Plataformas segmentadas unem oportunidades de emprego a currículos de pessoas negras, trans, com deficiência e 50+; especialistas dão dicas para facilitar a busca
Camila Saplak, Milena Tomaz e Victoria Netto
As empresas interessadas em contratar pessoas com determinado perfil podem usar essas plataformas segmentadas para facilitar o “match”. Há iniciativas exclusivas para pessoas negras, algumas voltadas para pessoas com deficiência, outras para trans e ainda as que focam em oportunidades para quem tem mais de 50 anos.
Mas isso não quer dizer que as empresas estejam anunciando a vaga exclusivamente nesses espaços. Do ponto de vista de quem vai contratar, usar plataformas específicas é mais uma maneira de garantir a diversidade nas candidaturas. Já quem se candidata deve cadastrar o currículo e pode buscar vagas filtrando por categoria, localidade e nível de escolaridade.
Dicas para chegar na sua vaga ideal
1Tenha foco e saiba seu valor: É comum, quando se precisa muito de um emprego, não parar para pensar, não avaliar o currículo ou não enxergar a carreira profissional como um todo. Pergunte-se sempre: “Qual vaga eu quero?, O que eu almejo?”. Saiba o seu valor e não “se apequene”, já que a sua diversidade só tem a agregar em qualquer ambiente de trabalho. Se você não pensar no seu futuro dentro da empresa ou na área para a qual você está aplicando, corre o risco de se desapontar e passar pela mesma situação repetidas vezes. As tentativas frustradas podem afetar a autoestima, mas tenha sempre em mente o seu potencial.
2Preste atenção ao currículo: Muitos bancos de vagas têm sistemas automáticos para “puxar” o currículo. Por isso, capriche nas palavras-chave. Além disso, um currículo assertivo é o que vai garantir que você passe para as outras etapas da seleção. Lembre-se sempre de valorizar suas qualidades, de contar sua trajetória profissional destacando as principais experiências e de enfatizar as características exigidas na vaga. Se você tem dúvidas sobre o que não deixar de fora do seu currículo e sobre o que inserir nele a respeito da sua diversidade, leia também esta reportagem.
3Tenha pensamento estratégico: Pense em estar em lugares que vão aumentar suas chances de conseguir uma colocação ideal. Para isso, além dos buscadores segmentados, capriche no Linkedin. A maior rede profissional do mundo tem grupos para pessoas 50+, LGBTQIA+, mulheres e PCDs, onde há headhunters procurando profissionais diversos e empresas divulgando suas vagas. Outra vantagem é que, na rede, você pode fazer network com profissionais que eventualmente podem indicar você.
Agora que você já sabe o que observar nesse tipo de recrutamento, listamos 17 plataformas que podem ajudá-lo na tarefa de encontrar a oportunidade ideal
Veja onde e como destacar sua diversidade para fazer um CV que aumente sua chance no processo seletivo
Fernanda Bastos, Milena Tomaz e Nina Gattis
Um bom currículo é a chave para conseguir a oportunidade de emprego desejada, todo mundo sabe. Essa máxima vale ainda mais quando se quer destacar a diversidade no perfil. A construção deste verdadeiro cartão de visita requer autoconhecimento, paciência e pesquisa. Para começar, é importante conhecer a empresa para só então escrever o documento - sim, é bom ter currículos específicos, dependendo da vaga a que está concorrendo e da empresa na qual pretende trabalhar.
Elaborar textos descritivos sobre sua personalidade, elencar as principais experiências que vão contribuir para a vaga desejada e desenvolver todas as ideias em menos de duas páginas é um grande desafio. Por isso, o Estadão conversou com especialistas no desenvolvimento de carreira para pessoas negras, com deficiência, transgênero ou mais maduras, que explicam passo a passo como usar este documento a seu favor.
