Brasil

O SUS precisa da adesão de toda a sociedade brasileira

Modelo de saúde pública que é único no mundo e dá sustentação ao enfrentamento da covid-19 no País foi tema de debate na 7ª Brazil Conference

Texto: Redação / Foto: Daniel Teixeira/Estadão

08 de abril de 2022 | 15h50


O painel “O Fortalecimento do SUS”, realizado pela 7ª Brazil Conference Harvard & MIT neste 17 de abril, contou com transmissão ao vivo pela internet. A programação pode ser acompanhada pelo portal do Estadão, parceiro na cobertura do evento, além dos canais da conferência no Youtube e Facebook, a qualquer tempo.

Para debater o tema foram convidados o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, a professora-adjunta na Universidade Federal do Rio de Janeiro Lígia Bahia, o pesquisador da Fiocruz Carlos Gadelha, e a professora associada da Harvard School of Public Health Marcia Castro, que mediou a conversa, no painel liderado por Isadora Sousa. 

Na avaliação dos painelistas, o SUS é o maior modelo de saúde universal do mundo e ele precisa, mais do que nunca, da adesão de toda a sociedade, tanto no debate, quanto na tomada de decisões, para uma mudança política, para ter um financiamento condizente com o seu tamanho e potência e, assim, servir o propósito de ser universal. Sem um amplo investimento e valorização da ciência e da tecnologia, essa tarefa será significativamente mais árdua.

Para Armínio Fraga, o fortalecimento do SUS deve começar pela retomada orçamentária do sistema. “Claramente o SUS não é uma prioridade do país, porque os nossos representantes tomaram a decisão consciente, ou não, de deixar esse buraco (orçamentário). E hoje eu enxergo tanto aqueles que querem mais tecnologia, mais gestão, mais informação, mais uso de dados, mais integração, não só na fronteira da tecnologia, mas nas coisas mais básicas, cadastros, capacidade de identificar as pessoas, o que vale aliás para toda a política social brasileira”, disse.

O ex-ministro da Saúde concorda com a análise, mas acredita na força do SUS. “Eu vejo o SUS num momento triste do ponto de vista de cuidado, como citou o Armínio, mas vejo o SUS forte como nunca como elemento que hoje toda a sociedade brasileira volta os olhos e fala ‘Ainda bem que temos o SUS’. Apesar dos líderes tóxicos que acabaram procurando minar as estruturas básicas do SUS, mas são tão sólidas que elas resistem, quase que falando ‘apesar de você, amanhã há de ser outro dia’”.  

A professora Marcia Castro deixou uma mensagem aos estudantes. “As raízes de muitos dos problemas que a gente está vendo estão na História, entendam o Brasil e lembrem-se sempre de Guimarães Rosa: o que a vida quer da gente é coragem”, afirmou em referência aos profissionais que estão na linha de frente e na pesquisa para o enfrentamento da pandemia.


Confira o evento na íntegra


O Fortalecimento do SUS

● Armínio Fraga Economista e ex-presidente do Banco Central
● Luiz Henrique Mandetta Ex-ministro da Saúde
● Lígia Bahia Professora adjunta na Universidade Federal do Rio de Janeiro
● Carlos Gadelha Pesquisador da Fiocruz
● Marcia Castro (moderação) Professora associada da Harvard School of Public Health
● Isadora Sousa Líder do Painel “O Fortalecimento do SUS”



Isadora Sousa - Olá, bom dia a todos e a todas. O meu nome é Isadora, eu faço dupla graduação com a Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e a Northeastern University em Boston, e estudo administração de empresas. E é com muito prazer que hoje eu apresento para vocês o painel de saúde da 7ª edição da Brazil Conference, que terá como tema o fortalecimento do SUS considerando o legado da pandemia e os próximos anos. O momento no nosso país, em que a gente discute tantos erros do passado, hoje a gente pretende focar em quais deverão ser os acertos do futuro com relação à saúde pública no Brasil. O painel será moderado pela Márcia Castro, professora associada da Escola de Saúde Pública de Harvard. Então sejam muito bem-vindos e muito obrigada pela participação de todos.

Márcia Castro - Bom dia, obrigada Isadora e obrigada à Brazil Conference por dar espaço para discussão de saúde. Bom, o nosso painel tem um time fantástico, e a gente começa com o doutor Armínio Fraga, que é economista e ex-presidente do Banco Central de 99 a 2002, e é fundador do Instituto de Estudos Para de Políticas de Saúde, que tem dado uma contribuição muito importante para o debate atual; doutor Carlos Gadelha, coordenação de ações de prospecção da presidência da Fiocruz, com uma experiência ampla em inovação em saúde; doutora Lígia Bahia, Professora Associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das pessoas que mais entendem sobre saúde coletiva, políticas de saúde, planejamento e, acima de tudo, sobre o SUS; doutor Luiz Henrique Mandetta, que é médico e dispensa apresentações, ocupou o cargo de ministro da saúde durante os primeiros meses da pandemia. Bom eu peço a todos palestrante que sejam breves, que a gente tem muita coisa para falar, e eu queria começar com uma pergunta ampla para cada um de vocês, peço que vocês façam uma reflexão inicial de cerca de três minutos, e a pergunta é: como fortalecer e aprimorar o SUS nos próximos anos? E eu queria começar com a doutora Lígia Bahia.

Lígia Bahia - Bom dia, eu queria iniciar assim, agradecendo muito convite, é uma honra né, e uma alegria estar aqui né, com gente tão legal, como somos nós todos né, me incluindo aí, para essas pessoas, essas pessoas tão legais. Mas assim, acho que é uma pergunta muito importante né, nós temos que acertar, não podemos mais errar diante dessa, das tragédias né, que nós estamos vivenciando, da tragédia sanitária à qual se acopla uma tragédia humanitária, e para não errar, para fortalecer o SUS eu diria que nós precisamos explicitar as finalidades do SUS, não é? Quais são as finalidades do SUS? Nós queremos que os brasileiros e brasileiras vivam mais, nós queremos diminuir a mortalidade materna, nós queremos diminuir a mortalidade das crianças abaixo de cinco anos. Esses desfechos, eles são fundamentais. Nós não teremos o SUS fortalecido se nós só discutirmos os meios, então é fundamental, e eu estou aqui, me apoiando num economista muito querido por mim e também eu sei que por outras pessoas aqui, que dizia o seguinte: não adianta a gente discutir saúde, política de saúde, sem ética. Quais são as pessoas que serão atendidas? Como essas pessoas serão atendidas, não é? Hoje nós estamos entre o ECMO, que atende assim, pessoas assim ultra, ultra, ultra, um extrato muito, ECMO é aquele equipamento né, que permite uma circulação extracorpórea, e pessoas morrendo na UPA. Como que a gente vai resolver isso, não é? E a gente não resolve isso só falando de coisas, de leitos, de número de médicos, etc., etc. A gente precisa explicitar valores, inclusive precisamos estimular a discordância, a divergência. Quem diverge? Quem considera que o SUS é um direito universal à saúde? E quem não considera? A sociedade brasileira é plural, e, portanto, espera-se que esse debate, esse debate político, esse debate dos valores, ele seja bastante estimulado na sociedade brasileira porque assim a gente fortalece o SUS. O SUS é a perna operacional do direito à saúde no Brasil né, e é o direito à saúde justamente que, se a gente tem direito à saúde a gente tem o SUS fortalecido, se não tem direito à saúde, o SUS, ele é um SUS muito interessante, muito importante, mas é um SUS que ele falha nos momentos, por exemplo, que a gente mais precisa, né.

