A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) anunciou ontem acordo com a Andrade Gutierrez Concessões e com o Fundo de Investimentos em Participações PCP, do Pactual, para a transferência de ações da distribuidora de energia Light, que atua no Estado do Rio. Segundo fato relevante distribuído ontem, a Andrade Gutierrez repassará à Cemig, por R$ 785 milhões, 26.576.149 ações ordinárias da distribuidora, volume equivalente a 13,03% do capital da companhia. No caso do PCP, a Cemig acertou a compra dos 55% que o fundo detém na Equatorial, dono de outros 13,03% da Light. Pela fatia do PCP, que corresponde a 7,22% da Light, a Cemig vai pagar R$ 434,9 milhões. Se comprar também a participação dos outros sócios na Equatorial, a operação pode chegar aos mesmos R$ 785 milhões acertados com a Andrade Gutierrez, e a Cemig passará a deter, direta ou indiretamente, 39,09% da Light - a empresa já tinha 13,03% das ações. Cemig, Andrade Gutierrez e Equatorial, juntamente com a Luce, dividem, dentro do consórcio Rio Minas Energia (RME), o controle da Light, com 13,03% de participação cada. O RME assumiu o controle da distribuidora em 2006, por US$ 319,8 milhões. Antes, a dona da Light era a francesa EDF, que venceu o leilão de privatização realizado em 1996. O desejo de ampliar participação na companhia já havia sido anunciado pela Cemig, que vem tocando um vigoroso programa de expansão das atividades, com a compra de empresas com atuação em todos os segmentos do setor de energia. A Andrade Gutierrez, por sua vez, busca adquirir participação na própria Cemig, com a compra de ações pertencentes à Southern Electric Brasil (SEB), controlada pelo banco Opportunity, pela americana AES e pelo BNDES. Em setembro, as partes anunciaram um acordo para a transferência das ações por US$ 25 milhões. A operação depende, porém, do processo de renegociação da dívida de US$ 1,4 bilhão que a SEB tem com o BNDES por conta da aquisição dos papéis.Segundo o fato relevante, a compra das ações da Andrade Gutierrez pela Cemig será dividida em duas etapas. A primeira, que envolve 12,5% do capital, será fechada assim que a operação for aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pelos financiadores da Light, ao valor de R$ 753,05 milhões. A segunda, 180 dias depois, envolve as ações restantes, a R$ 31,949 milhões, corrigidos pela taxa CDI. O valor foi calculado com base na cotação de R$ 29,54 por ação.Mesmo valor está sendo usado na operação negociada com a PCP. Essa operação depende de um processo de cisão da Equatorial, que envolve a criação de uma nova empresa listada no Novo Mercado da Bovespa. O processo deve ser concluído no prazo de 18 meses, no qual o valor do pagamento será corrigido também pela taxa CDI.Todo o processo é tocado paralelamente a uma grande reestruturação societária na Light, anunciada no mês passado pelos seus controladores. O objetivo é reduzir o número de empresas controladoras e participações cruzadas, garantindo participação direta aos principais acionistas. Além do consórcio RME, compõem o capital acionário da Light o braço de participações do BNDES (BNDESPar) e minoritários do Novo Mercado da Bovespa, cada parte com 23,4% de participação. A Cemig informou que as operações dependem de aprovação de órgãos reguladores. A compra de participação na Light, em 2006, marcou a estreia da Cemig na distribuição de energia fora de seu Estado de origem, dando início a um processo de nacionalização das atividades que envolveu a compra de empresas de geração e transmissão de eletricidade, como a italiana Terna. No mercado, especula-se ainda um interesse da empresa em ativos do grupo Rede e na Companhia Energética de Brasília (CEB). Além disso, a Cemig é apontada como uma das concorrentes à compra da distribuidora de gás canalizado Gas Brasiliano, posta à venda pelo grupo italiano Eni. Controladora da distribuição de gás em Minas Gerais, a empresa tem atividades também na área de exploração e produção de petróleo e gás natural, arrematando áreas exploratórias na Bacia de São Francisco, no interior de Minas Gerais.O crescimento da companhia é visto com bons olhos pelo mercado, que considera a Cemig um exemplo de companhia energética integrada. Por outro lado, a expansão era encarada por detratores do governador de Minas, Aécio Neves, como uma estratégia política para projetar-se nacionalmente. Até o início do mês, Aécio era um dos pré-candidatos do PSDB à Presidência da República - este mês, ele anunciou sua desistência da candidatura.
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