O poder de escolha dos fãs e a necessidade de mais visibilidade para os artistas negros no país foram alguns dos assuntos do painel Tecnologia, Cultura e Futuro da 7ª da Brazil Conference Harvard & MIT
O painel “Tecnologia, Cultura e Futuro: como facilitar avanços na indústria cultural brasileira” realizada pela 7ª Brazil Conference at Harvard & MIT, em 11 de abril, com transmissão ao vivo pela internet, a programação pode ser acompanhada pelo portal do Estadão, parceiro que fará a cobertura do evento, além dos canais da conferência no Youtube e Facebook, a qualquer tempo
O debate contou com a participação da cantora e compositora, Ludmilla, músico e sócio fundador do Laboratório Fantasma, Fióti, da produtora executiva da Boogie Naipe, Eliane Dias, da diretora de Insights e Analytics na Discovery Brasil, Mariana Abreu, com mediação feita por Éliton Nascimento, gerente de Relacionamento com Artistas e Gravadoras do Spotify Brasil, parceira do evento.
Os convidados debateram sobre a necessidade da construção de espaços seguros para a realização da narrativa do povo negro na sociedade, no meio cultural e musical. Refletiram sobre como utilizar a tecnologia, em especial no streaming, para que haja mais visibilidade à música negra brasileira. Os artistas relembraram a participação na Blackout Tuesday realizada no ano passado em protesto pelo assassinato de George Floyd e violência contra os negros. “O time do Spotify parou durante as 24 horas”, relembrou Éliton Nascimento.
Para Fióti, o setor privado precisa ir além da consciência sobre a inclusão e diversidade. “Essa solidariedade que a gente vê dentro das periferias, da sociedade civil, precisa invadir urgentemente os ambientes corporativos, institucionais e os espaços de poder com uma velocidade mais rápida.”
Sobre a urgência da ascensão dos negros na tomada de poder de decisões sobre sua música, a cantora Ludmilla que controla a própria carreira defendeu que, assim como ela, os artistas tenham espaço nas decisões de poder. “É muito importante começar a ter lugar para a gente preta assinando papéis importantes, isso faz muita diferença.”
Eliane Dias acrescenta que é preciso ter cada vez mais espaço para o povo negro também na produção de cultura. “Eu gostaria muito que o Spotify e seus managers olhassem para as startups pretas, há muita gente preta qualificada trabalhando com cultura digital.”
A popularização da música no streaming – que tem base de dados sobre acessos – mostra o sucesso do funk e do rap brasileiros que estão no topo da parada, indica análise de Mariana Abreu. “O país tem uma dívida histórica, acho que o Spotify, nessa função de maior player do Brasil poderia priorizar e impulsionar mais os artistas negros nas sugestões, nos seus destaques”, sugeriu.
Éliton Nascimento - Líder do Painel Tecnologia, Cultura e Futuro - Olá pessoal, boa noite a todos. Minhas boas-vindas aos nossos painelistas. Desde já quero agradecer a vocês que toparam participar com a gente desse super bate-papo e agradecer você que está investindo tempo aqui com a gente na Brazil Conference. E também agradecer a Brazil Conference por este espaço. Sou o Éliton Nascimento, gerente de relacionamento com artistas e gravadoras do Spotify aqui no Brasil. E esse é um painel da Spotify chamado Tecnologia, Cultura e Futuro: como facilitar avanços na indústria cultural brasileira. E aqui com a gente, deixa apresentar esses incríveis com painelistas que estão aqui com a gente: a Mariana Abreu que é Diretora de Insights e Analytics na Discovery Brasil, uma diferença muito grande na indústria entretenimento indústria da música brasileira. Fióti, músico, cantor, compositor, empresário e fundador do Lab Fantasma. Eliane Diniz advogada, CEO e sócia-fundadora da Boogie Naipe, e ela, a nossa cantora, compositora e empresária Ludmilla. Gente, boa noite prazer receber todos vocês aqui.
Todos respondem: Boa noite.
Éliton Nascimento - Vamos passar rapidamente como que a gente chegou até aqui pessoal. Eu queria a contextualizar - você que nos assiste - contextualizar como a gente chegou aqui - Em maio de 2020 o mundo foi impactado pela brutalidade do assassinato do George Floyd, nos Estados Unidos, e duas mulheres negras Brianna Agyemang e Jamila Thomas que construíram a ideia do #TheShowMustBePaused, ou seja, o show precisa parar. E como elas são articuladas, elas são executivas no mercado da música americana, elas articularam o poder que elas tinham na indústria e articularam com todas as gigantes de tecnologia, com todas as gravadoras o Blackout Tuesday's - foi no dia 2 de junho (2020) onde a indústria do entretenimento, a indústria da música do mundo parou para refletir sobre a violência contra o negro, a violência contra a comunidade negra no geral. E dentro disso, o Spotify foi convidado para participar, o nosso CEO Daniel Ek, ele colocou o Spotify, botou o time do Spotify dentro disso. A gente parou durante as 24 horas no Blackout Tuesday's, mas houve um exercício mais interessante que foi, não só parar, mas a gente foi convidado como time do Spotify do mundo todo a pensar soluções, a começar diálogos internos, a começar troca de ideias para pensar soluções para resolver - não resolver como um todo porque a gente sabe que isso demanda muita, coisa demanda muitas frentes -, mas para buscar do nosso lado, com o poder que poder que a gente tem como uma empresa líder dentro do mercado de streaming áudio, e falando de Brasil, como líder no mercado aqui no Brasil que é o país mais negro fora África, que é o país onde tem mais de 50% de sua população se autodeclara negra e, infelizmente, é o país que mais mata pretos no mundo. E aí chegando os meses de outubro novembro, a gente planta a primeira semente como empresa, como time o Spotify depois de tanta conversa, troca de ideias, recebendo gente de fora e que entende do assunto para conversar junto com o nosso time, a gente planta a primeira semente que foi a campanha “Top Brasil”, na qual oito artistas negros estiveram na capa, a Ludmilla participou dessa campanha. Foi uma campanha grande, com investimento de marketing potencializando, e a nossa maior playlist Top Brasil que é ocupada inteiramente por artistas negros. E a gente também lança o hub permanente “Pretos no Topo”, que é um hub de Cultura negra que no seu aplicativo do Spotify você consegue encontrar. E aí depois disso a gente segue trabalhando, é um trabalho intenso. Estamos trabalhando em duas frentes para plantar mais, para de fato fazer a coisa acontecer e não ser só novembro. A gente quer fazer coisas permanentes, uma mudança permanente com empresa, como time e como pessoas em nosso país. E é justamente nesse, pegando já esse gancho galera, que eu queria entrar e já fazer a primeira pergunta para vocês que é: - Vocês como, eu brinco internamente que a gente está lidando com quatro profissionais da mais alta patente do entretenimento brasileiro e, vamos ser sinceros, vocês têm sucessos de lançamento, de vida, lançando outros artistas e produtos, tem toda uma história de sucesso e não tem mais muito que falar sobre vocês, mas dentro desse novo momento: plataformas, novo momento da música e novas tecnologias etc. O que vocês acham - o quanto a indústria brasileira tem a ganhar se investir na diversidade negra onde as decisões são tomadas? Se botar gente como vocês, gente preta nas esferas de decisões da Indústria Musical e de Entretenimento? Quero começar com Eliane.