Márcia Castro - Muito obrigada Lígia. Doutor Armínio.

Armínio Fraga - Obrigado, um prazer muito grande estar aqui também, com esse grupo aqui na tela e com alunos, o ambiente universitário é sempre dos meus favoritos, senão o favorito. Olha, o SUS nasceu com uma missão constitucional universal, como já foi dito, e mostrou ao longo dos anos o seu valor. No entanto, curiosamente, o espaço orçamentário do SUS nunca foi aquilo que se imaginava. Então eu diria assim, o fortalecimento começa por aí, eu posso voltar ao tema, estou querendo ficar dentro dos meus minutos, mas o espaço orçamentário é surpreendente, surpreendente. Quer dizer, um país que escolheu como modelo o sistema inglês e onde 80, 90 por cento do gasto com saúde ocorre dentro do sistema público, o país que fez essa escolha, que é o nosso, gasta menos de 50 por cento com o SUS, acho que essa altura menos do que 45 por cento do gasto em saúde vai para os 75 por cento da população que dependem do SUS. Então acho que começa por aí, é uma questão de prioridade, no fundo é uma questão política como disse a Lígia, é uma questão ética também, e que está meio perdida, assim essa que é a verdade, ela está perdida. A despeito, de um lado, dos sucessos que comprovam a importância e os resultados né, de um sistema que funciona, e o Brasil tem muita coisa a mostrar, mas do outro lado, um sistema que hoje sofre com essa situação terrível que o mundo inteiro hoje enfrenta da pandemia, e no fundo nos frustra, no fundo nos frustra. Por que é que, tendo o SUS nós não podemos fazer mais? Então isso talvez sirva como um alerta para chamar atenção da falta de prioridade que vem ocorrendo na prática com o SUS. Eu não tenho o conhecimento que meus colegas aqui de tela têm, então não vou me arriscar a falar que muita coisa que pode acontecer para melhorar, para fortalecer, universalizar de fato a atenção básica, pensar em tecnologia, em pesquisa, em gestão, tem muita coisa. Mas eu acho que o foco deveria ser por um ângulo positivo, existe uma demanda pelo SUS, o SUS já se provou ao longo dos anos capaz de entregar resultados extraordinários, mensuráveis, como provocou absolutamente na mosca a Lígia, como sempre aliás, eu acho que nós teremos é mais sabe, é isso? O momento é meio tenebroso hoje, eu diria que as nossas lideranças não têm conseguido aproveitar esse potencial, mas eu paro por aqui, mais uma vez agradeço.

Márcia Castro - Obrigado senhor Armínio. Ministro Mandetta. Como fortalecer e aprimorar o SUS nos próximos anos?

Luiz Henrique Mandetta - Bom dia, bom dia a todos, bom dia à comissão organizadora que fez esse convite, Márcia Castro, com quem já tive diálogos aqui sobre saúde pública, Lígia, Gadelha, Armínio, um prazer, uma honra estar aqui com vocês. Nosso sistema, a Lígia tocou no ponto, valores, ética, equidade, que são princípios pelos quais a gente se norteia, de universalidade, integralidade e equidade, e nós trabalhamos ainda muito pouco esses princípios para contextualizar-nos, como será a nossa integralidade, de que conceito de integralidade a gente está falando, de que conceito de equidade a gente está falando, isso ficou, uma coisa sendo feita pelos usos e costumes. O maior observatório social, epidemiológico, da linha da vida de todo brasileiro, que compreende da fecundação, pré-natal, da infância, da vida economicamente ativa, é diretamente relacionado com tomadas de decisões utilizando esse sistema como um guia, como farol das transformações que são necessárias. Todas as vezes que se mede a intervenção do SUS dentro de políticas bem organizadas, e aqui a gente pode citar o PNI a gente pode citar a própria estratégia de saúde da família, que são políticas fulcrais que marcaram no seu tempo e que transformaram nos anos seguintes e mostraram os resultados do investimento custo-benefício. Mas não há um setor que seja mais ou menos importante, se a gente falar e deixar de falar do complexo industrial e pesquisa, e ciência e inovação, que o Gadelha vai abordar com certeza, a gente vai ver a nossa dependência de US$ 38 bilhões de PIB de balança comercial negativa que a gente gasta com saúde, a gente queima a safra de soja de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, meio Paraná, por conta da nossa dependência em ciência e tecnologia. Então todos esses canais, eles dialogam e eles se fecham no grande observatório que é o SUS, e que deveria ser tomado como elemento decisório. Agora, ele sai fortalecido dessa pandemia, até pelo desprezo que foi dado a ele, até pelo desmanche que foi tentado dele e que ele resiste na ponta através de uma, da sua capacidade incomensurável de abrir as portas para a população. Eu vejo o SUS num momento triste do ponto de vista de cuidado, como citou o Armínio, mas vejo o SUS forte como nunca como elemento que hoje toda a sociedade brasileira volta os olhos e fala “Ainda bem que temos o SUS”. Não há ninguém nesse país que não veja o SUS presente na vacina, na produção, na entrega, no delivery e na tentativa de minimizar, apesar dos líderes tóxicos que acabaram procurando minar as estruturas básicas do SUS, mas são tão sólidas que elas resistem, quase que falando “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.

Márcia Castro - Sempre tem um dia, tem o sol nascendo no dia seguinte. Doutor Carlos Gadelha, por favor.

Carlos Gadelha - Bom, primeiro eu queria agradecer, é um enorme prazer estar aqui, adoro falar com os estudantes. Eu acho que essa mesa é um pouco o retrato, nós somos diversos, nós somos colegas, gostamos uns dos outros e nós somos diversos, mas a gente está com grande convergência, eu acho que o próprio SUS inclui as pessoas de bem. Vou falar com a maior franqueza, eu acho que a gente tem que pensar mesmo o conhecimento, a formação, a educação, a ciência e a sociedade né. Então seguindo aqui meus colegas e tentando especificar bem, os sistemas universais não são sistemas pobres para pobres, os sistemas universais, eles têm uma característica para atender a coletividade e a sociedade. Isso, neste momento, é fundamental, por exemplo, quando a gente pega um avião; antigamente tinha duas classes, depois três, agora tem classes diferentes. A gente não pode ter um SUS que a aspirina é para todos, a vacina básica ela pega três, quatro classes, o medicamento para tratamento de câncer avançado só para a classe executiva, não é possível. Então o SUS, antes de tudo, é um sistema e hoje é tão importante isso, de solidariedade social, de uma visão humana coletiva, onde a gente convive nos mesmos espaços. Como foi importante para a minha formação ter estudado na escola pública, com pessoas com diferentes níveis de renda, com diferentes trajetórias, diversidade pura! E isso faz a gente não ter sociedades partidas, né. E o campo né, que eu sei que vocês esperam um pouco de mim né, eu não vou me furtar, o campo da ciência, tecnologia e inovação, hoje ele se mostrou absolutamente central. A gente não pode ter conhecimento e tecnologia para poucos, eu acho que tem uma questão que atravessa o campo todo, é como a gente cria produtos, tecnologias, formas de cuidado, de prevenção que atendam e que permitam que o SUS seja sustentável, que o sistema seja, do ponto de vista do padrão tecnológico, sustentável, e o desafio é enorme. Eu vou dar só um exemplo da vacina, para ficar no meu tempo, a gente tem uma aceleração do tempo; a vacina que tinha sido desenvolvida no menor tempo tinha sido em quatro anos, a de caxumba. Para COVID foi um ano! Olha o desafio que isso coloca, menos de um ano! O tempo se acelerou, e a globalização, desafortunadamente, aumentou a distância. O tempo se acelera e a distância aumenta. Então isso coloca uma responsabilidade para as instituições de ciência, tecnologia e inovação, para os estudantes que estão se formando aqui, de como que a gente casa o nosso ritmo e a nossa capacidade de conhecimento de ciência e tecnologia para viabilizar sistemas tão centrais para a vida e para a coletividade, como o Sistema Único de Saúde.