Agora que você já viu o básico, vale a pena se aprofundar na questão e tirar suas dúvidas. Por que, por exemplo, é recomendável que pessoas trans usem o nome social no currículo? Quem explica é a consultora Gabriela Augusto, da Transcendemos. “Se você coloca os dois (social e de registro), corre o risco de confundir o recrutador.”
O recomendado é utilizar o nome usado no dia a dia e, se a empresa não entender, já serve como um filtro. “Se a empresa não respeita seu nome social, não vai ser uma boa experiência trabalhar lá”, afirma.
Para a especialista, é importante ter um campo reservado para explicar a deficiência, mas não no cabeçalho, e sim no fim do currículo, onde devem ser listadas possíveis necessidades específicas para execução de suas atividades. “Importante também mencionar as tecnologias assistivas que precisará para o trabalho”, explica. Além disso, vale escrever “pessoa com deficiência” por extenso, para evitar usar a sigla “PCD”.
No caso de pessoas negras, Rafael Barbosa, analista de Recursos Humanos da EmpregueAfro, não recomenda a inserção de informações sobre a raça no documento. Para ele, é uma questão para ser abordada no decorrer do processo seletivo.
Quando você se rotula como PCD, você está limitando o tipo de vaga”
Andrea Schwarz acredita que a biografia é o espaço para a pessoa defender seu propósito. “Acho que tem de contar um pouco de você, da sua história, seu storytelling, humanizar mais esse currículo. Mostrar por que você é singular”, afirma a especialista.
Em relação a pessoas transgênero, Gabriela Augusto acha que esse é o lugar ideal para colocar essa informação. “A transição de gênero pode ir em um pequeno bloco de texto”, indica. “Há empresas que buscam por profissionais trans. Então, colocar isso no currículo faz muito sentido, assim como os pronomes de preferência, para mostrar que você tem familiaridade com estas questões de inclusão”, diz a consultora.
Um currículo não pode ficar parado no tempo. E deve, sim, ser adaptado de acordo com a vaga que você está concorrendo. Essa realidade vale muito na hora de escolher as experiências para destacar. “É interessante dar mais espaço para as experiências que tenham relação com a vaga para a qual você está aplicando, filtrar as que fazem mais sentido para aquela empresa”, diz Gabriela Augusto. Se for relevante, vale a pena incluir um voluntariado ou uma participação em um centro acadêmico na faculdade.
Mauro Wainstock, sócio-fundador do Hub 40+, consultoria de diversidade etária e integração intergeracional, complementa que é importante escrever os resultados concretos que obteve, conquistas realizadas, projetos em que teve êxito e ações sociais. “Tudo em uma linguagem direta, simples, mas que transmita credibilidade e mostre a sua competência.”
O profissional 50+ precisa conhecer as ferramentas digitais mais utilizadas no mundo corporativo. Isso é imprescindível tanto para a sua adequada participação em testes, dinâmicas e entrevistas online quanto para o posterior treinamento e para o próprio trabalho, que está sendo executado de forma cada vez mais remota, destaca Wainstock.
De acordo com o especialista, características que antes eram seletivas hoje são obrigatórias no processo de recolocação. Estar sempre atualizado, inclusive para ter condições de se reinventar e encontrar novas oportunidades. Demonstrar resiliência e inteligência emocional, ter adaptabilidade e ser assertivo na comunicação tornaram-se exigências.
Com as soft skills, entender seus pontos fortes fica mais fácil”
Entre as habilidades, é importante dar visibilidade aos pontos fortes, às qualidades técnicas e às ferramentas comportamentais, também chamadas de soft skills, desenvolvidas ao longo da vida.
A construção desta etapa do currículo começa antes da fase de elaboração, com testes de personalidade para o autoconhecimento e de habilidades comportamentais, como 16 Personalities e Teste DISC.
Com as soft skills, entender seus pontos fortes fica mais fácil e isso é um insumo importante para o currículo, como orienta Gabriela Augusto, da Transcendemos.