Eliane Diniz - A primeira é tão difícil, ainda mais para mim que gosto de ouvir. Eu gosto muito de ouvir os meus pares. Tenho muito a aprender esse sempre. Eu quero em primeiro lugar agradecer o convite do Spotify, em poder estar tocando nesse assunto que é sensível ainda, não deveria ser, e essa grande oportunidade de poder estar aqui com a Mariana, com a Ludmilla, com Evandro e Éliton. Super agradecida, um domingo assim inesquecível para mim. A meta das empresas hoje, em 2021, de 97% das empresas é investir na diversidade. A meta é 97% das empresas, em 2021, é investir na diversidade. Entretanto, 33% dessas empresas têm um desafio investir na diversidade negra e nos negros, não é? Então o que acontece se empresa não conseguir e não investir na diversidade, não investir no negro, ela já começa ficando fora dos propósitos, está fora do propósito de inclusão, vai perder com leis de incentivos. É uma empresa que, ao olhar dos consumidores, não será bem quista, já começa por aí. É uma empresa que não é bem quista, perde incentivo, perde o consumidor perde incentivo fiscal e, ela tem receberá um olhar um tanto quanto negativo dos players interessados em investir nessa empresa. Hoje a gente tem que ser uma empresa, as empresas têm que ter propósito - ela tem que ter segmento, tem que ter meta de inclusão. Para as grandes empresas isso é uma facilidade e um problema pela falta de metodologia de inclusão. Eles possuem a verba, mas a metodologia é um tanto complicada. Para as empresas médias e pequenas empresas isso já vem acontecendo lentamente. A população negra - agora vamos lá para o que a empresa pode ganhar, pois eu falei no que a empresa pode perder - ela perde incentivo, parcerias, visibilidade, porque nós estamos selecionando, estamos bem seletivos hoje. Nós (negros) hoje somos 56% da população. Esse 56% da população, digamos que seja uma parcela C1 e C2 – a população classe C1 e C2 – é o povo que eu trabalho, gosto de trabalhar com C1 e C2. E essa população tem uma renda familiar que vai de R$ 2.000 – o salário mínimo em São Paulo a R$ 980,00 –, essa renda familiar varia de R$ 2.000 a R$ 6.300 na classe C1 C2. E depois a gente tem uma pequena parcela de negros classe B1 e B2. Digamos que essa empresa não invista no povo negro, ela vai deixar ela vai deixar de ter esse dinheiro circulando dentro da sua empresa. Por que que vai deixar? Hoje nós negros estamos mais estamos conectados, estamos interagindo, estamos mais críticos, mais seletivos. Basta uma pessoa de grande referência apontar alguma coisa que não acha bom, todo mundo vai olhar para aquela empresa ali. Se você deixa de ganhar R$ 100 R$ 200 R$ 2.000 da classe C1e C2, que a 56% da população, se você não se incomodar de perder player, se você não se incomodar de perder … em ser mal visto, em perder incentivo fiscal e parceria, você está perdendo dinheiro.
Éliton Nascimento - É impressionante você falar isso. Deixa eu pegar essa bola que você levantou para Mari, porque é a nossa mulher dos números. É a especialista, nisso que a Eliane levantou, (Mari) qual é a sua visão sobre isso?
Mariana Abreu - Primeiro quero agradecer novamente pelo convite. É um prazer enorme estar aqui com vocês, com pessoas que eu admiro e são referência na música e na cultura do Brasil. Então obrigada, obrigada a todo mundo que está aqui assistindo a gente e pela oportunidade. Obrigado Spotify e Brazil Conference. Então, fazendo um gancho - a Eliane já foi muito completa no panorama que ela fez para a gente, eu queria trazer um pouco sobre essa importância da representatividade negra no painel, pois é muito importante a gente pensar também sobre mensagem que os ambientes de decisão querem passar. Eu vejo a música brasileira preta, e não tem discussão essa minha visão. E a gente fala em ambiente de música, gravadoras, distribuidoras, escritórios, artistas, todo esse mercado é um mercado preto na imagem unitariamente, quando a gente fala principalmente em artista de criação. Agora, quando a gente olha os lugares de decisão, realmente, tem um gap muito grande. A gente vê que não somos representados. E acredito que a mensagem é que quanto mais representatividade a gente tiver nesses ambientes, nesse momento de decisão, nessas cadeiras de decisão, mais credibilidade às nossas mensagens vão ter. Mais você vai aproximar o público, você vai aproximar mais o público ao falar uma mensagem coesa através da música, das letras, as pessoas vão se sentir representadas. Então eu vejo muito essa importância da mensagem que se passa. E essa mensagem só vai ser coesa e só vai ter credibilidade se for passada por pessoas pretas em lugares de decisão no Brasil, é como eu vejo.
Éliton Nascimento - Fantástico. Ludmilla, você como artista que controla sua própria carreira, qual é sua visão, e quanto a nossa indústria de entretenimento tem a ganhar com pretos e pretas no lugar de tomada de decisão?
Ludmilla - Primeiro eu quero falar um pouco sobre a honra que é estar aqui junto com vocês. Esse domingo vai ficar marcado na minha vida. O que a gente vai estar fazendo é muito importante e eu acho também que é muito importante ter gente preta representando do outro lado da cadeira, assinando o cheque, porque eu vou falar do meu ponto de vista. Eu já vou fazer 10 anos de carreira e foi muito difícil chegar aqui. Para eu estar aqui hoje, nessa conversa, nossa só eu sei o que eu passei. E eu acho que se tivesse mais gente preta assinando papéis, coordenando as coisas, acho que eu não teria sofrido tanto e, eu acho que teria muito mais Ludmilla sabe? Por que quantas meninas talentosas eu conheço? Várias. Mas quantas estão tendo o reconhecimento que elas realmente merecem? Pouquíssimas. Então eu acho que se tivesse sim gente preta no lugar de autoridade, dominando mais esse campo, sabe? Estando mais presente, então acho que seriam muito mais Ludmillas, acho que seria muito mais oportunidade para todo mundo, porque preto com preto se entende, sabe? Se eu falar aqui de alguma ocasião que aconteceu tal coisa e começar a tentar explicar como eu me senti, vocês de cara vão entender o que eu estou falando. Só que assim…. A outra maioria que não sofreu, que não passou nada disso, ela não vai me entender. Então é como eu chegar numa roda de bar e estar um bando de alemães conversando e eu chegar falando português, a gente não vai se entender. A gente não vai chegar no ponto final, mas se a gente sentar com brasileiros que falam a mesma língua, que falam o mesmo dialeto, acho que a gente vai se entender. Então eu acho muito importante começar a ter lugar para a gente preta assinando papéis importantes, tomando (incompreendido) importante. Acho que faz muita diferença.
Éliton Nascimento - Fióti, nosso CEO e fundador do Laboratório Fantasma, o que que você acha cara?