Márcia Castro - Muito obrigada, doutor Carlos. E agora, antes da gente falar diretamente sobre os anos futuros, eu queria pedir à professora Lígia e ao ministro Mandetta para refletir por quê que o SUS foi subaproveitado e continua sendo subaproveitado durante a pandemia. Eu queria começar com a professora Lígia, por favor.

Lígia Bahia - É, bem, essa é uma pergunta central também né, obrigada Márcia. É porque na realidade o SUS foi aprovado na Constituição de 1988, mas sempre houve divergências em relação ao SUS né, a implementação do SUS sempre foi uma implementação muito, nada linear né, muito, muito, muito difícil e ao longo do tempo, então, fica o SUS né, o SUS ficou, é muito difícil retroceder de um sistema de saúde universal, as experiências internacionais demonstram isso, ninguém. Se o sistema de saúde universal é aprovado, não há volta para trás, exatamente por isso que tanto preocupa, digamos assim, hoje esse debate nos Estados Unidos né, esse é um debate central. Porque não há retrocesso, então não há retrocesso né, entretanto quando o SUS foi aprovado havia muita divergência, né. Há editoriais do Estadão, da Folha de São Paulo chamando o Arouca de comunista, de vermelho, o Hesio Cordeiro de “o pior homem do universo”, enfim, então esse consenso que nós temos hoje não era o consenso que nós tínhamos em 1988 de jeito nenhum, né. Mas atualmente nós temos um consenso, todos amam o SUS, todos são a favor do SUS, mas de que SUS né? Certamente, se a gente for olhar assim, com um pouco mais profundidade, não é do SUS constitucional, né. É de um SUS para pobres, um SUS básico, entretanto não existe SUS básico né, não pode existir um sistema de saúde básico né, não é ensino fundamental. Não é direito a, digamos assim, cursar até o quinto ano da tal série né, é saúde ou não é saúde. Então, isso realmente tem sido uma tensão muito grande no Brasil e, ao longo do tempo, então vamos lá, se os componentes né, do sistema, a oferta de serviços. A gente hoje tem uma oferta de serviços predominantemente privada em áreas estratégicas, por exemplo, leitos de CTI, que foi o que a gente está vendo, até agora, as dificuldades. Na força de trabalho a gente tem uma confusão, as OS’s não resolveram, né. Nós temos uma OS no Brasil que o contrato é 57 mil pessoas, é uma big, é uma big, big empresa e não resolveu o problema que nós temos de formação não é, de profissionais de saúde e de inserção desses profissionais de saúde no mercado de trabalho. Informações né, que é um terceiro elemento muito importante do sistema de saúde também, a gente não conseguiu modernizar as informações no Brasil, sequer nós temos, digamos, uma coisa simples, aplicativo para a vacina, que até a Índia hoje está usando, não é. O Brasil está vacinando sem um aplicativo, veja, alguma coisa, assim, da idade da pedra né, do ponto de vista das informações. Em relação aos medicamentos, vacinas etc., acho que o Gadelha já começou falando sobre isso né, a gente tem um corte para a ciência e tecnologia né, corte para a ciência e tecnologia em plena pandemia, então não precisamos falar muito. Financiamento, acho que o Armínio já traçou, o padrão de financiamento é incompatível com o SUS né, a gente não tem um padrão de financiamento de sistema de saúde universal, a gente tem um padrão de financiamento de sistema orientado para o mercado, e do ponto de vista assim, da governança né, nós tivemos quatro ministros da saúde em plena pandemia né, vários secretários de saúde que foram trocados durante a pandemia. Então é evidente que a gente não tem continuidade administrativa, etc. Só queria finalizar dizendo o seguinte: no meu modo de ver, há um grande problema do SUS, para o SUS foi a imobilização da atenção básica, nós não tivemos testes, e portanto, o que era fundamental né, que era um bloqueio de segunda etapa, que a atenção básica poderia ter feito, detectando né, e separando casos sintomáticos né, dos não-sintomáticos, mais infectados, e portanto, assim promovendo o auto isolamento, etc., isso não ocorreu, porque a gente não tem testes, nós não tivemos testes ao longo desse tempo todo. Então, o que é mais capilarizado, o que é, digamos assim, uma fortaleza do SUS, ela ficou imobilizada, e eu acho que isso explica muito, né. O SUS, então, virou a parte hospitalar, a parte hospitalar do SUS sempre foi um problema não é, e o que era, digamos assim, o melhor do SUS ficou, digamos, inviabilizado, assim, não tinha barra de oxigênio nas unidades de atenção primária, não tinha oxímetro né, no início da pandemia, então tudo isso dificultou muito, e eu penso que isso a gente vai ter que resolver né, nós vamos ter que resolver isso rapidamente.

Márcia Castro - Obrigada professora. Ministro Mandetta, porque o SUS foi subutilizado, subaproveitado durante a pandemia?

