Ao chegar ao Planalto, Jair Bolsonaro frustrou as expectativas daqueles que esperavam uma moderação conduzida pelas instituições. Dentro da lógica de campanha permanente, o presidente apostou em manter-se fiel a um grupo de apoiadores radicalizados para seguir competitivo nas urnas. Mas, aos 66 anos, Bolsonaro sabe agora que precisará recuperar votos perdidos durante mais de três anos conturbados, com ameaças à democracia, crise econômica e mais de 645 mil mortos pela covid-19. E, para isso, vai apelar mais uma vez ao antipetismo e abraçar de vez o Centrão.
O ingresso no PL consolida a ruptura com o discurso que o elegeu em 2018, mas visa fortalecer o presidente num momento de alta constante da inflação, puxada pelo preço dos combustíveis, dificuldades para emplacar uma agenda ideológica e consolidação de seu maior oponente, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na liderança das pesquisas.
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Com o desempenho da economia no centro da preocupação do eleitor - e sem perspectivas de melhora a curto prazo -, a pré-campanha do presidente abusa da tática para mudar o foco do eleitor e com as mesmas estratégias: levantar dúvidas sobre estatísticas financeiras oficiais, intensificar embates mais ideológicos sobre costumes, duvidar de pesquisas de intenção de voto e bater na tecla de que as urnas eletrônicas não são confiáveis.
O alvo predileto continua sendo a Justiça. Na quarta, 18 de maio, Bolsonaro apresentou uma representação contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes na Procuradoria-Geral da República (PGR), horas após ver rejeitada uma notícia-crime com o mesmo teor pelo Supremo. O presidente alega abuso de autoridade cometido por Moraes na condução do inquérito das fake news.
A manobra insistente de Bolsonaro contra Moraes — primeiro no Supremo, depois na PGR — tem como pano de fundo o objetivo político de insuflar a militância bolsonarista nas redes para desviar o foco do debate público dos problemas do governo. Como mostrou o Estadão, a notícia-crime contra o ministro e o recurso ao Ministério Público mobilizaram a base de apoiadores do presidente no Twitter, que chegou a ter 104 mil publicações com menções ao magistrado.
O presidente Jair Bolsonaro foi filiado a quantos e quais partidos?
Mas o resultado eleitoral, por enquanto, está longe do esperado. Os indicadores econômicos frearam a recuperação de Bolsonaro nas pesquisas de maio, segundo analistas. Na quarta, 11, a pesquisa Genial/Quaest mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém a liderança, com 46% – dois pontos a mais que há um mês –, enquanto Bolsonaro segue no mesmo patamar (29%). Na semana anterior, levantamento divulgado pelo Ipespe também apontou estagnação.
Além disso, a segunda rodada da pesquisa Ipespe de maio, divulgada na sexta-feira, 13, mostrou que 74% dos eleitores já decidiram em quem votar no dia 2 de outubro, segundo o cenário espontâneo do levantamento. O presidente Jair Bolsonaro é o terceiro pré-candidato mais lembrado, com 25 citações. Segundo pesquisa interna do PL, o partido do presidente, ele terá que lidar na disputa com um “gargalo” de seu governo, que, na avaliação interna, não obteve sucesso em divulgar os seus feitos.
Na tentativa de turbinar a campanha à reeleição do presidente, a base governista enviou ao Congresso um projeto de lei que flexibiliza o limite de gastos públicos com propaganda governamental em anos eleitorais para órgãos federais, estaduais e municipais. Isso, claro, além das motociatas e live semanais com foco eleitoral.
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