Fióti - Primeiro, realmente é uma grande honra, eu estou nervosíssimo de estar aqui nesse painel, estar ao lado de tantas referências em todos os âmbitos, de verdade. Eu acho que a gente cresceu numa geração com grandes referências negras no Brasil, mas com poucas referências negras dentro dos espaços de poder que mudam as estruturas de fato. Então, eu acho que é isso que a Lud (Ludmilla) falou, complementa muito a importância do nosso trabalho na Lab Fantasma. Eu acho que do próprio trabalho da Lud, da Eliane e da Mari, mas eu queria pegar um recorte muito importante ali do que a do que a Eliane e a Mari falaram, porque eu acredito que as empresas realmente já tenham essa consciência, pautado até em dados do quanto se perde de rentabilidade, do quanto se perde realmente de recurso mesmo para empresa por não valorizar a diversidade. Mas, eu acho que o racismo, principalmente o brasileiro, ele tem, na verdade, camadas extremamente complexas de serem destruídas. E cada vez mais, a gente vai percebendo que ele consegue se camuflar se a gente não ficar atento. Acho que hoje, a gente vive um momento que eu chamo de “Capitalismo de Propósito” - que eu diria que as empresas passaram a perceber que elas estão perdendo o consumidor por não valorizarem a diversidade. Mas ao mesmo tempo eu diria também que elas aprenderam a trabalhar muito bem com marketing, então elas estão absorvendo os nossos discursos e conseguindo fazer com que a mensagem seja lida pelos consumidores, mas que essas mudanças estruturalmente não produzam efeitos grandiosos dentro do ambiente de negócio, pegando um pouco disso que a Lud (Ludmilla) falou. Por que eu sou bastante crítico em relação a isso? Porque eu vejo realmente, e não é egocentrismo, eu não acredito que a gente está aqui hoje para comprovar a capacidade que a gente tem de ser referência dentro do que a gente atua. Acho que a gente está aqui como uma exceção, sacou? E acho que isso fala muito sobre o Brasil. Porque, na verdade, quando a Lud (Ludmilla) fala de todos os desafios que ela passou, mesmo com a qualidade técnica e artística que ela tem, para fazer o que ela faz, isso fala o quão desumano é esse mercado que a gente vive para os artistas negros, sendo que a maioria da música que é produzida é música de residência, é música da diáspora negra. Então, por que “diabo”, que quando a gente vai habitar os espaços de negócio, a gente não consegue ter esse entendimento que ela falou, esse exemplo que ela nos trouxe também da roda de samba que é muito interessante, porque a gente encontra muito dentro das estruturas de poder da indústria fonográfica. Então, por que … tem um trampo da Lud (Ludmilla) que é muito interessante que esse que ela está fazendo de pagode, pois o pagode é para mim um dos gêneros mais importantes da história da música brasileira de todos os tempos. O estigma que foi colocado em cima do pagode, é um estigma em cima da produção intelectual artística do povo negro brasileiro. Isso se perpetuou durante anos e anos na geração. Mas, eu posso falar com conhecimento de causa, se não fosse o pagode eu não tinha autoestima para estar aqui hoje, está ligado? E eu acho que poucos foram os artistas que conseguiram, na época em que o gênero foi tão popular, ter uma estrutura sólida, sacou? Para conseguir fazer com que sua carreira tivesse perenidade na indústria. Isso para mim mostra como o racismo brasileiro tem várias facetas e que é importante a gente, não só ocupar espaços com ideias importantes e construir pontes com pessoas que irão mudar realmente estruturalmente esse cenário, mas eu diria que nesse momento, principalmente depois do que a gente está vendo no mundo na última década principalmente, é importante a gente construir espaços seguros para controlar a nossa narrativa também. Porque como diz o Krenak (Ailton Krenak, ambientalista): a gente não está em paz. A paz foi uma falsa ilusão que foi colocada para a gente. A gente está em guerra desde 1500 nesse país. Então, isso posto na mesa saibamos defender o nosso pão, sabe? Porque ninguém vai fazer isso por nós, melhor do que a gente. Eu acredito que existe essa consciência das empresas, mas essa solidariedade que a gente vê dentro das periferias, dentro da sociedade civil, precisa invadir urgentemente os ambientes corporativos, os ambientes institucionais, porque se isso não acontecer a gente vai ficar vendo tweets vazios de pessoas falando sobre pautas que custam caro para a gente porque custam nossa vida, mas constroem muito pouco na urgência que precisa. Acho que o racismo tem que estar no centro desse debate e, quando você fala também sobre o que aconteceu com o George Floyd nos Estados Unidos, me choca, é extremamente importante, e temos que trazer as pessoas para esse espaço de decisão. A gente tem de estar nesse espaço de decisão, porque isso não fala só sobre consumo, fala sobre a nossa vida mesmo, entendeu?
Éliton Nascimento - Completamente. E deixa eu já puxar um outro ponto e devolver até para você, porque você falou sobre o legado do pagode na sua vida. Eu acho que o pagode deixou um legado na vida de todos nós, porque realmente invadiu a TV, ele foi um grande incêndio para cultura preta durante o seu nascimento, até o seu crescimento se estabilizar no mercado. Mas, dentro desse momento, em outro momento onde o pagode continua sendo frente, temos outros ritmos. Mas, vamos esquecer esses ritmos e falar sobre nós, sobre preto que detém isso tudo e pronto final. Como as novas tecnologias Fióti, conseguem construir esse legado, conseguem pegar o pagode e fazer esse legado para a próxima geração preta? Consegue fazer o rap, o funk, consegue fazer da nossa cultura o seu legado e ao mesmo tempo como é que esses dois lados vão conversar e chegar a uma decisão? Isso é possível na sua visão, e na visão de todos vocês, é possível construir um legado com as novas tecnologias ou não?
Fióti - É muito interessante a sua pergunta também. Acho que as tecnologias, elas devem servir para o bem-estar da sociedade. Eu acho que se pensa primeiro no mercado para depois pensar nas pessoas. E na quebrada, nós começamos primeiro pelas pessoas, para depois pensar no mercado. Eu acho que essa lógica que a gente consegue inverter é o que faz com que a tecnologia possa ser importante para o ambiente que a gente vive. É quando eu falo dessa sensibilidade, desse senso de solidariedade que precisa invadir esses espaços de poder, os ambientes corporativos, é um pouco sobre isso que eu estou falando. Porque a gente está vivendo em um momento muito complexo, onde (…) como os artistas, os criadores estão passando por um momento mais difícil financeiramente, por conta da pandemia, a gente vê modelos de negócios ainda mais exploradores sendo criados diante deste cenário, para manutenção desse mesmo espaço de poder e de privilégio. Então, acho que essa mentalidade da forma de fazer negócio - são as pessoas que têm origem como a nossa que conseguem compreender quais mudanças precisam ser feitas. Eu acho que a gente tem de investir em desenvolvedor, em tecnologia dentro das periferias, porque tudo que a gente vê hoje no mundo, em relação à manutenção da desigualdade, produzida principalmente pela globalização, comprova evidentemente que não existe um senso de solidariedade em quem desenvolve essas tecnologias. Porque elas devem ser desenvolvidas de uma forma que a gente possa melhorar o mundo que a gente vive, essa é uma questão que me intriga para esses novos tempos que a gente vai viver.