Luiz Henrique Mandetta - Bom, esse vírus, ele veio para provocar o mundo. Ele não é um problema individual, ele é um problema da humanidade, e a primeira etapa, eu estava no ministério, ela foi caracterizada por um mundo desarticulado, em que não havia nenhum tipo de liderança sequer para se fazer um mínimo de organização para equipamentos de proteção individual. Eu lembro das nossas reuniões e o SUS estava muito forte, porque eu trouxe o CONASEMS e o CONASS para a bancada comigo na tomada de decisão. Era quase como se estivéssemos numa tripartite permanente ali dentro, eles conversavam em um dia, e a gente deliberava junto no outro dia. E a utilização da atenção primária era nossa grande fortaleza, era por ali que a gente queria fazer a porta de entrada com 340 mil agentes comunitários de saúde, 43.000 equipes, nós estávamos na época do recadastramento, porque essa cobertura no sistema dava 78 milhões de brasileiros e ela tinha que cobrir 140, então o sistema estava vivo com uma secretaria nacional de atenção primária, toda ela focada nesse trabalho. Mas sem máscara, sem equipamento de proteção individual, sem capote, como você vai colocar essas pessoas na situação de contato permanente? Então aquele momento que a gente estava iniciando esse processo, o nosso foco número uma era equipar para poder soltar. Depois a parte de capacitação, os agentes, eles foram escolhidos pela ótica de liderança comunitária, mas sofreram nesses anos todos a não-capacitação para um nível de intervenção numa doença infecciosa que causa receio a eles mesmos pelo seu não-preparo para este tipo de abordagem. Então a gente já começou naquela época a capacitação específica para essa força de trabalho e a única alternativa que vimos como possível naquele momento foi transformar o 136, que era o grande tronco do Ministério da Saúde, e utilizar o máximo a tele para comunicar a atenção básica, comunicar às secretarias, comunicar as prefeituras para testarem na ponta, para poderem fazer as suas estratégias de bloqueio. Era muito difícil, você ter aquela fortaleza, olhá-la, saber que você tinha que utilizá-la e você não ter os meios para, por conta de uma série de problemas, mas naquele momento basicamente, por um colapso desse modelo de compra do mundo inteiro centralizada dentro da China, que precisa ser revisto, eu tenho discutido aí várias, várias mesas sobre o regulamento sanitário internacional, aquele modelo quando ele fechou ele deixou um colapso, um buraco no mundo, era os Estados Unidos entrando na China com seus super aviões, levando tudo para lá, a guerra das máscaras, a Itália sem material para trabalhar, as enfermeiras da Inglaterra com saco de lixo na cabeça, aquele era o comum. Eu conversava muito com a Inglaterra e eles também tinham dificuldade de acionar atenção primária deles, o Canadá também tinha dificuldade pelo mesmo motivo. Então não tem uma coisa isolada. A partir do momento que se abasteceu, aí sim a gente iria vir com esse nosso pessoal. E tendo a vacina, vacinar o pessoal da saúde hoje, que está vacinado, era para hora da gente estar em pleno emprego hoje, em total utilização da força, já que você tem na força de trabalho um dos pilares do enfrentamento dessa doença. Eu acho assim, como você perguntou muito especificamente da utilização, da potencialidade do SUS na pandemia, chama os olhos de todo mundo a atenção primária como porta de entrada que seria a nossa maior fortaleza, mas essa fortaleza, na época sem sequer uma máscara, depois dos equipamentos todos, os oxímetros, o oxigênio para fazer alguma coisa domiciliar, a equipe multidisciplinar para entrar com uma fisioterapia respiratória, a questão até do SUS como um aparato de tomada de decisão de auxílios sociais, o nosso plano de enfrentamento nas áreas de exclusão social nas favelas, ele era muito ousado, partiria do Rio de Janeiro, não foi possível ter sido colocado também por esses motivos, e também pela interrupção do trabalho. Mas vejo ali o que poderia ter sido o grande diferencial, como foi na cólera, como foi na HIV, como foi em vários episódios que essa atenção primária foi a porta de entrada, ali eu acho que foi a grande dificuldade que a gente teve naquele primeiro momento.

Márcia Castro - Obrigada. Eu acho que a gente vai continuar colhendo os frutos da atenção primária ter sido interrompida por algum do tempo, né. Os resultados já estão começando a aparecer, isso não, isso tem uma consequência que é de longo prazo na verdade. Bom, então agora eu queria começar essa reflexão sobre os próximos anos e aí essa pergunta vai ser para todos vocês, novamente vocês estão fazendo um trabalho ótimo, se mantendo no tempo, vamos continuar desse jeito para ser bem rico. Então a ideia agora é, tendo em vista essa capilaridade e a abrangência das atividades do SUS né, que se forem potencializadas pode ser algo fantástico, o quê que vocês veem como o foco do Sistema Único de Saúde nos próximos anos, tendo como pano de fundo o legado da pandemia? Então deixa eu ver, vou começar com doutor Carlos Gadelha.

Carlos Gadelha - Bom, eu queria demarcar, até para poder chegar na resposta né, a Fiocruz há 20 anos, ela, eu estive no Congresso falando isso né, a gente alertava essa agenda ciência, tecnologia e inovação da produção e suporte ao SUS ela é uma agenda do SUS. Ela não é outra coisa, esses mundos são interdependentes. Tudo que o ministro Mandetta falou agora, ao mesmo tempo é produto Industrial, é tecnologia, é ciência, eu não faço atenção básica sem máscara, eu não faço atenção básica do futuro sem inteligência artificial e big data, e os dados são muito preocupantes né, hoje 88 por cento das patentes estão apenas em dez países em saúde, a concentração na inteligência artificial, a atenção básica do futuro, uma vigilância genômica inteligente, não se faz sem conhecimento, sem inteligência artificial, big data voltado para a realidade de sua população, e ao mesmo tempo com cuidado, com carinho, com atenção, com soro caseiro, com instrução, como as pessoas devem se proteger. Então uma questão essencial, uma questão essencial, eu vou dizer que é, tem uma professora um ícone da saúde pública, Cecília Minayo, que fala: a ciência e tecnologia não é a cereja do bolo do SUS, ela é o bolo”. Não se faz mais SUS, não se faz mais atenção universal sem conhecimento, até para consumir menos produtos. Por exemplo, a política mais bem-sucedida para o câncer no Brasil foi baseada em conhecimento científico, que o cigarro faz mal à saúde, e se consumiu menos produtos para câncer. Por isso que eu digo, não, não, essa visão da tecnologia e da indústria, não pode ser mais medicamento, aquele padrão horroroso, que é mais hambúrguer, mais câncer e mais medicamento, não dá! É o próprio padrão tecnológico, e aí eu acho que atenção básica é isso, se coloca, é dramático mesmo a situação e nenhuma visão fechada, velha de sistema produtivo. Mas nós não podemos ter uma dependência de insumo farmacêutico ativo de 90 por cento, o maior sistema universal do mundo! O mercado brasileiro interfere no mercado global. EPI alguns 90 por cento de dependente de formação para proteger o profissional de saúde. O Macron falou recentemente que não era razoável um país não ter capacidade mínima para o cuidado das suas pessoas, né. Então eu acho que essa, essa, esse desafio da gente colocar o SUS e a saúde como área central e uma estratégia de ciência, tecnologia e inovação e, por que não dizer, de desenvolvimento, reduzindo as assimetrias globais, ela é absolutamente vital, e não reduzindo a assimetria pela proibição, mas reduzir a assimetria pela cooperação, pela parceria e pelo suporte de estado ao SUS e ao conhecimento. E à ciência.

Márcia Castro - Obrigada, doutor Carlos Gadelha. Doutor Armínio.

