DIVERGÊNCIAS
A publicação de um decreto presidencial na semana passada, condicionando a liberação de recursos de emendas parlamentares à aprovação do projeto, foi apontado pelos oposicionistas como um instrumento de chantagem do governo para pressionar os aliados.
O decreto descontingencia o Orçamento para as emendas que têm pagamento obrigatório, determinado pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Pela nova liberação, cada deputado teria direito a cerca de 740 mil reais em emendas. Neste ano, o governo já empenhou cerca de 5,5 bilhões de reais em emendas parlamentares individuais.
"Hoje, a presidente da República, repito, coloca de cócoras o Congresso Nacional, ao estabelecer que cada parlamentar aqui tem um preço. Os senhores que votarem a favor desta mudança, valem 748 mil reais", disse o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), candidato derrotado à Presidência da República.
Já o líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), afirmou que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, também precisou modificar o cálculo da meta em 2001.
"Quando foram governo, também mudaram a LDO e não fizeram todo esse drama que aqui fazem”, disse. O projeto altera a LDO para permitir a flexibilização da meta.
O projeto que flexibiliza a meta foi cercado de reviravoltas desde o início de sua tramitação. A proposta chegou a ter sua aprovação na Comissão Mista de orçamento (CMO) adiada duas vezes até que fosse definitivamente enviada ao plenário do Congresso.
Já no plenário, na última terça-feira, as divergências chegaram a provocar confrontos entre a polícia legislativa e manifestantes instalados na galeria do plenário da Câmara, contrários à aprovação da matéria.
RESPONSABILIDADE
Caso o projeto não seja aprovado até o final dos trabalhos do Legislativo, a oposição promete acusar a presidente de crime de responsabilidade, o que, no limite, poderia até mesmo levá-la ao impeachment, segundo os oposicionistas.
Uma fonte do Planalto, porém, disse à Reuters sob condição de anonimato que há um entendimento jurídico no governo de que a presidente não poderia ser acusada por crime de responsabilidade caso o projeto que altera o cálculo da meta de superávit não seja aprovado. O auxiliar presidencial não soube dizer, no entanto, em que se baseia essa leitura.
Na avaliação do governo, a responsabilidade recairia sobre o ministro da Fazenda, razão pela qual Joaquim Levy, indicado para suceder Guido Mantega na pasta, só tomará posse após a aprovação do projeto.
(Reportagem adicional de Jeferson Ribeiro)
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