A política de ajuste apresentada pelo governo é mera imposição da realidade, sustentou o ministro quase no fim de sua exposição. Pode-se discutir se o cardápio de medidas proposto pelo governo é o mais adequado, menos custoso e mais equilibrado na composição. Pode-se debater, por exemplo, a conveniência de recriar o imposto do cheque, a CPMF. Mesmo com prazo de vigência, nada garante sua extinção em dois ou quatro anos, especialmente se os governos estaduais tiverem acesso a uma parte do dinheiro. Pode-se criticar o alcance das medidas programadas para a obtenção do resultado fiscal pretendido para 2016. Mas a precedência do ajuste fiscal, como condição indispensável a todo o resto, é indiscutível.
Não haverá controle da inflação sem melhora financeira do setor público, nem será possível baixar os juros sem risco de maior desarranjo nos preços. O voluntarismo na política monetária foi mais uma vez testado entre 2011 e 2013. O resultado foi aquele previsto por qualquer pessoa sensata. As pressões inflacionárias manifestaram-se mais livremente, os preços dispararam e a insegurança cresceu.
A reparação desse erro impôs um enorme aperto na política de juros, com efeitos muito ruins sobre a atividade econômica e sobre a evolução da dívida pública.
Seria uma enorme tolice repetir esse teste, mas parte dos críticos da política, incluídos, naturalmente, os petistas e seus aliados, insiste nesse ponto, como se eles fossem impermeáveis à experiência.
Mesmo sem citar esses críticos, o ministro foi claro em seu recado. Não haverá, insistiu, redução de juros antes de avanço na política anti-inflacionária e – como condição – no conserto das contas públicas.
Mas a arrumação fiscal, advertiu, envolve a liquidação de atrasos e, portanto, a realização de gastos postergados. “Nós estamos pagando mais de R$ 20 bilhões em subsídios de 2012, 2013... No ano passado só foram pagos R$ 4 bilhões.” O governo, explicou, está pondo a casa em ordem, pagando coisas do passado – como despesas do Programa de Sustentação do Investimento e do apoio à agricultura. Traduzindo: além da gastança e do uso irresponsável de recursos do Tesouro, houve a acumulação de compromissos pendurados. O ministro poderia ter apontado um interessante e instrutivo paralelo entre as contas públicas e a inflação. Para ajustar a parte fiscal é preciso, inicialmente, dar um jeito nos esqueletos deixados pela administração anterior. Isso exige despesas. Da mesma forma, o combate à inflação é ainda dificultado, nesta altura, pela alta dos preços politicamente represados numa fase anterior – como os da eletricidade.
Retomar a política do famigerado modelo, como cobram os companheiros da presidente, é reeditar toda essa esbórnia. Para contornar esse risco, o governo tem de vencer pressões de seu partido, de parte do empresariado e de grande parte dos congressistas. Cada aumento do dólar e cada susto dos investidores e credores são um reflexo dessa insegurança.
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