Porque uma coisa é isso ter sido pensado em 1965 não é, com o advento da internet, outra coisa a gente estar em 2021, no meio de uma pandemia onde a gente não tem nem a possibilidade de respirar o bem mais precioso que a natureza nos dá que é o ar. A gente ter perdido isso, e não refletir nesse momento qual é realmente o significado dessa crise que a gente está vivendo. E só essa questão da guerra das vacinas já evidencia muito que esses valores individualistas seguem pautando os ambientes de negócio, já mostra o quanto a gente precisa se preparar para esse novo cenário que a gente vai enfrentar. A tecnologia produziu feitos incríveis, inclusive a nossa própria troca aqui, mas eu acho que é muito importante a gente refletir, nesse momento, é como houve acúmulo de riqueza também nesse momento, e que precisamos criar legislações, porque isso precisa ser regulado, precisa ser enfrentado, porque a gente nunca teve tanto poder concentrado na mão de tão poucas pessoas no mundo inteiro. E isso me preocupa muito diante do cenário que a gente está vivendo, e a gente sabe muito bem que a tecnologia, ainda mais um ambiente de tamanha desigualdade como o Brasil, ela produz um cenário social de muita eugenia. Então, a capacidade que eu tenho que estar trocando essas ideias com vocês, é porque estou numa área nobre de São Paulo, é completamente diferente da que eu tinha 12 anos atrás morando no Cachoeira (bairro da zona norte de São Paulo) e a maioria da população ainda está com sorte, em São Paulo nessas condições. Mas quando a gente passa a analisar o Brasil como um todo, tem pessoas que estão sem ter o que comer nesse momento, sabe? Então, acho que essa solidariedade é urgente que invada os ambientes de negócio e os usando os espaços de poder, mesmo, porque tudo que a gente tem conseguido fazer, e construído individualmente, a gente tem feito. Os artistas, os empresários negros, só que é importante que a velocidade precisa ser mais rápida.
Éliton Nascimento – A gente estava até trocando sobre isso, antes de começar o painel. Trocando essa ideia sobre a velocidade e nesse momento você puxa uma questão muito interessante, que é a ligação real do que está impactando no povo negro, em relação à pandemia e que isso vai impactar no legado. Isso vai impactar no que vai ser deixado para as próximas gerações. E até já quero a opinião da Lud (Ludmilla) porque eu vi que a Lud em um momento ali já se preparou para trazer a resposta dela. Então Lud, para você sobre essa questão de legado dessas novas tecnologias, essa urgência que o Fióti trouxe para esse papo que a gente precisa ter, o que que você acha sobre isso?
Ludmilla – Eu estou aqui impactada com o Fióti. Já admirava ele demais, mas eu vou sair daqui já direto fazendo um clube do Fióti, já era, já sou presidente do fã clube do Fióti. E cara, é tudo isso que o Fióti falou. É claro que quanto mais informação, quanto mais tecnologia é sempre melhor, mais um lance é: - quem vai ter acesso? Como a gente vai ter acesso? Porque eu vejo muita gente lançando muita coisa, só que a maioria dos pretos, a maioria da galera da comunidade não tem acesso. Tipo (como por exemplo) o Spotify, uma grande parte do meu público, eles não têm acesso ao Spotify, por que eles não podem pagar um Spotify. O dinheiro dele já é tão contado que não sobra dinheiro para o Spotify, então eles não têm acesso a essa ferramenta. É isso o que o Fióti falou muito bem, é muito bom tecnologia e informação, até porque se não fosse por conta da tecnologia não estaria aqui, pois o meu primeiro vídeo que viralizou na internet no YouTube foi o “Fala mal de mim! E foi sem ajuda de ninguém. Foi sem empresário, sem nada, botei (postei) na internet e foi. Mas é isso que ele falou também que hoje, depois de tantos anos, ele está no conforto dele. Eu sou uma exceção, eu não sou a regra, entendeu? E é aí que está (a questão). A gente precisa deixar isso para trás, a gente precisa deixar essa exceção para trás. Precisa começar a ser regra ter mais preto com igualdade, ter mais preto no poder, ter mais preto fazendo sucesso, ter mais preto podendo mostrar o seu dom, ter mais preto tendo voz. É basicamente isso mesmo, a gente precisa, a gente quer mais tecnologia, mas a gente também mais igualdade. A gente precisa de igualdade para ontem.
Éliton Nascimento – Perfeito. Para fechar esse ponto de vista, eu quero ouvir um pouco a Eliane para fechar um pouco essa pergunta, mas é isso que você realmente falou. Isso chama atenção porque, dando um exemplo simples mesmo sobre o quanto a gente precisa melhorar esses diálogos, por exemplo, o Spotify ele é de graça, mas o ponto que a gente precisa melhorar este diálogo para que chegue no nosso povo, que ele entenda isso, ele saiba disso. Até que ponto a gente precisa do lado de cá para a gente provocar isso, é muito interessante. Obrigado Ludmilla pela sua visão.
Ludmilla – O Spotify tem a ferramenta de graça, só que não é uma ferramenta boa, né? A gente não pode escolher o que a gente quer ouvir. É o que rola, entendeu? Então por isso que eu disse que a ferramenta cara, para ela ser ela é realmente de graça para todo mundo, para todo mundo poder usar ela melhor. Porque ela tem isso de ser gratuito, mas não é da melhor forma, pois você não vai ouvir a música do jeito que você quer, não vai pesquisar o som do jeito que você quer, vai ser coisa aleatória. Então, não é a melhor coisa, por isso que eu disse que o melhor é o pago.
Éliton Nascimento – Com certeza. Eliane.
Fióti – É o acesso né mano, porque o Spotify é gratuito, mas se tivesse distribuição de riqueza e não concentração de riqueza, a maioria da população poderia estar ouvindo Spotify.
Éliton Nascimento – Obrigado pela aula, como a gente diz no Rio de Janeiro - aula - não tem mais nada para falar cara. Eliane, para fechar esse tópico, qual a sua visão amiga?
