Benefícios flexíveis, auxílio-home office e até subsídio para processos de fertilização são utilizados por corporações para serem consideradas ‘dos sonhos’ no mercado de trabalho
Na tentativa de atrair e reter os melhores talentos e se consolidar como uma empresa dos sonhos, elas correm atrás do que vão oferecer para o futuro funcionário, seja benefícios diferentes do mercado, um salário acima da média, a possibilidade de trabalho flexível e home office ou até mesmo uma marca com propósito sustentável, de diversidade ou socioeconômico. Porém, mais do que se vender como a empresa dos sonhos, é preciso convencer o público externo de que essa máxima é verdade.
“Não tem mais candidato bobo. A informação está disponível na internet e a empresa não tem controle sobre ela. Se eu jogar no Google como é trabalhar na empresa X, eu vou achar vários sites com depoimentos contando de dentro para fora, de funcionário e ex-funcionário. Não dá para prometer algo e não ter”, afirma Caio Infante, cofundador da Employer Branding Brasil, empresa que faz a gestão estratégica de marcas empregadoras.
“Se você perguntar para profissionais de recursos humanos se os candidatos o confrontam com o que está em sites de análise de empresas, eles vão te falar que já aconteceu.”
Uma pesquisa anual feita pela consultoria McKinsey apontou, na sua edição 2020, que times diversos fazem com que as empresas apresentem melhores resultados financeiros e funcionários mais felizes e produtivos. O tema tem ganhado força no Brasil, principalmente com os processos seletivos intencionais, como os realizados pela Magazine Luiza e pela Bayer, exclusivos a profissionais negros, no último mês.
“Eu vou passar mais tempo trabalhando do que com a minha família, do que fazendo o que eu gosto, então eu preciso estar num lugar que faz sentido para mim e para minha carreira. E a diversidade também está nisso. Eu posso ser um homem, branco, heterosexual e cisgênero e querer saber se as empresas têm reais iniciativas, se elas conseguem empregar diversidade na prática, para além do discurso”, explica Infante.
Dentro da temática, há as empresas trendsetters, aquelas que apontam tendências e, com o passar do tempo, influenciam o mercado. No contexto da diversidade, por exemplo, a IBM é uma das pioneiras.
Neste ano, a empresa também passou a oferecer a cobertura de todos os procedimentos do processo transexualizador, como mastectomia, histerectomia, ooforectomia e tiroplastia.
Já a preocupação com a questão socioambiental ganha ainda mais espaço no contexto de retomada verde. Empresas como a Natura, que possui discurso e prática em prol da Amazônia, ganham destaque nesse quesito.
Mesmo antes da pandemia, muitas empresas já eram adeptas do trabalho flexível, seja home office de forma integral ou com a possibilidade de trabalhar de casa por alguns dias da semana. Com a pandemia, esse passou a ser um item bastante cobiçado pelos profissionais, como mostra pesquisa realizada pelo LinkedIn com mais de 3.400 respondentes. Segundo os resultados, no pós-pandemia, 64% preferem um modelo híbrido de trabalho (entre casa e escritório) e 26% preferem trabalhar apenas de casa.
Um levantamento feito pela PwC entre julho e agosto com mais de 300 empresas espalhadas por 31 países, entre eles o Brasil, mostra que 53% delas atualmente têm políticas de trabalho remoto e mais de 50% daquelas que ainda não possuem esse tipo de política preveem a implementação até o fim deste ano.
Algumas das empresas selecionadas na nossa lista de desejadas (leia mais abaixo), como Johnson & Johnson, já ofereciam a possibilidade do trabalho flexível antes da pandemia.
Muito além dos já tradicionais vale-alimentação, refeição, transporte e seguro saúde, a pandemia trouxe novas necessidades. Há empresas que passaram a oferecer auxílio-home office, que inclui o pagamento de contas de luz e de internet, além de crédito para comprar materiais ergonômicos para o trabalho em casa.
“Eu mentoro uma menina maravilhosa, de 20 e poucos anos, talentosíssima, que trabalha como analista de marketing em uma marca muito bacana. Ela mora no extremo sul de São Paulo e o que ela está procurando é que a própria empresa dê auxílio a internet, simples assim. Porque ela participa das reuniões e tem de ficar com a câmera desligada porque a internet é muito instável onde ela mora. No fim do dia, estamos de frente a velhas perguntas adaptadas para novos tempos e os novos dilemas ainda são excludentes, que a gente precisa passar pelo crivo de raça, gênero e classe”, conta Samantha Almeida, diretora do Twitter Next Brasil.
Outro atrativo das empresas é oferecer benefícios que são incomuns no mercado. O LinkedIn, por exemplo, oferece subsídio para os processos de fertilização e adoção, independentemente de gênero ou orientação sexual. O valor reembolsável é de até R$ 22 mil para até três tentativas de fertilização (totalizando R$ 66 mil). No caso de adoção, são cobertas despesas com viagem, audiências e taxas do processo.
“Cada vez mais as empresas podem flexibilizar e modular os seus benefícios. Em diversidade, falamos muito sobre os conceitos de igualdade e equidade, e isso pode ser aplicado aos benefícios. Sair do modelo duro, em que tudo é igual para todo mundo, e ir para o flexível, em que as pessoas podem ter mais poder de escolha e autonomia, faz mais sentido”, explica Amanda Aragão, líder da área de recrutamento e seleção da Mais Diversidade, consultoria de diversidade e inclusão para empresas.
O que mais uma empresa pode oferecer? Como me candidato a uma vaga na empresa dos sonhos? Muitas dessas respostas podem ser encontradas abaixo, na lista com 13 companhias escolhidas a partir de indicações de especialistas da área e de rankings de melhores locais para se trabalhar.
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Reportagem Marina Dayrell / Coordenação Sua Carreira Ana Paula Boni, Bia Reis e Carla Miranda / Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo, Carlos Marin, Glauco Lara e William Mariotto / Infografista Multimídia Edmilson Silva / Designer Multimídia Lucas Almeida