EXCLUSIVO PARA ASSINANTES

Quer parar de fumar?

Parar de fumar de uma só vez talvez seja menos trabalhoso do que a diminuição gradual

PUBLICIDADE

Por Jairo Bouer

É bem verdade que em tempos de crise, quer seja ela econômica, política ou emocional, fica muito mais difícil abandonar o cigarro. Para os fumantes do País talvez este seja um péssimo momento para tomar essa decisão, uma vez que o que se viu por aqui na semana passada é de deixar qualquer brasileiro com os nervos à flor da pele. Mas, vamos lá, esperando contribuir para a saúde física e mental de quem anda propenso a buscar dias melhores, algumas novas pesquisas prometem ajudar.

PUBLICIDADE

O primeiro trabalho, feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, revela que parar de fumar de uma vez é um método 25% mais efetivo para conseguir o sucesso do que ir fazendo uma diminuição progressiva. O estudo foi publicado no periódico Annals of Internal Medicine e divulgado pelo site da BBC Brasil.

Os cientistas acompanharam 700 pessoas, divididas em dois grupos (interrupção gradual e parada abrupta), que estavam tentando parar de fumar. Todas receberam acompanhamento especializado e podiam obter terapias de reposição de nicotina (adesivos, sprays ou chicletes) gratuitamente no sistema público de saúde (NHS). Seis meses depois de tentar largar o cigarro, cerca de 15% do grupo de interrupção gradual continuava sem fumar. Já no grupo da parada abrupta, 22% seguiam livres do tabaco.

No Brasil, apesar de uma queda importante no número de fumantes nos últimos anos (cerca de 30% só na última década), os dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que cerca de 11% dos brasileiros adultos ainda fumam no País – mais de 20 milhões de pessoas.

Bom lembrar que parar de fumar é jogo duro, mas não impossível. Por conta própria, sem nenhuma forma de ajuda, de 1% a 2% das pessoas conseguem sucesso no longo prazo. Com apoio e uso de reposição de nicotina (como no estudo britânico), as chances se ampliam em 10 a 20 vezes. Com os medicamentos mais específicos (bupropiona, vareniclina), que diminuem o “craving” (a vontade incontrolável) de fumar, essa taxa fica ainda mais alta.

Publicidade

É claro que parar de uma só vez exige esforço e comprometimento iniciais maiores, mas no longo prazo talvez seja menos trabalhoso do que ir administrando a diminuição gradual.

Relações sociais. Outro estudo britânico da semana passada, da Universidade de Dundee, sugere que adolescentes mais sociáveis são menos propensos a fumar, beber e usar outras drogas. Mais de 1 mil estudantes de 13 a 17 anos foram avaliados e, quanto mais fortes eram as conexões com família, colegas de escola e amigos, menores as chances de abuso de substâncias. O trabalho foi publicado no British Journal of Developmental Psychology e divulgado pelo jornal Daily Mail.

Entre os jovens que não se relacionavam bem em casa, na escola e na rua, 24% já haviam experimentado o cigarro. Entre os que se socializavam de forma adequada, esse índice era de menos de 9%.

Em um estudo anterior do mesmo grupo de pesquisadores também foi identificada uma correlação entre problemas de socialização e dificuldades emocionais, o que poderia até explicar a maior busca por álcool, tabaco e drogas entre esses adolescentes. De qualquer modo, parece que, quanto maior a rede de contatos sociais e habilidade em formar vínculos, melhor a proteção contra o abuso de substâncias.

Vacina contra nicotina?. Uma nova esperança poderá estar disponível no arsenal de recursos contra o cigarro nos próximos anos. Uma equipe da Universidade de Scripps, na Califórnia, nos Estados Unidos, está testando, ainda em animais, uma espécie de vacina que ajuda a diminuir os efeitos da nicotina no cérebro. O trabalho foi publicado no Journal of Medicinal Chemistry e divulgado pelo Daily Mail.

Publicidade

O produto aumenta o nível de anticorpos que se ligam às moléculas de nicotina, retardando os seus efeitos no organismo, e, assim, diminuindo a vontade de fumar um novo cigarro. A nova terapia poderia, além de ser mais efetiva, provocar menos efeitos colaterais do que os remédios atuais. É esperar para ver!

*JAIRO BOUER É PSIQUIATRA