiva que vai mudar em trilhões de dólares o mundo. Podemos ser lucrativos hoje em dia. Se fosse o maior objetivo - sim, mas estamos nas oportunidades de inovação apenas para ganhar dinheiro -, mas para também beneficiar a sociedade, para oferecer o alimento mais barato e mais saudável, e para usar a tecnologia para permitir isso. O objetivo hoje não é ser lucrativo, é ter uma entrega boa.

Nitin Nohria - E você acha que esse mindset que você está disposto a dizer:  - sim eu sei que em algum momento tem que ser lucrativo, mas enquanto isso eu posso comprovar que único objetivo agora é o crescimento? E pode ser esse o motivo pelo qual as empresas tradicionais fracassam, porque para elas essa métrica de lucratividade é muito importante no curto prazo e que não podem fazer melhor, como você faz, quando nós falamos a curto e longo prazo, você falou muitas das empresas estabelecidas. Estou curioso para saber o que Jorge Paulo quer ver é o que realmente interfere em empresas como essas, o fato de serem totalmente digitais.

Fabrício Bloisi - Eu acho que esse é um dos motivos. Eu acho que o teste de mercado para entregar lucratividade, normalmente é, existe outro motivo que o Jorge Paulo falou, pois enquanto a empresa não tiver uma cultura correta, a empresa cresce e você tem que olhar e entregar mais esses KPIs e tem de ser disruptivo e pensar no futuro, tem de ter um mindset, ter de ser exponencial e pensar como nós vamos mudar o mundo com a empresa. E você pode fazer isso em 20, 30 anos, e você não é mais uma grande empresa. Existe um ditado em Hollywood que diz que as 500 maiores empresas daqui a 50, 70 anos vão ser diferentes. Então, é preciso procurar lucro no curto prazo e também uma falta de mindset para pensar a longo prazo.

Nitin Nohria -  O que você acha do Jorge Paulo? Essa visão que você tem, que eu acho como um reitor de uma escola de Economia, nós vamos ser atropelados por pessoas como o Fabrício, e talvez um dia a gente vai ver que a gente foi muito conservador, o que você acha?

Jorge Paulo Lemann - Eu acho que vão existir alguns ganhadores e muitos perdedores. É a maneira que eu vejo isso, e é difícil ver exatamente quem serão os ganhadores. Os ganhadores serão aqueles, que por algum motivo, eles atraem todo esse volume, eles crescem, mas eles também têm um objetivo que lhes dá uma vantagem competitiva de alguma maneira. Muitos desses negócios que estão se construindo em volume, realmente não tem de incremento, sempre existe lugar para um pequeno cara poder competir também, então eu quero avaliar quais desses negócios realmente vão ter uma estratégia de grande crescimento, realmente tem um tipo de incremento para protegê-los.

Fabrício Bloisi - Eu quero concordar com Jorge Paulo, porque na verdade eu não acrescento nessas coisas como os novos negócios e os antigos negócios, existe muito dinheiro acontecendo e dois terços vão quebrar e vamos ver empresas usando dinheiro apenas para competir. A questão não é empresa que cresce versus a que não cresce. É que tem que crescer e procurar a eficiência usando a inovação tecnológica, então, muitas empresas vão desaparecer e isso faz parte.

Nitin Nohria - Vamos imaginar que exista alguma correção financeira que aconteça e muitas dessas empresas podem não ser sustentáveis, e nós já vimos isso acontecer com a correção de 2000 com a primeira bolha da internet e eu acho que vai haver um outro momento que isso vai acontecer, essa correção. Mas também como isso influencia no dia a dia e se você pega as empresas do ranking das 100 + que estão estabelecidas, aquelas que estão aqui há 50 anos, por exemplo, temos umas quatro dessas empresas que têm história e elas também estão passando por esse momento de transformação digital, você acha que a taxa de sobrevivência também vai ser um em três?

Fabrício Bloisi - Talvez uma em três em ambos os grupos, talvez duas em três, porque são maiores e bem estabelecidas, mas olha, hoje o que você descreveu sobre como estão se reinventando, e investindo em inovação, então algumas empresas mais maduras estão procurando saber como usar as novas tecnologias. Deixa eu dizer uma coisa, às vezes nós pensamos que nós vamos ver a primeira vez na história, não, nós passamos por muitas disrupturas tecnológicas ao longo dos últimos 300 anos, como eletricidade, carros, telecomunicações, telefonia celular, tudo isso mudou. Os ciclos estão ficando mais curtos agora, então se a empresa não conseguir olhar o próximo ciclo a sua chance de sobrevivência diminui, então algumas dessas empresas vão ser benchmark do futuro, mas estão prontas para continuar mudando e se adaptando como as menores, como diz o Jorge Paulo? É mais fácil inovar, e as maiores podem ser mais difíceis, mas é o desafio delas e algumas vão ser bem-sucedidas.

Nitin Nohria - Jorge Paulo, vamos pensar no ano 2030, as empresas Top 100 do mundo, e as empresas existentes vão continuar a ser a maioria na lista ou as novas como a do Fabrício vão substituir num ritmo mais veloz as existentes?