Eliane Dias – Eu sou daqui da ponta, não é? Continuo no bairro onde eu moro há bastante tempo e aí eu vou falar assim: “internet, vídeo cassete, os carro loco atrasado tudo tem um pouco” (referência à música Negro Drama - Racionais Mc's). Eu boto muita fé no meu povo, eu boto muita fé nos pretos, eu boto muita fé nas pretas. Eu acredito sim que existe toda uma manobra capitalista e racista que faz com que nós estejamos, alguns de nós tenhamos privilégios de estar neste lugar onde nós estamos e outros estão atrasados um pouco. Porque existe toda uma manobra capitalista, racista, machista que faz com que isso vá de forma atrasada. Vá acontecer de forma atrasada, mas eu sou resiliente, eu acredito no meu povo. Eu tenho certeza que isso vai caminhar, ainda mais no momento que a gente passou e que estão querendo tirar da gente. A gente teve muito incentivo com estudo, com cotas, com bolsas, quando muitas mulheres negras entram na universidade, de muitos negros entrando na universidade e buscando acesso à informação. E, entre aspas, “quando se sai do armário não tem como voltar”, é impossível fazer com que a Eliane deixe de querer aprender cada vez mais. Uma pessoa que fez o primeiro, o segundo ano de uma universidade, ela não vai voltar a ser aquela, mesmo que ela tenha parado, ela não vai voltar a ser aquela pessoa que fez até o oitavo ano. Então, essas ferramentas que fazem com que eu possa trabalhar bem com streaming, que fazem com que eu possa subir vídeos de artistas, que fazem com que eu possa fazer ter o meu analytic, analisar onde eu vou jogar, ver qual é o estado que é melhor eu trabalhar, todas as ferramentas que eu uso o meu trabalho, eu tenho certeza de que, pode ser que vá atrasar um pouco para parte da população negra, porque a concentração de riqueza ela vai continuar, não existe como um país capitalista como o nosso as pessoas falarem: - não eu vou dividir essa riqueza. Se tivesse essa possibilidade não existiria aí, no momento, um grande movimento para fazer com que a escola seja em casa, porque em casa a maioria da população não terá acesso à internet, não vai trabalhar, não terá acesso ao estudo e ficará mais atrasada ainda. Eu sou absolutamente contra o Ensino Médio e Ensino Fundamental, no momento de pandemia sim, mas fora de um momento de pandemia o Ensino Médio Ensino Fundamental ele não pode ser pela EAD (Ensino à Distância). Isso para mim é um uma estratégia de exclusão. Por exemplo, se a gente andar por uma hora e visitar várias casas nos bairros, vamos perceber que as pessoas não têm acesso à internet. Nós estamos vendo pessoas com problemas para receber R$ 300, porque ela não tem o aplicativo, ela não tem internet para ir lá no telefone, ela não sabe o que é mobile. Ela não tem como eu usar o dinheiro na internet. Então, eu acredito que a divisão de renda é urgente e necessária, entretanto, no momento é utópico. Nós não teremos essa divisão de renda em hipótese nenhuma. É facilidade para que todos tenhamos acesso a tudo? Não. Depende do Spotify oferecer essa acessibilidade. Depende da Spotify sair na frente, quando se falou eu vou fazer a diferença porque em algum momento essa chave vai virar, essa galera vai ter um poder aquisitivo maior, ela vai investir na minha empresa. Que é o que as grandes empresas que trabalham com a classe C fazem. A gente vê aí as grandes empresas com carnezinhos (carnê) na mão. Não, todo mundo quer ter seu carnezinho. Vai lá recebe o incentivo da linha branca que é uma geladeira, um fogão, um micro-ondas, vai lá e compra no carnê. As empresas que trabalham com a massa, elas têm um grande prazer em oferecer incentivo para pagar parcelado. Se eu for comprar parcelado, em grandes empresas que trabalham com classe C1, C2, elas vão falar: - eu prefiro que você parcele. Porque o dinheiro todo mês vai estar ali, ela sabe que essa pessoa só tem nome, e através do nome dela ela vai comprar parcelado. E se eu for no shopping hoje comprar, aqui um Shopping Campo Limpo, que fica a três minutos da minha casa, eu vou pagar um pouco mais caro em um tênis aqui, do que se eu for no Shopping Ibirapuera. Porque aqui a galera compra o que é caro, compra parcelado em 12 vezes. Eu acho legal? Não acho. Eu acho que tem de ir no brechó comprar mais barato e pagar de uma vez. Entretanto, eu sei qual o sentimento. Eu sei qual é o sentimento de uma menina negra, de um menino negro em poder comprar um tênis novo e sair no rolê com um sapato novo, com a calça azulzinha. Eu sei qual é o sentimento. Então cabe às inteligências ter essa sensibilidade, a empatia, e dizer - eu vou apostar nesse público aqui. Porque a gente tem grandes empresas aí, Magalu é uma delas. A gente vê grandes empresas que trabalham especificamente voltado para esse povo, porque não acredita que a distribuição de renda vai acontecer de uma forma justa e igualitária. Se não fosse o racismo, o Brasil não existiria, ele precisa dessa base. O Brasil precisa de ser capitalista, ele precisa ser racista, ele precisa ser machista, colocar mais uma obrigação para mãe dar aula para criança e tirar essa mãe do mercado de trabalho para não competir. Não é todo mundo que é igual ao Fióti que quer a Boogie Naipe colada na Lab não. Tem uma galera que quer distância. Então essa é a minha contribuição.
Éliton Nascimento – Obrigado, sem palavras. Eu já quero puxar e voltar na Ludmilla, porque eu estou indo e voltando à Ludmilla. Porque Ludmilla essa sensibilidade que você, que o Fióti puxou, que Eliane puxou agora, passa muito sobre, de novo sobre aquilo que a gente falou, sobre ocupar lugares de poder. Lugares onde você consegue ter essa sensibilidade, esse olhar. E na indústria brasileira, na música brasileira, que é majoritariamente branca, é a sua esfera de poder. O quanto que a gente perde sem ter Ludmillas, Marianas, Elianes e Fiótis nessas cadeiras, que são pessoas que entendem e tem essa sensibilidade que vocês falaram. A sensibilidade do DNA preto, do DNA pulsante, sensibilidade pulsante em nossas vidas, porque isso é a nossa vida. Isso não é uma coisa que está falando de teoria. Quanto que as empresas estão perdendo sobre isso, nessa conexão de classe C, de entender economia Ok, mas realmente ter sensibilidade na sua visão Ludmilla, o que elas estão perdendo quanto a isso?
Ludmila – Eu acho que aí vem o racismo estrutural de novo. Porque é aquilo que faz divisão, é aquele que divide, é aquilo que divide as pessoas. Eu acho que eles tão perdendo demais, porque como eu te disse, eu conheço muitas meninas, muitas mulheres talentosas, muitos homens talentosos, só que eles não têm oportunidade. E então as empresas acabam perdendo muito talento, muitas pessoas que poderiam estar ali brilhando trazendo de alguma forma alguma coisa boa para a vida de outras pessoas, mudando famílias. Porque, eu vou dizer aqui na minha casa - como a exceção que eu disse para vocês que eu sou, aqui na minha casa eu sou a base da minha família inteira. Só na minha casa são mais de sei lá, 22 pessoas diretamente que vivem assim da Ludmilla e tem a empresa. Olha a diferença que uma mulher negra que teve oportunidade faz na vida dessas pessoas todas. A empresa Ludmilla é muito grande, vai muito além. Depois do meu talento como cantora, eu consegui abrir a minha empresa de laces (perucas), eu conseguia abrir a minha empresa de rede de salão. Então, olha quanto isso, estou falando por alto que eu lembrei das coisas que eu faço que eu acho que legal está falando, olha o quanto eles estão perdendo não dando lugar, não dá espaço, não dando fala.
Éliton Nascimento – É um movimento que inspira sobre o que você fala. E sabia de algumas coisas, não tinha noção, e você fala e já bate uma inspiração e fala: - caramba olha o patamar quando a gente está realmente no lugar em que a gente deve estar. Olha a onda positiva, a onda de mudança que começa a acontecer. Não é uma questão apenas de negócio, é mais e é isso. Você está transformando vidas, você está transformando e criando oportunidades para gente preta no geral. Isso não tem precedentes.
Ludmilla – Isso não tem preço, sabe? É essa maioria de mensagem que eu recebo, que a galera tirou uma foto minha, botou no pé da cama e me botou como inspiração, e eu quero doar minha energia, depositar o meu sangue, o meu suor para cada vez mais conseguiu impulsionar essas pessoas e fazer elas não desistirem. Mas eu não quero só ficar falando isso, eu quero começar a fazer. Por isso que essa reunião aqui hoje está sendo muito importante, porque eu tenho certeza que tem muita gente vendo a gente, e eu também tenho certeza de que tem muita gente querendo mudar para fazer diferença no cenário brasileiro hoje em dia. Eu sei que não é uma coisa fácil, mas a gente precisa insistir, a gente precisa lutar e esse é um grande passo, essa reunião para a gente está tendo aqui hoje.
