Na reunião do PSDB paulista sobre as regras das prévias do partido que definirão o candidato tucano ao governo de São Paulo, dirigentes da sigla admitiram não ter à mão o cadastro de todos os filiados aptos a votar na disputa neste domingo, 18. No encontro, um dos tucanos pede que seja obrigatório o uso de título eleitoral para votar. A medida não teve consenso e um dos participantes minimiza o risco de fraude: “efeito colateral”.
A constatação foi feita no dia 8 de março, em encontro na sede do partido na zona sul da capital paulista. O Estado teve acesso à gravação feita por um dos participantes da reunião, que teve a presença do vice-prefeito Bruno Covas. Também estavam presentes representantes do prefeito João Doria; do secretário estadual de Desenvolvimento Social, Floriano Pesaro; do suplente de senador José Aníbal; e do cientista político Luiz Felipe d’Ávila, concorrentes na disputa interna.
As prévias vão ocorrer em 131 locais de votação – 58 na capital e 73 no interior do Estado. Uma das primeiras perguntas feitas por representantes dos pré-candidatos foi: “Quantos podem votar?” Ninguém sabia exatamente o número. Um dos integrantes da executiva do PSDB disse que, segundo dados externos do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), 308 mil filiados estariam aptos a votar, mas no partido só constavam 110 mil nomes.
+++Doria decide revogar decreto que garantia segurança pessoal a ex-prefeitos
Diante das fragilidades da lista, o indicado por Aníbal para a comissão, Luís Sobral, alerta que seria melhor que fosse exigido o título eleitor para evitar fraudes. A proposta foi logo rebatida por um aliado de Doria: “Ninguém anda com título”, afirmou Evandro Losacco. “Essa possibilidade de fraude foi avaliada. Ela tem que ser contemplada como efeito colateral. É muito complicado exigir título eleitoral”, disse em seguida César Gontijo, secretário-geral do PSDB e aliado do prefeito.
Questionado pelo Estado sobre sua fala, Gontijo afirmou que o “efeito colateral” mencionado “foi sanado”. “Fiquei com essa preocupação depois da reunião. Decidimos que o eleitor leve de preferência o título de eleitor”, disse ele, após ser informado da gravação de suas declarações. O documento, porém, admitiu, não será obrigatório.
Transporte. Bruno Covas levantou a questão de como o estatuto da prévia deveria tratar do transporte de eleitores. Gontijo diz que, “historicamente”, o partido usa ônibus para transportar filiados em convenções. “Mas isso não é convenção. Há uma disputa de poder”, responde Sobral. “Precisa de uma regra para a imprensa não explorar isso”, interrompe Losacco.
Sobral sugere que o partido pague o transporte, mas a ideia é descartada por Gontijo – ele alega falta de dinheiro. “Vai ter ônibus de Bertioga levando para votar em Guarujá”, diz Bruno Covas. “Quero me declarar diametralmente contra a possibilidade de liberação desse tipo de contratação. Se for ter transporte, então que o partido pague. Quem tem meio contrata ônibus, quem não tem perde votos?”, questiona Sobral. “Mas isso é óbvio em qualquer lugar do mundo”, diz Bruno Covas. O transporte de eleitores é vetado pela lei na qual se baseia o estatuto da eleição interna do PSDB. A comissão decidiu que será permitido levar filiados para votar, mas o serviço não poderá ser pago pelos pré-candidatos.
“O que mais me preocupa nessa prévia é a total impossibilidade de fiscalização. Não temos segurança que não vai haver fraudes”, disse Pesaro ao ser questionado pelo Estado sobre a reunião. “Minha equipe está apurando denúncia de que estariam pagando gasolina e ajuda de custo.”
“Isso virou uma esbórnia”, afirmou Aníbal. Segundo ele, transporte de eleitor “é crime e pode levar à impugnação das prévias”. “As prévias foram organizadas de forma açodada”, disse d’Ávila. Em nota, Bruno Covas afirmou que o que foi discutido na reunião foi votado pela executiva.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.