Armínio Fraga - Oi, obrigado. Eu vou tentar ser complementar. Eu sou o mais novo no grupo aqui no campo da saúde, não me considero ainda capaz de ir muito fundo. Mas algo que me chamou atenção também, além dos números que eu mencionei na minha primeira intervenção, foi uma espécie de estado geral de sítio, um setor entrincheirado. Eu acho que isso precisa ser repensado, porque no que diz respeito ao SUS, eu vi assim, caricaturando um pouco, de um lado um grupo dizendo “não, olha, o problema não é dinheiro, é gestão” e do outro lado o outro grupo dizendo “não, não dá, mostrando os números que eu mostrei, isso aqui não está certo”. Claramente o SUS não é uma prioridade nossa, de país porque os nossos representantes tomaram a decisão consciente, ou não, de deixar esse buraco lá. E hoje eu enxergo tanto aqueles que querem mais tecnologia, mais gestão, mais informação, mais uso de dados, mais integração, não só na fronteira da tecnologia, mas nas coisas mais básicas, cadastros, capacidade de identificar as pessoas, o que vale aliás para toda a política social brasileira, isso não é só para a política de saúde, é algo que precisava ser mais integrado, acho que a Márcia tem feito esse ponto em aparições públicas, eu acho que é muito importante, mas eu vejo, assim, espaço para avançar nas duas frentes, quer dizer, é preciso mais dinheiro, é preciso mais gestão, e eu acho que o foco tem que ser em resultado, assim não há por que não ter focos múltiplos em paralelo num governo que tem três esferas, vários níveis, com certeza atenção básica, tecnologia, informação, a relação público-privada, e assim por diante. Mas em última instância, acho que o foco maior tinha que ser em entender o quê que está acontecendo, quais são os resultados, onde estão as carências e por quê que elas não estão sendo resolvidas, em última instância. Aí eu acho que isso é uma falha, em última instância, nossa, política, nós enquanto nação não temos prioridades definidas e as coisas vão acontecendo e os buracos vão aumentando.

Márcia Castro – Obrigada, doutor Armínio. Ministro Mandetta.

Luiz Henrique Mandetta -  Nós ousamos em colocar na Constituição um conceito de seguridade social ampliado, onde você tem saúde como conceito de seguridade junto com a assistência social, junto com previdência, junto com família, é um conceito constitucional colocado, e a gente vê as áreas de sobreposição, eu vejo áreas assim de tomadas de esforços que deveriam ser comuns a essa área, sendo feita por ilhas que não dialogam; isso o SUS do futuro, isso a próxima caminhada, o nosso observatório, o tamanho do sistema de saúde como elemento decisório destas políticas de seguridade social que têm, por força constitucional, que serem feitas nesse conceito extremamente ampliado. O século 21 vai ser fantástico para se viver, a tecnologia ela veio para ajudar muito o SUS, para baratear, para colocar o especialista em áreas de difícil provimento, de dar suporte a essa geração nova que vem para dentro do sistema de saúde com uma formação mais frágil e ela pode ser tanto de atendimento como de capacitação, ou projeto de genômica para o Brasil, que foi assinado junto com a Inglaterra para se colocar 150 mil brasileiros dentro de um banco de dados genético, que vai ser a grande tomada de decisões para tratamentos para o câncer, para a atenção primária, vai mudar a maneira como a gente tem saúde, ela desafia esses estudantes que estão aqui hoje a pensar nessa revolução pós-industrial, da informação, da gestão do dado, da qualidade, dos big datas, da Inovação de tecnologia que venha para somar com um conceito primeiro de cuidado pessoal e intransferível, desse pessoal de saúde, mas dando uma escala muito maior de possibilidades de aproveitamento de tecnologia. Quando eu vejo numa reunião dessa, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, falando de SUS, falando do seu olhar, que entrou para dentro dessa política de analisar as possibilidades transformadoras e olhar o SUS como uma possibilidade econômica para o país, de geração de divisa, de geração de renda, de captação de recursos interacionais, e o multilateralismo que está na pauta e voltando, e o SUS sempre sentou às mesas multilaterais, de uma maneira muito digna, muito forte, eu estive no G20 em Osaka, era o ministro da saúde e ministros da economia para tomada de decisão de cobertura universal em saúde, acesso universal em saúde, ou seja, as 20 maiores economias do mundo já enxergaram saúde como uma necessidade para essa nave chamada Terra. Então o tema da ONU desse ano é um recomeço, um grande recomeço, é a releitura, então todas as nossas certezas devem ser colocadas sobre prova e essa elasticidade de pensamento que vai ser refletida. Eu sou, eu acredito muito no potencial do ser humano na sua capacidade de, nas crises, saírem, acho que, o que a gente ia fazer em 20, 25 anos, aí o investimento é tão agudo que dessa crise teremos novidades boas, essa tecnologia da vacina com RNA, será que não está aí a saída para a dengue, será que não está aí a saída para a malária? O quê que vem pela frente? A discussão da vacina como um bem público global, que o “Brasilzinho” aqui, eu lá nos Estados Unidos na OPAS consegui colocar e está na agenda da ONU agora, da Organização Mundial da Saúde para ser discutido como dar escala em tempos de discussão de patente; eu quebro a patente e dou um tiro no pé, ou faço um share mundial de aumento de transferência de tecnologia para vacinar 80 por cento dos oito bilhões de pessoas do mundo? Já que a solução, engana-se os Estados Unidos se ele, vacinando o seu país, acabou o problema. A cepa mutante pode estar no Laos, na Nigéria, pode estar aqui em Campo Grande, onde eu estou, então as lideranças mundiais, elas precisam ser impregnados do conceito brasileiro de seguridade social ampliada, e esse é o futuro que a humanidade vai fazer, assim como vai ser no clima, assim como vai ser na sustentabilidade,  meio ambiente, assim como vai ser no direito universal de acesso à educação, e vai ter que ser uma força convergente, e eu acho que o futuro passa por isso; por nós, simplesmente, olharmos à nossa Constituição e falarmos “olha, o conceito é muito mais amplo, vamos parar de sobrepor, vamos utilizar os nossos recursos, sabendo que somos um país em desenvolvimento e que pode muito mais com os recursos que tem, chegar num resultado muito melhor”. Acho que o SUS está maduro e pronto para receber vários olhares, desde que os olhares todos sejam convergentes com os valores que a Lígia chamou no início.

Márcia Castro - Obrigada, ministro. Eu só espero que os líderes internacionais também sejam contagiados pela solidariedade né, porque eu acho que a gente precisa começar a discutir a geopolítica do descobrimento científico, a geopolítica da disseminação, porque o sul da Terra está precisando de vacina e vai ser o último a receber. Então eu espero que eles também sejam contagiados por a gente, aliás, a gente está precisando de um vírus chamado solidariedade, que se espalhe mais rápido do que o Sar-Cov-2. Desculpa sair do meu papel de moderadora, mas não deu para não falar. Professora Lígia.

Luiz Henrique Mandetta - Perfeito!