Como anexar todos os exemplos de desenvolvimento profissional ao currículo? As opções são criar um site para colocar as peças e os trabalhos desenvolvidos ou uma plataforma que sirva como uma espécie de menu - como o Wix, para site, e o Linktree, para resumo. Ambos são gratuitos. Para disponibilizar o link do site ou do resumo no currículo, vai bem um encurtador de link, como o Bitly.
Mauro Wainstock recomenda caprichar indicando links que estejam em um blog, um site ou até mesmo nas redes sociais. “O importante é que sejam pertinentes com a vaga e possam agregar alguma informação adicional. A diversificação e qualidade deste material será proporcional ao impacto que ele causará no recrutador.”
Mesmo que não coloque o Facebook no currículo, recrutadores podem encontrá-lo facilmente. “Recrutadores e pessoas da empresa podem buscar, navegar e se deparar com coisas que não são tão interessantes. Isso inclui não só fotos sensuais, mas, às vezes, até um posicionamento mais enérgico, mais incisivo, sobre alguma questão política”, afirma Gabriela. Neste caso, vale a pena fazer uma autoavaliação e se perguntar: “Se você não se conhecesse e entrasse nas suas redes, que imagem você teria sobre si?”
Colocar o Instagram ou o Facebook no currículo só faz sentido se essas plataformas forem contribuir para a candidatura, como no caso de cargos que têm como requisito habilidades de gerenciamento de redes sociais. Já o LinkedIn é muito utilizado em currículos.
Ter uma presença ativa no LinkedIn, que é a maior rede profissional do mundo, pode fazer toda a diferença na hora da contratação. No Brasil, são nada menos do que 47 milhões de usuários. “É uma valiosa ferramenta para o profissional se destacar”, explica Mauro Wainstock. “A rede possibilita transmitir e absorver conhecimentos e fortalecer a reputação, além de permitir que a pessoa construa e multiplique relacionamentos com RHs de empresas que eventualmente possam contratá-lo.”
Uma ferramenta interessante, segundo especialistas, é a possibilidade de pedir recomendações aos contatos. “Essas ‘provas sociais’ são importantíssimas e contribuem significativamente para reforçar ainda mais o seu profissionalismo”, afirma Wainstock.
Para Rafael Barbosa, da EmpregueAfro, as interações são as melhores formas de se destacar na plataforma. “Adicionar os profissionais da sua área de atuação para conversas e trocas, bem como apresentação pelo chat com o resumo das vivências, comentários em postagens, compartilhamento de publicações e participação em grupos e posts”, sugere o analista.
Assim como o currículo avulso, o LinkedIn também permite fazer o seu, dividido em etapas. Se você quer especificar seu pronome de preferência, o mais adequado é fazer isso no campo do Título, que vem logo abaixo do nome. Se você é uma pessoa com deficiência, o melhor local é ao lado do nome.
“Diferentemente do currículo, ter essa informação logo no topo do perfil do LinkedIn ajuda recrutadores a encontrar você na busca”, explica Carolina Ignarra, CEO da Talento Incluir. Vale lembrar que o LinkedIn não possui um filtro específico para esse fim. Então, é preciso se adaptar da melhor forma. Pronto. Linkedin preenchido e currículo finalizado. Após uma revisão, é importante lembrar de salvar o documento em formato PDF, para não ser desconfigurado.
Dos selos de diversidade ao perfil dos porta-vozes das companhias no LinkedIn: veja como encontrar seu emprego dos sonhos
Camila Saplak, Nina Gattis e Victoria Netto
Com o tema diversidade ganhando espaço no meio corporativo, várias empresas passaram a se posicionar como inclusivas e aliadas de causas plurais. O problema é que muitas delas ainda não têm efetivamente políticas de inclusão. E como é que a gente sabe? Basta vasculhar na internet.