Éliton Nascimento – Fantástico. Mari, deixa eu você nossa especialista de números, porque eu gosto de uma frase muito que o Jay-Z fala: - “Homens mentem, mulheres mentem e números não”. Eu adoro essa frase porque é a forma do preto virar e falar: - Para de vir com esse papo para gente”. Entende, está aqui, está documentário. Os números da Ludmilla, do Fióti e da Boogie Naipe estão documentados. Em pleno 2021, a gente ainda está vendo a sociedade brasileira virar e falar: - o funk não pode exportar, o gênero preto e tal não tem exportação, o gênero preto tal …. É isso, você é mulher dos números, trabalhou durante muito tempo nas maiores gravadoras do Brasil cara, cuidando, sendo líder, hoje é diretora da Discovery. Mari o que os números falam sobre o funk, sobre a música preta, sobre o preto no Brasil.
Mariana Abreu – Vamos lá. O que eu acho legal também de olhar, para dar um panorama, vamos pensar lá na época do CD físico, em que você comprava seu CD, seu DVD. Os artistas, as gravadoras etc., todo o ambiente ali não tinha dado de cara, por exemplo, do meu CD aqui qual foi a música que a pessoa mais ouviu? Não sei, pois, a pessoa comprou o CD e está consumindo do jeito dela. Com a chegada do streaming, a gente já começa a mostrar - temos não sei quantos milhões de streamings nessa música. Então esse panorama é só de lembrar lá e pensar a transformação com a chegada do streaming e, de fato, conseguir mostrar a performance das músicas, de um gênero, como está em relação ao mercado. Lembro de quando Spotify chegou no Brasil, e eu nas gravadoras fazendo análises, eu via que gênero mais consumido, o que fala muito com o que a Ludmilla, Fióti e Eliane falaram, que essa coisa da penetração do streaming é algo que já melhorou, mas precisa para mais nas camadas. Então, lá atrás quando começou o Spotify, o gênero mais escutado, eu lembro das minhas análises, era o pop internacional e a música internacional bombando, conforme o Streaming foi de seis, sete anos para cá, a gente já vê que isso começa a entrar numa maior base de usuários, e aí sim começar uma penetração maior, e a popularizar um pouco mais. Mas falta muito, estamos nesse caminho de entrar realmente nas camadas, mas que foi interessante de ver é que conforme isso foi entrando ali pouco mais nossa sociedade, cara, os gêneros populares começaram a bombar muito. Então, assim o funk, o rap, não tem mais como negar que são os gêneros que as pessoas querem ouvir. O que eu acho também que é legal no streaming? Ele é o reflexo do que as pessoas querem ouvir, não tem mais aquela coisa de estar na loja, comprar um CD físico e na prateleira só tem coisa lá cara, não tem nenhum preto, só tem artista que está aqui porque está empurrado para estar aqui. E no streaming não, com certeza os fãs da Ludmila, a galera que quer ouvir a Ludmila vai conseguir entrar lá no streaming, seja na plataforma de áudio, ou de vídeo que também é muito popular. A galera entender e assistir vídeos, consumir isso, é muito reflexo que você quer. É um consumo que está ali, é só você escolher, e eu acho que isso tem o papel também de um pouco de democratização, um pouco mais de quem vai estar ali. Esse é um passo importantíssimo. O funk é muito forte, o rap… o funk foi o segundo gênero mais escutado em 2020 no Spotify. Então assim, cara não tem que falar. E o rap nacional é muito forte. A gente pode vê-lo aí na frente de um monte de gêneros que anos atrás a gente nem via nos rankings. Eu acho que o streaming possibilita a essa galera aparecer, essa galera falar: - eu tenho força, eu tenho público, essa galera vai me ouvir e eu tenho um lugar onde essa galera pode me ouvir. E aí quando a gente pensa, como vocês falaram do legado, a gente lembra das rodas de samba, dos grandes mestres do samba e que morreram sem ninguém falar nada, sem ter um marco. Se não é a gente resgatar esta história, não tem dados daquela época, embora isso impacte a nossa vida, seja parte de nossa história. Se a gente olhar daqui para frente, a gente vai ter um monte de marcos importantíssimos no funk, no rap, dos gêneros que são parte da nossa história.
Fióti – Mariana, posso fazer só um complemento, por que eu achei muito interessante essa fala, porque vai num ponto que é crucial até dentro de muito do trabalho que a gente faz das resistências, que a gente enfrentou e tem muito a ver tanto com o trabalho do Racionais, como com trabalho do Emicida, com o trabalho da Ludmilla, assim como a gente falou do pagode lá atrás. Isso que você falou é muito interessante, de que streaming trouxe. Ele trouxe para a mão na audiência a capacidade de escolher, a possibilidade de escolher o que quer ouvir. Quando a gente pega esse recorte e traz para a indústria fonográfica e para a história da música como um todo, fica muito evidente, muito claro mesmo de quando a música passou a ser produto, e a forma como esse produto passou a ser lido por quem vende esse produto, que era majoritariamente as pessoas brancas. Aí traz isso para o recorde de como a música brasileira se difundiu no ambiente das rádios, durante todos os anos em que a música se popularizou. Você pega esse recorde e pode ver como todos os artistas negros conseguiram... artistas tanto no gênero masculino, como do feminino, conseguiram ascender, foram os artistas que tiveram em alguma medida o aval de uma pessoa branca. E porque a gente precisa do aval de uma pessoa branca, olha que ridículo isso. No mesmo passo que isso aconteceu, estou falando da história de Clementina de Jesus, Pixinguinha, estou falando de pessoas muito à frente do seu do seu tempo, criativamente, artisticamente, e aí a hora que a gente pega isso para ambiente, por que é o streaming faz, ele acaba com uma metodologia de curadoria que existia na rádio que é completamente preconceituosa mesmo, porque o cara vai te dar um milhão de justificativas preconceituosas para não tocar aquela música, não é pelo conteúdo que ela tenha, mas pelo que ela representa, pelo o que artista que canta ela representa. Acho que o streaming materializa essa sede, na verdade, que as pessoas têm por conteúdo de qualidade e que se sintam representados, que é isto que a Mariana falou, então, e a gente conseguir fazer isso com a tecnologia mano, abram os portões.
Mariana Abreu – O que eu acho que é legal também, só complementar, obrigado Fióti, acho que é isso aí mesmo a mensagem que eu quero passar. E eu vejo, pelo menos minha experiência na gravadora foi muito importante ter esses dados, porque cara, a gente construiu diversas visões que ficaram óbvias. Cara é isso o que a galera quer ouvir é o funk, é o rap, vamos investir nisso sabe, porque antes lá atrás não tinha essa visão, não tinha informação para ter essa visão. Então é importantíssimo. Acho que os dados são muito aliados da gente, vamos mostrar o que a gente precisa e tem um monte de informação importante. É isso, eu acredito muito no poder dos dados, dos números, da tecnologia para promover ainda mais sucesso da música preta no Brasil.
