Os petistas e a própria Dilma Rousseff estão convencidos de que a batalha do impeachment está perdida, daí essa decisão absurda e irresponsável de pura revanche, que foi informada a deputados governistas – alguns dos poucos que sobraram – em reunião realizada na terça-feira com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Essa sabotagem revanchista, reveladora da absoluta carência de genuíno espírito público de um partido que desde que assumiu o governo elegeu como prioridade a perpetuação de seu projeto de poder, faz parte da estratégia com a qual os petistas, com o apoio das entidades e organizações sociais que controlam, já começaram a “infernizar” a vida de Michel Temer, mesmo antes da instalação do governo provisório.
Na manhã de quinta-feira – e este é apenas um exemplo da ação de guerrilha já em curso –, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) promoveu a paralisação do trânsito em pelo menos 13 avenidas e rodovias da Grande São Paulo, com o objetivo, segundo nota divulgada, de “denunciar o golpe em curso no País e defender os direitos sociais, que serão ameaçados pela agenda de retrocessos apresentada por Michel Temer caso assuma a Presidência”. Em tom ameaçador, acrescenta a nota: “Não aceitaremos golpe. Nem nenhum direito a menos. Vai ter luta e resistência popular”. CUT, MST e UNE, entre outras entidades que gravitam na órbita do PT, planejam a execução contínua de ações semelhantes. É óbvio que a maior prejudicada de imediato por essas ações de verdadeiro terrorismo urbano é a população, cuja mobilidade fica gravemente comprometida. Mas, em nome de uma “causa popular”, para os “defensores da democracia”, quanto pior, melhor.
O desespero dos petistas diante da forma vergonhosa como seu ciclo de hegemonia política está se extinguindo leva-os a escancarar a intolerância que, mesmo no exercício do poder, sempre foi uma característica marcante de seu comportamento político. Essa intolerância sempre esteve na raiz da estratégia de dividir o País entre “nós” e “eles” e agora se acentua na ilusão de que será possível promover um retorno de pelo menos 14 anos na história do Brasil, quando a estrela do PT era símbolo da renovação das práticas políticas que promoveriam o progresso e a justiça social. Para o PT, o progresso era então um privilégio das elites e a injustiça social o meio para mantê-lo. Assumiram o poder, substituíram o progresso pela incompetência e a justiça social pela corrupção generalizada e, ao darem com os burros n’água, voltam agora a responsabilizar “eles” por todos os males que afligem os brasileiros. Só a intolerância com “eles” poderá salvar o Brasil – é a palavra de ordem que desmascara a vocação autoritária de Lula e seus bajuladores e promete levar às ruas não a saudável manifestação do contraditório democrático, mas o rancor rançoso do fundamentalismo populista.
Tudo indica que querem que seja assim: depois de Dilma ser afastada provisoriamente da Presidência, ela e Lula transformam o Palácio da Alvorada em bunker da “resistência democrática” e ambos saem pelo País e pelo mundo – se possível, em aviões da FAB – provocando indignação geral contra o “golpe” e a catastrófica recessão da economia brasileira, o insuportável aumento do custo de vida, o devastador aumento do desemprego. Tudo, é claro, por culpa “deles”. Alguém duvida?
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