Lígia Bahia - Eu também concordo, acho que o foco está na finalidade, agora, qual é a finalidade? Digamos que a finalidade do Brasil seja que a gente consiga aumentar a esperança de vida, né. É claro, os Estados Unidos, por exemplo, perderam meses de esperança de vida na epidemia do opiáceo. Então isso aí resolve né, qual é a política? A política é resolver a epidemia do opiáceo. Nós perdemos anos de vida, onde? Na política em massa do encarceramento, na proibição do aborto, no racismo estrutural da sociedade brasileira, e aí tem que quebrar ovo para fazer omelete, né. Veja, aí é o seguinte: a saúde pública é essa área, é essa área que consegue compreender, explicitar, evidenciar, quais são as determinações sociais da saúde, mas nem todos estão de acordo, né. Por exemplo, nós estamos de acordo que todo brasileiro tem que ter seis armas, ou nós estamos de acordo que não é possível mais que a gente use a política de encarceramento como política social, como política de segregação social, né. A gente aumentou a população carcerária em 10 vezes, a gente aumentou o número de homicídios no Brasil em 7 vezes, em menos de 10 anos, então quais são as políticas que permitem que a gente ganhe anos de vida, com qualidade de vida? Essa é uma finalidade da saúde, a finalidade da saúde tem que ser mais saúde. Isso não é uma tautologia, não é. E as políticas, elas têm que ser compatíveis com isso, veja, não importa muito se a gente é contra ou a favor do aborto, etc. Isso é uma questão de saúde pública! Não é? O armamento é uma questão de saúde pública, as mudanças climáticas são questões de saúde pública. Nós temos que ser contra, não é? Nós temos que ser a favor de uma política de descartar a polarização. E além disso tudo, se nós somos a favor das finalidades né, se nós queremos aumentar a esperança de vida dos brasileiros, nós precisamos ter um financiamento compatível com isso, uma força de trabalho compatível com isso, etc., adequada a essas finalidades. Agora, se a gente não debate isso, tudo fica como se fosse muito consensual e fosse resolvido pela vacina. Vacina não resolve desigualdade, não é? Não resolve desigualdade. Se nós não diminuirmos as desigualdades do Brasil, não tem jeito, não tem jeito! Essas evidências sobre a Covid-19, elas são muito dolorosas, elas são muito dramáticas, quem morreu, quem não morreu, quem teve cuidado e quem não teve cuidado, isso está na nossa, gente, a criança, o Miguel que morreu, o Miguel que morreu em Recife é um retrato da sociedade brasileira, de uma empregada que teve que levar a criança para trabalhar porque a escola estava fechada. A patroa, por sua vez, tinha uma atividade, que era uma atividade, digamos assim, de embelezamento, o menino morreu! O Henry, não é, eu acho que a pronúncia é “Enrrí”, não é “Ênrri”, ele morre, ele morre de pandemia, é uma estrutura social, cujo padrasto é médico, chama-se Doutor Jairinho, olha que fofo! É doutor não é, que assim, nenhum de nós aqui se chama de doutor, e Jairinho, que é muito bonitinho né, ele é filhinho, ele é filhinho, ele é filhinho de alguém. Então, se a gente não reforma a polícia, se a gente não é contra as milícias, a gente não vai obter melhores condições de saúde, então essas finalidades, elas precisam ser debatidas e elas não são consensuais, não é? De jeito nenhum, pelo contrário, a gente tem hoje aprovação de duas leis lá, no nosso congresso nacional, não é? Uma lei a favor da vacina privada, e uma lei a favor dos leitos privados. Então os nossos representantes legislativos estão contra o SUS nesse momento, nesse momento o qual o Brasil se torna o epicentro da pandemia, o pária internacional, etc. né. E só para finalizar Márcia, eu concordo plenamente com você, né. Aquele mapa que a gente tinha no começo da pandemia, que botava em vermelho os Estados Unidos né, com grande número de mortes, o Reino Unido com grande número de mortes, Bélgica, etc., ele não muda com a vacina, né. Então na realidade, veja, havia um certo, assim, um certo espalhamento da pandemia, mas quando chega na hora então de ter uma estratégia de resolução não é, de tentativa de controle dessa pandemia, o mapa volta a mostrar aquele horror das desigualdades norte-sul né, e das desigualdades entre a Europa e a Ásia, etc., etc. Então eu acho que, de fato, a gente precisa também falar sobre isso. Mas o que eu queria acentuar é isso, eu gostaria muito que a gente divergisse, que a gente não só, não só acentuasse as nossas convergências, por quê? Veja, a gente está no mesmo campo não é, nós estamos falando de saúde, todo dia é dia para se falar de saúde, mas é para falar seriamente sobre saúde, não é? A saúde não pode ser uma retórica política só, né. É preciso que ela tenha consequências concretas, políticas concretas, não é possível a gente ser a favor do armamento, por exemplo, não é? Falando sobre saúde, nem é possível que a gente seja a favor do racismo, falando sobre saúde né? Então.

Márcia Castro - Professora Lígia, muito obrigada porque eu acho que a sua fala deixou bem claro que a gente não pode dividir questões sociais em caixas, né. A gente não pode separar economia da saúde, está tudo ligado. O racismo está relacionado à saúde, o clima está relacionado à saúde, a gente precisa, para sair dessa pandemia, a gente precisa trazer as ciências sociais, e aqui fica a dica para os alunos que estão assistindo a gente, vocês querem trabalhar em saúde pública? Não, não chega à epidemiologia e também não basta ser só médico, vocês têm que entender as origens vocês têm que ler história, vocês têm que entender o contexto. E aí precisa, sim, da economia, da demografia, da sociologia, da antropologia. Sem isso, você vai achar que você está resolvendo alguma coisa, mas não está. Esse olhar é absolutamente fundamental, obrigada professora Lígia por ter levantado isso. E agora eu tenho uma pergunta fácil para o Armínio, né. A gente tem todas essas demandas, a gente precisa fortalecer o SUS, como é que a gente vai financiar o SUS no futuro, Armínio?

Doutor Armínio Fraga - Nós estamos falando aqui de uma situação muito estranha, como eu comentei na abertura. O gasto público no Brasil vem subindo praticamente há 30 anos, e, no entanto, o SUS se mantém nesses níveis insuficientes. Então é uma questão de falta de prioridade, em última instância. Os espaços que existem são bastante importantes, assim como são também as demandas por recursos, o Brasil é um país cheio de carências. Eu acho que é preciso que se pense o conjunto, foi feito agora aqui um manifesto, que eu assino embaixo, que nós precisamos unir disciplinas, olhares e sem isso nós não vamos a lugar algum. Eu falo como um economista que tende a se isolar, eu acho que a minha tribo está cada dia entendendo mais a importância de entender o pano de fundo político social das coisas. Agora, no que diz respeito à saúde e ao orçamento, sim eu hoje vejo alguns espaços para se trabalhar, são carências que incluem outros ângulos da política social também. Não vou cobrir aqui, que isso hoje, não cabe no nosso tempo, mas o básico ao meu ver, assim, primeiro; o Brasil, a carga tributária e o gasto público subiu muito ao longo dos anos, mas o investimento público no Brasil colapsou, e o orçamento da saúde nunca foi prioridade compatível com o que está na constituição. Então, essas são as contradições. O Brasil é um país de renda média, tem uma carga tributária relativamente elevada, mas tem um sistema tributário que é ele próprio uma fonte enorme de desigualdade e é em espaço, portanto, que pode e deve ser explorado, tanto no Imposto de Renda, no número absurdo de subsídios que nós temos, ali tem muito espaço para se trabalhar. Depois, do lado do gasto, o Brasil tem 80 por cento do gasto público indo para a folha de salários e previdência, está. A esmagadora maioria dos países de renda média gasta 60 por cento ou menos nessas contas, então acho que ali tem um espaço para se pesquisar. Então resumindo, eu acho que as coisas vão ter que incluir um olhar mais amplo sobre o orçamento, que dê transparência a essas verdadeiras aberrações que são as alocações para certas áreas, dentre elas, o grande destaque, ao meu ver, a saúde pública. Eu acho que é por aí, é uma questão bem complicada, porque tudo que está no orçamento tem dono, e esse é um problema de um país que tem uma política pulverizada, onde partidos não apresentam definições claras programáticas e até ideológicas, onde questões importantes são canceladas, são abafadas, e eu não sei sinceramente muito o que fazer, eu acho que a saída em última instância vai ter que vir pela política, eu acho que o nosso papel é só mostrar para os nossos representantes “Olha, isso aqui está torto, isso aqui está errado, vamos pensar de onde é que a coisa pode sair”. OK, dá para aumentar um pouco a carga tributária?  Dá, eu acho que dá, outros acham que não, vamos discutir esse assunto, vamos fazer o quê com o dinheiro? Também, idem. Então assim, de onde vem o dinheiro? Em última instância ele vem do orçamento, e o orçamento tem essas características que eu mencionei, que são insustentáveis, totalmente insustentáveis. Então assim, é por aí, eu acho que nós temos que buscar uma resposta política em última instância, uma resposta política bem informada, é a esperança que eu tenho para o nosso futuro, que essas coisas gritem e provoquem respostas nas linhas do que vem sendo apresentado aqui.