Se a empresa não age conforme o discurso, está à mercê de ser desmascarada, alerta a consultora Luanny Faustino, da CKZ Diversidade. “Nós já vimos CEO fazendo post sobre diversidade e inclusão (D&I) e, nos comentários, uma enxurrada de comentários de ex-colaboradores e atuais funcionários dizendo que não é bem assim.”
Para quem prioriza vagas em organizações que tenham política de D&I, existem diferentes formas de verificar se elas realmente praticam o que pregam, de acordo com a consultora. Aqui vão algumas:
1Pesquise em plataformas especializadas em monitoramento
Se você está de olho em uma vaga em um grande nome do mundo corporativo, vale a pena vasculhar o Glassdoor. Um dos maiores sites de vagas e recrutamento do mundo, publica uma lista com os melhores lugares para trabalhar. Entre os pontos avaliados está como as empresas lidam com diversidade e inclusão. Além disso, traz opiniões de pessoas colaboradoras (atuais ou ex), comparações salariais e relatos de entrevistas de emprego. Assim, dá para ficar por dentro da empresa antes mesmo de passar pela entrevista.
2Confira se a empresa tem selos de diversidade
Alguns selos institucionais concedidos por iniciativas públicas e privadas atestam o comportamento inclusivo de empresas. O Sistema B, por exemplo, visa à criação de uma comunidade global de CEOs e lideranças que acreditam em um mercado inclusivo, sustentável e equânime. Já o selo Great Place To Work (GPTW) avalia uma série de práticas, entre elas inovação, confiança e inclusão. O ranking tem categorias específicas para mulheres, público LGBTQIAP+, pessoas com deficiência e pessoas não brancas.
3Veja a ‘cara’ da empresa no LinkedIn
Não é novidade que as empresas vêm utilizando o LinkedIn para se comunicar com o mercado e mostrar muito além de lucros e receitas. Esse posicionamento mais humanizado e intimista oferecido pela rede social aproxima a empresa de clientes, pessoas colaboradoras e quem tem interesse em trabalhar na organização. Observe as publicações da empresa, há alguma referência a vagas inclusivas? Quem são as pessoas nos cargos de liderança? Existe diversidade entre quem colabora?
4Consulte empresas clientes ou parceiras de institutos confiáveis
No site do selo Great Place To Work, por exemplo, existe uma aba em que estão listadas todas as empresas certificadas. São mais de 60 páginas indicando nome, setor e localização. No ranking da Glassdoor, também é possível acessar um link que direciona você para vagas nas empresas listadas. Outra forma é verificar sites de consultorias de diversidade e inclusão e mapear quais as empresas que são clientes delas ou que são parceiras. Esse pode ser um termômetro e um “selo” indireto de que aquela corporação já tem estratégias de D&I em andamento. Algumas recomendações de sites são o da Mais Diversidade e do Instituto Identidades do Brasil (ID_BR).
5Acione uma pessoa da empresa para entender a realidade
Quem melhor para explicar a realidade de uma empresa senão quem está ali no dia a dia? Entre em contato com alguém que já integra o time para entender se a empresa é de fato diversa ou se o papo de inclusão é da boca para fora. No LinkedIn, você pode encontrar quem colabora ao buscar pelo perfil da empresa, clicando no menu “Pessoas” para ter acesso à lista - ao menos de quem que também tem um perfil na rede social. Mas atenção: não pergunte para a primeira pessoa que aparecer. Dê preferência para pessoas com cargos não tão altos.
6Olhe as fotos dos porta-vozes da empresa
Se todos os porta-vozes tiverem a mesma faixa etária, o mesmo gênero e a mesma raça, isso não é um bom sinal. Há empresas que pregam a diversidade e a inclusão, mas reservam para esses colaboradores apenas os cargos da base da pirâmide. Do que adianta empregar essas pessoas e não dar a elas uma possibilidade de crescimento? Companhias realmente diversas e inclusivas têm todos os tipos de colaboradores nos mais variados cargos. As vagas são preenchidas de acordo com as habilidades e as aptidões de cada indivíduo - e não com base em estigmas sociais.
