Nova Delhi e a proposta que tenta acabar com reputação de pior cidade do mundo para mulheres

Governo da capital indiana quer implementar tarifa gratuita do transporte público para mulheres, uma política pública inédita; objetivo é tornar locomoção mais segura para mulheres, constantemente vítimas de assédio sexual e estupro

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Por Redação
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NOVA DELHI – A capital da Índia sofre com a reputação por ser uma das piores cidades no mundo para mulheres. Agora, quer mudar essa realidade com um plano mundialmente inédito: tornar o transporte público gratuito para mulheres.

Mulheres caminham em frente a uma loja em Nova Delhi durante o mês sagrado dos islâmicos, Ramadã Foto: Adnan Abidi/REUTERS

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O governo do território anunciou a medida em junho. Segundo oficiais, o objetivo é melhorar a segurança para mulheres e facilitar o ingresso delas no mercado de trabalho. A cidade tem uma extensa rede de ônibus, além do metrô, com mais de 370 km em linhas.

Arvind Kejriwal, líder do poder executivo da cidade, afirmou que a segurança das mulheres seria prioridade máxima em seu governo.

Apesar de algumas cidades europeias terem experimentado anular as tarifas de transporte público para residentes, Nova Delhi seria a primeira cidade no mundo a adotar tal política somente para mulheres.

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A má reputação de Nova Delhi no quesito de segurança para mulheres é um dos principais incentivos para o lançamento da proposta. Em 2012, o estupro coletivo que resultou na morte de uma universitária dentro de um ônibus, administrado pela iniciativa privada, estremeceu o país. Mulheres tomaram conta das ruas em diversas manifestações desde então, em protesto ao elevado índice de estupros na Índia.

Uma pesquisa mundial com especialistas em gênero da Thomson Reuters, em 2018, classificou Nova Delhi como a pior cidade no mundo por assédio sexual e violência contra as mulheres. A capital indiana ficou empatada com São Paulo na lista.

O metrô é considerado o modo mais seguro de transporte, devido o extenso aparato de segurança, incluindo guardas mulheres nas entradas. Os trens também têm vagões exclusivos para mulheres, medida que São Paulo tentou implementar.

Enquanto isso, muitas ruas na cidade são escuras e desertas è noite, fazendo com que andar sozinha seja um alto risco para as mulheres.

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Além da segurança, o governo acredita que o uso gratuito do transporte público para mulheres ajudaria a aumentar o número delas no mercado de trabalho, quesito no qual a Índia é deixada para trás. O último censo oficial de 2011 mostra que somente 11% das mulheres em Delhi trabalham, o menor índice entre as cidades indianas.

Para conseguirem um emprego, muitas vezes mulheres viajam longas distâncias de suas casas, e o custo do transporte pode ser um fator crucial.

“Isso vai aumentar o empoderamento econômico das mulheres”, disse Jasmine Shah, servidora do governo estadual responsável pelo encaminhamento da proposta. “Nós estamos olhando para o transporte público como um bem comum”.

Internacionalmente, os exemplos da Europa são motivadores. A capital da Estônia, Tallinn, tornou transporte público gratuito para todos os residentes em 2013, e a medida está em curso para expansão no país inteiro.

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Em um ano, Tallinn registrou um aumento no uso de transporte público, apesar de o número de carros nas ruas não ter apresentado uma redução significativa. Estudos apontaram que o uso de transporte público aumentou drasticamente nos grupos de baixa renda, entre outros.

O governo de Nova Delhi espera implementar a proposta até setembro, mas restam questões para resolução. Apesar de Nova Delhi controlar a rede de ônibus, o metrô é administrado em conjunto com o governo federal, liderado por um partido político diferente.

Até o momento, a opinião pública em relação à nova proposta tem sido dividida. Críticos apontam que a proposta é uma manobra eleitoral do governo Kejriwal, que deseja retornar ao poder nas eleições do ano que vem.

Outros críticos apontam que a medida em si é discriminatória e carrega um preço. Uma usuária do Twitter defendeu que mulheres podem pagar pelos seus bilhetes de metrô, e pediu que a isenção fosse dada aos “necessitados ou estudantes”. Outra comentou que os residentes de Nova Delhi não iriam “vender nossos votos por viagens gratuitas de ônibus e metrô”.

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E. Sreedharan, administrador do Metro de Delhi, popularmente conhecido como o “Homem do Metrô”, escreveu uma carta ao primeiro-ministro indiano Narendra Modi, alertando-o para driblar a iniciativa. Sreedharan argumenta que corridas gratuitas às mulheres iriam “levar o Metrô de Delhi à ineficiência e à falência”.

Mas Shah afirma que o governo local irá custear as passagens de metrô à administração das vias, a fim de garantir que sua operação permaneça inafetada. Segundo a estimativa dos responsáveis pela rede de metrô, a nova política deve custar ao governo US$ 217 milhões anuais, uma cifra que o estado pode cobrir.

“O número total de usuários irá aumentar”, defende Shah. “Como o governo de Delhi vai pagar por isso, a saúde financeira do metrô, na verdade, irá melhorar”.

Um recente aumento nas tarifas do metrô em outubro de 2017 levou a uma queda brusca de usuários, uma medida pela qual o governo estadual havia se posicionado contra.

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O partido que compõe o governo estadual afirmou que há apoio em peso à medida pelas mulheres entrevistadas em pesquisa realizada em Nova Delhi. Algumas citaram economia de dinheiro e acessibilidade, enquanto outras classificaram o metrô como o meio de transporte mais seguro.

Especialistas divergiram em relação ao efeito da proposta, porém a maioria concorda que as cidades indianas precisam formular políticas de transporte público que visem inclusão de gênero. / W. POST