Éliton Nascimento – A gente está indo para o finalzinho, pessoal eu só quero, Fióti para te pedir para sintetizar uma parada, porque você falou algo que é esse controle da narrativa e o streaming possibilita ao artista preto, a Ludmilla ter a própria empresa, estão aí os números, é desse jeito eu vou tocar minha carreira, do jeito que eu gostaria de ser que fosse. E dentro disso, desculpa pela falta de tempo que a gente tem, mas só para a gente sintetizar, porque a Lab Fantasma, assim como a Boogie Naipe, elas são empresas que inspiram a gente nisso. E agora as empresas da Ludmilla são mais umas que eu tenho que botar aqui na minha gama de estudo, olha a quantidade empresa preta fazendo isso, inspirando, estão cada dia mais crescendo. Mas falando da indústria da música, a Lab Fantasma tem essa característica de cara vocês desde lá do início, da primeira mixtape com carimbo CDR, vocês estão usando a criatividade, mas ao mesmo tempo controlando a narrativa. E hoje a Lab, o negócio de sucesso que virou, o tamanho que a Lab tomou, como é desafiante para você, dentro desse dessa visão, tentar equilibrar o negócio com a questão da criatividade preta, o DNA preto. Aquilo que você falou, o nosso negócio é transformar vidas, o dinheiro vai rolar, vai acontecer, mas o nosso negócio é transformar vidas. Cara tenta trazer um pouco dessa visão para gente, como como empresa, e Eliane já prepara aí também, que eu quero saber da Boogie Naipe.
Fióti – O principal motivador para a gente são os valores que nutriram a cultura hip-hop. Acho que os valores que nutriram cultura hip hop podem transformar o mundo, se eles forem levados a sério e transformados em visão de negócio e impactar o mundo como um todo. Tem uma rima do Emicida que eu gosto muito, ele fala assim: - “Ofendo pretos que ainda são escravos. E os brancos que quer ser senhor de engenho” (Emicida, na canção Hino Vira-lata). Eu acho que estar nesse lugar em que a gente está é um pouco sobre isso. Eu procuro fazer no trabalho da Lab assim, a gente procura fazer, na verdade, coletivamente, cara, criar um ecossistema anti cancelamento de uma maneira geral, porque eu sou falho, sou um indivíduo falho, e amanhã pode ser que eu cometa algum equívoco e, nesse ambiente das redes sociais o que vai ser valorizado é a falha que eu cometi. Mas a gente tem que entender que existe o pacto da branquitude. Os brancos se protegem, entendeu? Eu acho que a gente infelizmente cai na jogada do colonizador, e acaba fazendo com que a gente não consiga construir uma cena, seja essa cena dentro de um gênero musical, seja essa cena dentro do ambiente de trabalho, e seja essa cena dentro do Brasil, do país que a gente vive. E eu acho que quanto mais Laboratório Fantasma, Boogie Naipe tiver com essa mentalidade, mas Ludmillas tiverem, porque se acontecer alguma coisa com a trajetória da Ludmilla, é evidentemente que vai abalar nosso trabalho aqui, entendeu. É evidentemente que o mercado vai sofrer com isso e isso vai impactar os nossos resultados também. Então a gente precisa compreender, que a gente só vai conseguir construir um ecossistema forte de resistência, porque a gente já está do lado frágil da força, né, a gente está puxando aqui o cordão numa bolha que é muito pequena, num Brasil que é terrível e que não quer que a gente ascenda mesmo. Então, quanto mais a gente fragmentar isso mais difícil vai ser. Eu diria que a gente procura construir, com tudo o que a gente faz, um ecossistema potente para mostrar para as pessoas que, mano levanta a cabeça que é difícil, é possível. E quanto mais pessoas aliadas nessa luta a gente conseguir, mano entra no bonde e vamos.
Éliton Nascimento – Eliane você me ajuda com sua visão nesse ponto, por favor.
Eliane Dias – Sim. Eu sou essa empresária e empreendedora que foi forjada nessa coisa de estar junto para conseguir fazer as coisas, que nós somos é um bonde. Acredito que nós vamos conseguir virar a chave, vai conseguir caminhar, vai conseguir a superação se a gente tiver exatamente isso que o Fióti está falando, da gente ser esse bloco, essa parede. O rap dentro da Boogie Naipe, porque ela foi constituída numa unidade. A Boogie Naipe, eu cheguei para tomar conta de quatro homens pretos, que é o Racionais Mc's, que o tempo não conseguiu separar, que o racismo não conseguiu separar, que o racismo estrutural não conseguiu separar. Eu cheguei com 25 anos em um bloco de quatro caras que são completamente diferentes, mas que não tem nada que separe, porque um protege o outro. Eu cheguei aí 25 anos depois, sou esse quinto elemento, claro que eu não sou do Racionais, eu sou Boogie Naipe, eu sou esse quinto elemento que tem esse entendimento, e se eu não puder falar o bem de vocês, vocês podem ter certeza absoluta que mal eu não vou falar, porque eu tenho esta concepção de que seu contribuir com o senhor de engenho, eu vou enfraquecer. Eu vou enfraquecer se contribuir o senhor de engenho. Então a Boogie Naipe trabalha já com esta base, de que a gente tem que ser esse bloco, de que a gente tem que andar junto. Porque juntos nós somos mais fortes. Sou empresária da música, mas sou empreendedora da moda, como a Ludmilla falou que ela tem a empresa dela, eu acabei de abrir uma empresa de roupas que é a Yebo. Abri agora há pouco tempo, a gente lançou as roupas em agosto e tenho pretensões de fazer outros projetos, assim como Fióti faz os projetos, dessa base juntar os pretos cada vez mais. Eu só quero me juntar aos meus. Eu só quero me juntar aos meus e não existe a menor possibilidade dessa aqui, que vos fala, querer se separar, não. Se eu puder ligar para você e falar assim: - Éliton, estou com um projeto aqui, o que que você acha disso. Ludmilla e aí vamos nessa? Mariana, e aí qual é o número que eu posso apostar aqui, porque a coisa vai acontecer. Fióti, você tem 12 anos, a Boggie Naipe tem 7 anos, o que você me orienta aqui? Eu confio em você de que vocês vão me dar orientação certa e não vão me dar rasteira, porque o racismo estrutural não vem de nós, ele vem de lá para cá e não daqui para lá.
Éliton Nascimento – Só aplaudir aqui, falou tudo. Você minha Lud, minha amiga, já mandou a real do que ela falou tudo. Começa por você as considerações finais dentro desse papo, a gente queria mais tempo, com certeza, a gente queria ficar aqui o painel inteiro ou a noite inteira, eu tenho certeza. Talvez a gente vá para uma resenha mais tarde, aqui na internet para aprender mais com vocês. Lud suas considerações finais, e eu quero deixar as considerações finais no seguinte tópico, a partir de você Lud que é o seguinte: começamos um diálogo, mas como esse diálogo precisa acontecer e o que vocês esperam desse diálogo a partir do Spotify, como líder do streaming, como que esse diálogo precisa acontecer. O que vocês têm para falar para gente: olha o diálogo precisa ser assim.