Márcia Castro – Obrigada, doutor Armínio. Bom, agora eu queria falar um pouquinho mais, queria que a gente conversasse mais sobre essa questão da tecnologia, e aí, doutor Gadelha, eu queria que o senhor falasse um pouco sobre, sobre toda essa questão de investimento em tecnologia e ciência, e aí um pouco sobre o papel que elas têm no fortalecimento do futuro do SUS, mas também que o senhor falasse um pouquinho sobre as oportunidades e talvez o que a gente ainda não tem, ou seja, os espaços vazios que a gente precisa preencher no Brasil para poder ajudar nesse avanço tecnológico.

Carlos Gadelha - Márcia, primeiro, depois da sua fala sobre a diferença norte-sul, e sobre a geopolítica da saúde, que o é tema meu de trabalho a vida toda né, primeiro não dá para falar do tema sem emoção, né. Eu vou chegar na ciência e tecnologia, mas eu quero dizer o seguinte: há uma hipocrisia com relação à Agenda 2030. A agenda 2030 não é só Amazônia, ela é central, mas o lema principal da agenda 2030 é não deixar ninguém para trás. A gente tem hoje países que têm quinze por cento da população que compraram 65 por cento das vacinas. Isso é inaceitável! Há uma negação da agenda 2030, que talvez a referência mais meritória de um sistema global, que se volte para as pessoas e para o planeta né, então acho que isso é muito importante. E aí conversando com os estudantes aqui, eu acho que cabe né. Eu era um economista Industrial clássico, fui formado para aquilo, estudava biotecnologia né, biotecnologia, e a Fiocruz foi meu campo, o campo para a saúde. Eu fui completamente tomado pela área social, porque a gente vê a tecnologia, o conhecimento a serviço das pessoas, eu comecei a pensar em hanseníase, malária, vacina para diarreia infantil, então também dizer para as pessoas assim, inclusive o campo social, ele gera salário, ele gera renda, ele gera inclusão, não pode um país ficar condenado a extrair minério e derrubar a árvore, e a gente não poder desenvolver com base na ciência e tecnologia para o futuro. Então existe uma geopolítica do conhecimento muito perversa e a gente tem que pensar isso. Eu sou do Conselho do FNDCT, representando a SBPC, é, 93 por cento dos recursos para a ciência foram contingenciados no meio da pandemia, gente! Isso não é, isso não é minimamente razoável, numa pandemia que mostrou o valor o valor da ciência, e aí para chegar em algo bem concreto, só para, né, eu acho que têm duas áreas essenciais da gente avançar na ciência e tecnologia; uma nova vigilância epidemiológica, usando a genômica, a informação populacional, que a gente chegue antes da doença! E a Covid-19 mostra isso, eu não sou médico, mas eu sou um profissional de saúde, eu não sou apenas um economista, né. Eu queria dizer, você sabe, a Covid-19 mostra a diferença entre pessoas, as variantes que estão surgindo, a gente precisa chegar antes, isso é fundamental. E outra coisa que a gente vem avançando muito na proposição é uma saúde pública de precisão, e tem tudo a ver com isso, não é apenas a medicina personalizada, mas como que a gente faz uma saúde pública que trate a diversidade com equidade. Isso eu acho que é muito importante. Eu coloco esses grandes desafios e acho que é possível a gente pensar um padrão científico vinculado ao social, dando assim um estímulo para os estudantes pensarem isso também nos seus projetos de teses, seus projetos de estudo, e nas suas atividades para futuro. Vale a pena e é muito gratificante a gente se comprometer com a sociedade que a gente vive.

Márcia Castro - Muito obrigada, doutor Gadelha, quem dera o mundo tivesse uma rede integrada, integrada mesmo, norte-sul, de vigilância genômica, que a gente possa identificar patógenos antes deles criarem um problema, acho que esse é o sonho de consumo de todo mundo que trabalha com saúde pública. Bom, então o que eu queria fazer agora é dar para vocês um minuto, ó o desafio hein gente, um minuto, minuto e meio no máximo, para uma reflexão final. Lembrando que a maioria do nosso público são o futuro do Brasil, são os estudantes que vão ser os futuros cientistas, os futuros tomadores de decisão. Então eu vou começar com a minha querida professora Lígia.

Lígia Bahia - É, então, para os nossos estudantes, né. O ser humano é frágil, o ser humano é mortal né, não há tecnologia por enquanto que dê jeito nisso, né. Então, portanto, nós precisamos ter sistemas de saúde, políticas de saúde, porque exatamente todas essas políticas nos ajudam a viver mais e melhor, não é? Então venham para o sistema de saúde, o sistema de saúde será um grande empregador, será sempre, todo dia vai ter debate sobre saúde, saúde é prioridade, então por favor fiquem conosco, não é? A ideia que não haverá doença né, é uma ideia por exemplo que prevaleceu muito no início da Revolução Russa né, se achava que, com o fim do capitalismo, haveria o fim da doença, então tinha um comissariado né, comissariado de saúde do povo, etc., etc. É muito interessante essa história, recuperar essa história né, mas não né. Não. O que a gente tem é uma humanidade que é humana né, somos demasiadamente humanos porque somos demasiadamente frágeis, conectados com a natureza e tal. Então essa é uma reflexão, não é? A reflexão é que, como somos demasiadamente humanos, também somos demasiadamente sociais, e as resoluções de qualquer problema social elas são resoluções também sociais, então não só fiquem conosco, mas vamos para a política né, para a boa política. Tem agora a CPI da pandemia, a gente precisa subsidiar muito essa CPI da pandemia, precisamos que essa CPI da pandemia tenha resultados, que a gente saia dessa pandemia com uma perspectiva de fortalecimento do SUS, não é só a denúncia, nós precisamos transformar todos esse processo de destruição num processo de construção. Então vamos nessa, vamos juntos né, vamos juntos, somos humanos, somos mortais e, por isso, precisamos nos organizar, precisamos construir, precisamos participar.