7Questione a quem recruta quais as estratégias de D&I da empresa
Na hora da entrevista, o seu posicionamento também é importante. Você pode e deve perguntar qual o plano de ação de diversidade que a empresa tem. Se a pessoa recrutadora souber responder de imediato e trouxer informações concretas, é um sinal de que vive isso no dia a dia. Por outro lado, se houver hesitação ou forem dadas respostas vagas e imprecisas, esse é um indicativo de que a empresa não tem essas políticas implementadas no DNA. Isso porque, quando existem práticas e resultados de D&I e elas fazem parte da cultura da empresa, quem atua no recrutamento também deve saber falar a respeito de mudanças, avanços e metas.
8Descubra se a empresa participa de eventos que promovem inclusão
Fóruns de diversidade e inclusão com foco no ambiente corporativo são oportunidades de as empresas mostrarem o que têm feito nestes temas. Em geral, nesses eventos, as corporações fazem parte de painéis e compartilham aprendizados ou experiências positivas. Algumas dessas empresas inclusive patrocinam os fóruns e, por isso, costumam ser mais ativas em políticas de D&I dentro do próprio ambiente corporativo.
Pessoas transgênero têm direitos, como usar nome social no ambiente corporativo
Davi Medeiros e Letícia Simionato
Ela começou a ajustar sua aparência de forma sutil, fazendo a sobrancelha, arrumando o cabelo, desafiando o dress code. Foi o suficiente para sentir dos colegas um ar de estranhamento, como se o escritório não lhe pertencesse. “No Brasil, não é preciso usar palavras, o olhar diz tudo”, afirma.
No decorrer dos anos, Melissa continuou sofrendo preconceito mesmo após mudar de empresa, ao passo que deixava o cabelo crescer e fazia procedimentos de feminização facial. Chegou, inclusive, a esconder um implante de silicone com um “binder”, tecido utilizado para reduzir a aparência dos seios. Assim que começou a se libertar da expressão masculina, passou a se sentir solitária. “As pessoas reconheciam que meu trabalho era bom, mas não me chamavam para almoçar”, diz. Foi só na multinacional de tecnologia Accenture, onde trabalha hoje como gerente de consultoria empresarial, que se sentiu confortável para expressar seu gênero de forma plena.
Segundo as advogadas Brenda Melo e Izadora Barbieri, especializadas em Direito LGBTQ+ e fundadoras do escritório Harmonia Jurídica, a comunicação com a empresa, quando possível, é fundamental para garantir um ambiente apropriado durante a transição de gênero. “Recomendamos aos nossos clientes que procurem o RH e exijam seus direitos, que incluem uso do banheiro adequado e tratamento correto quanto aos pronomes”, afirmam.
Para Prates, um dos principais fatores de acolhimento durante a transição foi justamente a existência de um banheiro sem distinção de gênero em seu local de trabalho, uma vez que a IBM já possuía preparo para receber pessoas trans.
Já quando a transição de gênero passa a ser motivo de constrangimento no ambiente de trabalho, seja por comentários desagradáveis ou pelo não acatamento de direitos, a orientação das advogadas é procurar a ouvidoria, primeiramente, e, se não forem tomadas as providências cabíveis, abrir um boletim de ocorrência pelo crime de LGBTfobia. A mudança de gênero nos documentos da empresa, ressaltam as advogadas, é um direito que deve ser respeitado.
Sou privilegiado e tive acesso a hormônios, mas será que uma mulher negra trans de periferia, que não pôde fazer a mesma terapia, seria aceita da mesma forma?”
O Boticário, uma das marcas mais associadas à diversidade no Brasil, segundo pesquisa de 2020 do Grupo Croma, integra a lista de companhias que dedicam equipes inteiras a esta temática. O mesmo levantamento diz que 60% dos brasileiros não consomem marcas com comportamentos preconceituosos.