Ludmilla – Éliton você chegou aonde eu queria de verdade. Você sabe que o Spotify, as plataformas de streaming, elas são aliadas da gente agora, incrível e ainda mais com tudo o que está acontecendo com essa pandemia, como não tem mais como a gente estar em contato direto com nossos fãs, a gente lançar ali e vocês que são os responsáveis por distribuir tudo isso. Estou para fazer dez anos de carreira e o meu último lançamento agora foi “Rainha da Favela” e foi o meu melhor lançamento, porque? Eu lancei ele em novembro e, coincidentemente, caiu no Dia da Consciência Negra, então eu tive um destaque na plataforma. Eu consegui entrar nas maiores playlists e assim foi meu melhor lançamento por conta disso. Então a partir daí eu fiquei mais ligada com isso, e eu vi a importância que faz o apoio, a ajuda, que eu só tive naquele mês por conta desse evento. É o que eu quero deixar aqui, falar e conversar é que a gente poderia ver essa ajuda aí para todos os negros a partir de agora sabe, daqui em diante, que isso fique, porque faz toda a diferença. Como você sabe, quando a gente é preto, tem que fazer quatro, cinco vezes melhor para ser reconhecido e cansa demais. Quando eu vou fazer um álbum, o caminho não está livre para eu gastar mais energia só fazendo minhas músicas, só pensando no outro meu clipe, porque eu tenho que lutar com conservador, tem que lutar com racista, com gente que está falando que não entende a minha parte. É que eu tenho que mostrar para a galera da minha gravadora, igual eu que fazer o lance do pagode, vocês não têm noção de quanto eu suei para poder lançá-lo numa “nice”, porque não é o mesmo dialeto que aquela galera que está acostumado, que está regendo por ele que está regendo por de trás das mesas. Eles não estão acostumados a ouvir eles, então eles não entendem a essência, eles não sabem do que a gente está falando, quem a gente quer atingir. Então eu quero deixar aqui as minhas considerações para todas as plataformas, para todas as todas as empresas, que a gente não precisa de ajuda, que a gente não precisa desse olhar só em novembro. A gente precisa disso de agora em diante, para a nossa evolução e para a evolução de todos, para o melhor da humanidade, para a gente cada vez mais quebrar esse racismo de todas as formas - estrutural, verbal, tudo a gente precisa fazer isso, vamos lá, de agora em diante.
Éliton Nascimento – Fantástico, sem palavras. Muito obrigada Lud mesmo. Fióti.
Fióti – É só as considerações finais né? (Éliton - as considerações finais neste tópico). Vamos lá. Eu acho que a primeira coisa é que o Spotify pode lançar seu podcast Éliton, sua voz é maravilhosa e tem muito assunto para você tratar. Isso aqui tem que virar conteúdo para muita gente poder falar sobre business da música, por uma ótica negra, é muito essencial que isso aconteça. Eu acho que o Spotify tem se movimentado, como eu falei não tem como a gente refletir os impactos que toda desigualdade no segmento da tecnologia e da indústria musical, sem a gente refletir sobre o ecossistema todo do mundo que a gente está vivendo também. Então, acho que dentro do papel que cabe aos players de música, tenho visto que pelo menos muitas das coisas que a gente falava há quatro, cinco anos, passaram a ser uma realidade mais próxima das lideranças. Vou sonhar muito quando eu vir, realmente, managers, na maioria dos países principais, que sejam negros. E não é só escolher uma pessoa negra, por ela ser negra, é por conta da história de vida dela, porque se for melhor para uma pessoa negra vai ser melhor para o ecossistema como um todo. Porque se essa pessoa tiver consciência da profundidade com que todas essas violências acabam impactando a vida da nossa comunidade, isso vai ser benéfico, inclusive, para toda a estrutura de negócio também. Então a gente vai continuar lutando, trabalhando e precisando de aliados como vocês, para que a gente consiga de fato construir movimentos grandes, tão grandes como que a gente tem visto aqui na sociedade civil nesse momento com as ONGs levando prato de comida, com as empresas doando dinheiro para salvar e fazer o papel, que infelizmente, o Estado brasileiro nunca fez, e espero que um dia possa vir a fazer. Essa é a minha esperança, mas enquanto eles não fazem mano, a gente está enchendo laje no final de semana na quebrada e fazendo as coisas acontecer, e é isso aí o que tem que acontecer na música agora, entendeu? Um carregando na lata para o outro.
Éliton Nascimento – Gente eu queria, primeiramente pedir perdão Mariane e Elaine, eu acabei de receber uma mensagem aqui de que a gente está laço, dá para resumir em uma palavra, desculpa a gente, o sentimento de vocês, o que vocês gostariam de passar.
Mariana Abreu – Claro, vou rapidinho. Acho que todo mundo já falou, tudo super bem, a Lud, o Fióti, foi um papo maravilhoso. Eu acho que assim, vou sugerir uma coisa muito ousada, mas eu acho que os algoritmos podem nos ajudar a expor mais artistas negros. O Brasil tem uma dívida histórica, acho que o Spotify, nessa função de maior player do Brasil e por que não priorizar e impulsionar mais os artistas negros nas sugestões, nos destaques, acho que é por aí. Ousei, desculpa Éliton.
Éliton Nascimento – estou anotando.
Eliane Dias – Para contribuir eu gostaria muito que o Spotify pegasse seus managers e botasse de olho aí nas startups pretas que estão aí, é muita gente preta qualificada, é apta, trabalhando com cultura, com toda essa parte digital, em toda a internet tem milhares de startups que estão prontas, trabalhando, que podem assessorar e ajudar o Spotify numa curadoria de gente que vai contribuir muito para o Spotify e vai contribuir muito por nosso lado também. Só fiquem de olho aí gente que há bocado de gente que vai ajudar a Spotify crescer, porque tem a visão dos três lados - a técnica, é preto e gosta do Spotify. E para anotar meu instagram @Elianedias_
Éliton Nascimento – Nossa, obrigado gente. Está naquele momento em que minha cabeça está acelerada com tudo que vocês falaram. Eu espero que todo mundo que está assistindo isso possa sair com essa lição de pegar todo esse conhecimento que essas quatro pessoas incríveis colocaram na mesa e internalizar. Eu vou ter que gastar um tempo internalizando tudo isso, vendo cada palavra da Lud, da Eliane, do Fióti, a Mari. Quero agradecer muito vocês que toparam estar com a gente aqui, neste domingo, para provocar a mudança. É isso como a Lud falou desde o início - É o que eu acredito que está acontecendo agora, a revolução está começando aqui. Quero agradecer ao pessoal da Brazil Conference pelo espaço. Agradecer por vocês nos assistem. Ao time do Spotify Brasil que fez todo o corre, em especial Juliana Caju Monteiro, Lu Paulino, Rodrigo Varanda, sem vocês nada disso seria possível. É isso pessoal, voltando aqui para o pessoal do Brasil Conference de volta para o Pão de Açúcar. Gente muito obrigado novamente, eu queria apenas estar presencialmente para abraçar todos vocês, e com um abraço e dizendo que eu aprendi muito. Obrigado, vai rolar um abraço.
Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editor de Política Eduardo Kattah / Editores Assistentes Mariana Caetano e Vitor Marques / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo e William Mariotto / Designer Multimídia Bruno Ponceano, Dennis Fidalgo, Lucas Almeida, Vitor Fontes e Maria Cláudia Correia / Edição de texto Fernanda Yoneya, Valmar Hupsel e Mariana Caetano