Márcia Castro -  Obrigada Professora Lígia. Armínio.

Armínio Fraga - É quase impossível falar depois da Lígia, mas vamos lá. Eu podia só dizer “Ligia, pega meu minuto aí e um pouco mais”. Assim, eu realmente acho que, falando para os estudantes sobretudo, que nós temos que tomar as rédeas do nosso futuro e vocês têm que seguir nessa linha de engajamento, seja direto no setor público, na política, mesmo na iniciativa privada aqui. Está em curso uma mudança de mentalidade, hoje nós estamos diante de um desafio colossal aqui no curto prazo da pandemia, mas o outro, a médio prazo é existencial, de mudança climática e eu acho que nós temos que cair na real, é disso que se trata, em última instância, o tema. Nós estamos falando aqui para alunos de Harvard, depois nós temos aí deputada Tábata Amaral, o Renan Ferreirinha aqui no Rio, sigam esse caminho, e se vocês forem seguir um outro caminho, fiquem perto, discutam os assuntos, procurem se informar, porque eu acho que é daí que vem a solução. No momento, nós estamos numa fase de sobrevivência, de resistência, mas eu acho que dá para também apostar no futuro, plantar umas sementes, se preparar, janelas de oportunidade vão se abrir. Vamos estar prontos! Não vamos perder as chances! Elas aparecem e desaparecem, então é isso, é engajar, apostar no futuro, nós somos frágeis sim, mas olha, enquanto nós estamos por aqui, vamos tentar né, acho que é isso. Vamos insistir.

Márcia Castro -  Obrigada, Armínio. Carlos.

Carlos Gadelha - Gente, a mensagem maior que eu queria dar aqui é: saúde é desenvolvimento. Ele incorpora as três vertentes do desenvolvimento sustentável, de desenvolvimento social, no desenvolvimento econômico e ela é desenvolvimento ambiental, você não tem saúde sem um meio ambiente favorável, né. Só para dar o exemplo do nosso país, um dado que eu cito muito, eu vejo, tudo que vem como problema, eu vejo como oportunidade. A saúde mobiliza 9 por cento do PIB, tem que aumentar a dimensão pública do financiamento, como Armínio falou, mas ela é um grande sistema, gera 8 milhões de empregos diretos, se eu pegar emprego direto e indireto chega a 20 milhões de empregos. Saúde é a solução para sair da crise, era hora de investir mais na saúde, que gera crescimento, que gera um terço da ciência brasileira está no campo da saúde, permitindo gerar inovação né, então isso coloca na verdade, um desafio imenso. E aí eu queria fazer um estímulo da transdisciplinaridade, a gente trabalhar com o problema, conversar com o pessoal da área econômica, social, a gente não pode ficar nas nossas caixinhas, a gente tem que pensar um novo padrão. E aí eu, só para fechar aqui, eu digo, um pensador da saúde coletiva que usava essa frase, eu gosto muito: vamos pensar não apenas nos pares, vamos pensar também nos ímpares, que não estão aqui com a gente dentro da nossa caixinha, e os ímpares, no caso, é aumentar o nosso diálogo com as demandas da nossa sociedade. A saúde permite isso e eu estimulo muito, venham para essa agenda, ela é maravilhosa e necessária para o futuro do Brasil e do planeta.

Márcia Castro -  Obrigada Carlos. Ministro.

Luiz Henrique Mandetta - Há grande chance. Se o Eric Hobsbawm escreveu “O Breve Século 20”, partindo ali da primeira guerra mundial, da crise da Bolsa de Nova York e terminou com a viagem à lua, o século 21 começa, o ponto fulcral que vai estar em todos os livros de história da humanidade vai ser a pandemia. Como que o mundo lidou com esse desafio, que não é individual, o vírus não ataca o indivíduo, ele ataca os valores, ataca a sociedade, ataca a educação, o esporte, a cultura, a economia, e olha para a saúde fala: decifra-me ou devoro-te. Todos nós precisamos nos desarmar dos conceitos, modernizar, atualizar, quem planejou alguma coisa antes da pandemia com as suas certezas dos seus mundinhos, dos seus castelos quebra a cara agora porque as suas certezas e os seus castelos foram demolidos, e agora precisa se reinventar e é uma chance para todo mundo resetar, começar, recomeçar, repensar, reafirmar. O mundo agora não deixa definitivamente a era do eu ou do ele, de apontar o dedo, agora somos nós. Agora, como você vai se colocar nessa história, como você vai deixar a sua impressão de colaboração para o mundo? Em tecnologia, em estudo, você está em Harvard, eu estive aí, fiz um curso aí em Harvard, estive em Atlanta, optei de voltar para cá, porque fisicamente era importante. Agora você que está aí, você pode estar em qualquer lugar do mundo e você está conectado aos problemas sociais do Brasil, mas se preocupe também com da África, com o da Ásia, e de fazer um mundo melhor, de fazer uma virada maior. Eu sou muito otimista que o breve Século XXI começou, agora, mas que a gente não vai levar até o final do século XXI para entender que a chance está dada para todo mundo, as cartas estão todas à mesa. Desarmem seus espíritos, não se deixem prisioneiros de nenhuma ideologia que o sufoque, de qualquer certeza que seja absoluta. Desarme. Venham. Dialoguem, que com um diálogo bem horizontal, plural, a gente vai sair melhor, maior, não só como pessoa, mas também como grandes sistemas de saúde, sistemas de enfrentamento à questão climática, de enfrentamento ao racismo estrutural que existe na humanidade, de enfrentamento das desigualdades, e isso tudo gerado com uma política que saiba fazer com que esse resultado seja medido, que tenha métrica, para a gente saber o papel da gente nesse século XXI. Obrigado aí pela comissão organizadora, pelo convite, obrigado Márcia.

Márcia Castro - Obrigada, eu queria agradecer a cada um de vocês por dedicar uma horinha deste sábado conosco, para dividir o conhecimento com os nossos alunos, mas também servir como uma fonte de inspiração. Eu espero que os alunos usem essa discussão, e se lembrem que é importante conhecer o Brasil, é importante ler história, por favor leiam a história, conheçam como que a gente chegou até aqui, porque muitos dos problemas que a gente está vendo aqui as raízes estão na história, entendam o Brasil e lembrem-se sempre de Guimarães Rosa: o que a vida quer da gente é coragem. Que cada um de nós aqui que está trabalhando em pesquisa, que está gerando ciência, gerando conhecimento, que cada pessoa que está desde o começo do ano passado trabalhando na linha de frente e que cada um de vocês, alunos que estão começando agora, não se desanimem em frente às dificuldades, mas que tenham coragem para seguir adiante, e que cada um de nós continue tendo a coragem para fazer ciência de alta qualidade, levantar a voz da ciência, mais do que nunca a gente precisa disso. Bom dia a todos vocês e um bom final de evento. Obrigada.




Expediente

 Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editor de Política Eduardo Kattah / Editores Assistentes Mariana Caetano e Vitor Marques / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo e William Mariotto / Designer Multimídia Bruno Ponceano, Dennis Fidalgo, Lucas Almeida, Vitor Fontes e Maria Cláudia Correia / Edição de texto Fernanda Yoneya, Valmar Hupsel e Mariana Caetano

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