Segundo o head de Diversidade e Inclusão do Grupo Boticário, Renato Amendola, as empresas se beneficiam quando investem em representatividade interna, no quadro de funcionários, e quando ofertam produtos que atendem à pluralidade característica da população brasileira.
“Às vezes, este tema dá a falsa impressão de um cabo de guerra, como se alguém tivesse de perder para alguém ganhar, mas não é sobre isso, e sim sobre todo o mundo puxando a corda para a mesma direção”, diz.
Segundo levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população trans no Brasil tem a prostituição como fonte de renda. Se no mercado de trabalho formal muitos não têm abertura nem para expressar seu gênero corretamente, é ainda mais raro encontrar pessoas transgênero em cargos executivos.
Gustavo Glasser, homem trans e CEO da Carambola, consultoria para inclusão e diversidade no segmento de tecnologia, sabe que é um ponto fora da curva. Para ele, o mercado avançou pouco em ferramentas de contratação de pessoas diversas, e muitas vezes se limita a aceitar a diferença somente quando esta foge pouco à cisnormatividade.
“É preciso notar que tipo de diversidade essas empresas querem. Eu sou trans e aparento uma pessoa cis, pois sou privilegiado e tive acesso a hormônios, mas será que uma mulher negra trans de periferia, que não pôde fazer a mesma terapia, seria aceita da mesma forma?”, questiona Glasser.
Instituições oferecem oportunidades gratuitas de capacitação profissional; alguns cursos têm recorte específico de raça, gênero e faixa etária; confira a lista completa
Marcos Leandro e Victoria Netto
Liderança, soft skills, trabalho em equipe, inovação, gestão financeira e programação são conhecimentos cada vez mais requisitados no mercado de trabalho. Pensando nisso, diversas instituições têm oferecido cursos online e gratuitos, muitos deles destinados a grupos sub-representados no mercado de trabalho, como mulheres e homens negros/as, pessoas trans e travestis, além de profissionais com idade superior a 50 anos.
O Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, por exemplo, oferece mais de 300 cursos gratuitos em diferentes áreas voltados só para quem é 50+. Outras iniciativas, como a {reprograma} e EducaTRANSforma trazem formações exclusivas de TI e programação para mulheres, jovens negros e pessoas transgêneras ou travestis.
O setor de tecnologia, aliás, está cheio de oportunidades para quem tem qualificação. Não à toa, foi um dos grandes destaques de contratações ao longo de 2020. Só no último ano, o número de vagas abertas nesta área cresceu 310%, segundo a GeekHunter, empresa de recrutamento especializada na contratação de profissionais do ramo. Mas não é só de tecnologia que o mercado carece... Então, aproveite para aprimorar seus conhecimentos e dar uma alavancada na carreira. Melhor ainda: todos os 20 cursos são gratuitos.
Expediente
Coordenação e edição Carla Miranda e Luana Pavani / Reportagem Alunos do 10° Curso Estadão de Jornalismo Econômico: Bruna Camargo, Camila Saplak, Carolina Unzelte, Cris Almeida, Davi Medeiros, Erick Matheus Nery, Evandro Almeida Jr, Fernanda Bastos, Guilherme Bianchini, Gustavo Côrtes, Igor Soares, Ilana Cardial, Jefferson Perleberg, João Paulo dos Santos, Letícia Simionato, Luiza Ferraz, Marcos Leandro, Marianna Gualter, Milena Tomaz, Nina Gattis, Rebeca Soares, Sandy Oliveira, Thiago Ramos, Victoria Netto e Wesley Gonsalves / Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo, Carlos Marin e William Mariotto / Ilustrações Bruno Ponceano / Designers multimídia Dennis Fidalgo, Lucas Almeida e Vitor Fontes / Infografistas multimídia Diogo Shiraiwa e Gisele Oliveira