Para combater a pirataria, editoras investem em livros personalizados

Para acabar com o xerox, obras são ''fatiadas'' e capítulos, vendidos de acordo com a demanda de universidades; economia estimada com o sistema é de 80%; biblioteca virtual universitária oferece, por meio de assinatura, acesso online a conteúdo didático

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BRASÍLIA Se ler é o melhor remédio, a "leitura fatiada" é o melhor antídoto contra a pirataria da indústria de xerox. Com essa filosofia, editoras investem cada vez mais no mercado de livros customizados, que reúnem conteúdos selecionados de acordo com a demanda de cada instituição de ensino. Funciona assim: em vez de comprar um exemplar que não será lido nunca do início ao fim, o estudante adquire apenas os capítulos que realmente lhe interessam, a um preço mais em conta e dentro da legalidade. O grupo universitário Estácio, que já entrega gratuitamente o material didático aos seus alunos, levou a ideia a um patamar adiante: vai oferecer os textos em tablets, também de graça. "Para coibir a pirataria, você precisa oferecer alternativas viáveis e mais eficazes", diz Roger Trimer, diretor-editorial e de conteúdo da Pearson Brasil, empresa do gigante que reúne marcas como Longman, Prentice Hall e a editora Penguin. "O livro customizado surge como uma forma de otimizar o conteúdo. Em vez de um calhamaço de folhas reproduzidas de maneira ilegal, o estudante paga um preço mais justo e acessível por um livro fracionado, que vai acompanhá-lo pelo resto da vida." Entre os clientes da Pearson, que faz livro customizado desde 2005, estão instituições como a Anhanguera Educacional e a Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). O volume de obras encomendadas cresceu 40% em 2010, quando comparado ao ano anterior. Outras empresas, como a editora Saraiva, também exploram o nicho. Em tablets. A economia com o livro customizado pode chegar a 80%, calcula Trimer. Além da "leitura fatiada", a Pearson aposta na Biblioteca Virtual Universitária, por meio da qual as instituições fazem uma espécie de assinatura para liberar o conteúdo didático aos alunos na internet. Mais de 1 milhão de universitários têm acesso à biblioteca online, conseguindo acessar os textos na web, sem baixá-los. Na Estácio, 5,5 mil alunos vão ganhar tablets para a leitura dos textos - um software está sendo desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR). "Trocaremos o custo de impressão dos livros e da distribuição deles pelos Correios por um equipamento que só traz vantagens e promove a inclusão digital", comenta o diretor de marketing do grupo, Pedro Graça. Em comum, os tablets da Estácio e os livros customizados respeitam a legislação dos direitos autorais e livram os estudantes da compra de exemplares que não são aproveitados na totalidade. Desde 2009, a Estácio entrega o material impresso aos matriculados - só no ano passado, pagou cerca de R$ 3 milhões em direitos autorais. O objetivo agora é estender os tablets aos 210 mil alunos em cinco anos, o que deve gerar uma economia de 240 milhões de páginas no período. O investimento total para a implantação do novo modelo de ensino vai chegar a R$ 40 milhões. Pirataria. A "pirataria" de livros faz o mercado editorial de obras técnicas, científicas e profissionais perder mais de R$ 1 bilhão por ano no País, de acordo com a ABDR. Todos os anos, seriam reproduzidas pelo menos 4 bilhões de cópias ilegais, apenas entre a população que cursa ensino superior. A legislação nacional considera a cópia de xerox sem autorização expressa do autor ou de quem o represente uma violação com pena de dois a quatro anos de prisão e multa.

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