Jorge Paulo Lemann - Eu acho que as novas empresas vão ser maioria, e eu acho que algumas das empresas antigas vão sobreviver, vão se adaptar ou vão sair bem, mas eu acho que a maioria, e já está acontecendo na verdade, veja quais são as principais empresas agora: Google Facebook, as Top 10 não existiam, então, acho que isso vai continuar acontecendo.

Nitin Nohria - Esses jovens vão se graduar e entrar na próxima fase das suas vidas, eles estão ouvindo vocês e aprendendo lições. Se vocês tivessem que dizer às pessoas que capacidade de liderança deve-se construir agora para ser bem-sucedido nesses próximos 10, 15 anos da carreira? A minha experiência é de que os primeiros 10, 15 anos fazem parte do ciclo que vai permitir não apenas sonhar grande, mas sonhar até maior ao longo do tempo. Com o tempo que temos restante, o que vocês diriam quais são as capacidades de liderança que vocês procuram nos jovens, que vocês dizem: - Ah eu tenho um jovem que demonstra ter essas características? Jorge Paulo eu começo com você.

Jorge Paulo Lemann - Sempre nos concentramos muito em pessoas, então, nós fazemos esforços para atrair os melhores, acompanhar, treinar, dar-lhes a oportunidade, e basicamente as pessoas boas vêm, tem de todos os tipos, nós gostamos de pessoas que entregam resultado, algumas entregam outras não, e gostamos de pessoas que possam liderar outras, estimular outras, que possam criar um sonho e vê-lo acontecer. Gostamos de pessoas que trabalham juntas bem e, obviamente, só queremos pessoas éticas. Se temos alguém que não é ético não dá certo. E gostamos de pessoas que estejam dispostas a experimentar.

Fabrício Bloisi - Falando a respeito de características de liderança, primeiramente empreendedores com grandes sonhos. Eu acho que eu aprendi muito com Jorge Paulo, quando eu falo sobre grandes sonhos, no nosso caso pensar a respeito de uma empresa de US$ 100 bilhões de dólares, mas também com uma proposta de como tornar a vida das pessoas melhor, meio ambiente, a inclusão, e precisamos de pessoas com paixão. Eu vou até o fim, esse tipo de coisa vai acontecer, pessoas obcecadas com resultados, com entrega de resultados, como disse o Jorge Paulo, e inovação crítica e estar aberto à mudança. Tem pessoas que não gostam de mudar, as vezes nós temos que estar abertos à mudança, tudo vai mudar a sua vida e tem que estar aberto à mudança. A única coisa que acontece é a mudança e continuar aprendendo. As características que procuro são inovação, disciplina e também estar pronto para tomar decisões grandes. Não estamos falando muito disso, mas você tem que tomar decisões grandes como empreendedor, tem que entregar decisões, contratar pessoas melhores, você pode até perder dinheiro, às vezes com decisões erradas. Então as pessoas têm que estar comprometidas e tomar decisões difíceis.

Nitin Nohria - O você espera mais dessa geração de pessoas, que estão nos ouvindo agora, o que geração de vocês não fez?

Jorge Paulo Lemann - Eu venho de uma geração que se concentrou muito em ganhar dinheiro. E eu acho que a nova geração tem uma preocupação maior com o mundo, com o meio ambiente, com o progresso geral das pessoas, então, eu acredito que vão contribuir para um mundo melhor e nós de 50 anos atrás queríamos ganhar um dinheiro e eles também podem ganhar dinheiro e também podem contribuir mais para fazer deste um mundo melhor.

Fabrício Bloisi - Eu vou aprender com Jorge Paulo, também ganhar um dinheiro, isso é importante, mas também eu adoro o Fórum Econômico Mundial, ou seja, temos o capitalismo de partes interessadas e stakeholders, eu acho que isso vai fazer parte do novo normal nesse mundo e é muito bom. Mas quero dizer mais uma coisa: o nível de disrupção e mudança de tudo o que está pela frente, nós temos criptomoedas, biologia sintética, economia de créditos de carbono etc., vai mudar tudo, pois tudo está andando rápido. Então, para a nova geração todas essas grandes oportunidades já começam e vamos atrás dela e vamos ganhar um dinheiro. Não posso ver momento melhor para isso.

Nitin Nohria - Eu quero agradecer a vocês dois, estamos chegando ao final, quero agradecer a todo mundo que nos assiste, e eu espero que vocês tenham sido inspirados, assim como eu, a ouvir os líderes. E o que eu gostei é que Jorge Paulo prova que você pode ter uma paixão extraordinária em fazer negócio em toda a sua vida, ele ainda tem a paixão o que eu acho extraordinário. E vocês que estão na casa dos 20 anos, prestem atenção ao que o Jorge Paulo e Fabrício disseram: as oportunidades que você tem à frente são infindáveis. Estamos contando com a liderança de vocês para tornar esse mundo um lugar melhor e que vocês ganhem dinheiro também. Obrigado a todos por serem parte desta conversa. Cuidem-se.




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