A Congregação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo decidiu ontem, de forma unânime, considerar o reitor da USP, João Grandino Rodas, persona non grata na escola. A congregação, da qual fazem parte alunos, funcionários e professores da faculdade, decidiu encaminhar ao Ministério Público uma lista de medidas tomadas por Rodas - ex-diretor da unidade - que julga "merecedoras de atenção". Rodas não comentou a decisão. Entre os pontos que mereceriam investigação, segundo a comunidade da São Francisco, estão o uso de verba pública para produzir boletins com críticas à faculdade e o fechamento da biblioteca. Após o anúncio da congregação, estudantes fizeram um ato contra Rodas (mais informações nesta página).A proposta de considerar Rodas persona non grata foi apresentada à congregação pelo professor Sérgio Salomão Shecaira, o mais exaltado. "Hoje é um dia memorável", disse. "Tive o tesão de propor à congregação que essa prerrogativa de persona non grata fosse dada ao Rodas."A crise teve início antes da posse do reitor, em 2010, e se agravou nos últimos dias, em meio a troca de acusações entre Rodas e seu sucessor, Antonio Magalhães Gomes Filho. O atual diretor da São Francisco afirmou que a relação conflituosa com o reitor chegou a um "ponto insuportável". "Não estou atacando o reitor, estou defendendo a faculdade."
Horas antes do anúncio da congregação, Gomes Filho fez circular um documento de 20 páginas para rebater críticas de Rodas à sua administração. Rodas tem usado boletins da reitoria para criticar a infraestrutura da faculdade e o Clube das Arcadas - vinculado ao Centro Acadêmico 11 de Agosto, da faculdade. O documento assinado pelo atual diretor, intitulado Restabelecendo a verdade, responde em 14 pontos às críticas nos boletins. "Essa perseguição é anunciada", diz.Gomes Filho chama a transferência das bibliotecas, último ato de Rodas como diretor da Faculdade de Direito, de "rocambolesca". "Em 22 de janeiro de 2010, quando na diretoria, Rodas destituiu a equipe responsável, exigiu a entrega das chaves que abrigavam o acervo e determinou sua imediata transferência para o edifício na Rua Senador Feijó", afirma. "Nem houve tempo, portanto, para que a comunidade ameaçada tivesse tempo de refletir sobre a eventual adesão ao projeto modernizador."Desperdício. Gomes Filho tomou posse como diretor em 26 de janeiro de 2010, quatro dias depois da decisão. Um de seus primeiros atos foi trazer a biblioteca de volta. No texto de ontem, diz que "custa a acreditar que um ano depois venha o reitor (responsável pela açodada mudança) afirmar que 'descontinuar projetos da gestão anterior, em curso, por implicar desperdício de dinheiro público, contraria a lei e a moralidade administrativa'".Sobre a reforma do prédio na Rua Senador Feijó, o diretor da Faculdade de Direito cita uma série de ofícios enviados à chefia de gabinete da reitoria, seguidos de "inúmeros telefonemas". Um ano depois, segundo ele, a diretoria obteve resposta, assinada por uma arquiteta, de que não existia projeto para a obra.No boletim da reitoria divulgado na terça-feira, com dados sobre o orçamento 2010-2011, Rodas responde a nove questões sobre sua gestão à frente da faculdade, entre 2006 e 2009, e das iniciativas da atual administração da São Francisco, especialmente no que se refere a solicitações para a realização de obras na unidade. O reitor afirma que a Faculdade de Direito é uma das que menos gastam as verbas colocadas à disposição. "É sintomático que a FD se situe, em 2010 e 2011, entre as unidades da USP que menos utilizaram seu próprio orçamento", diz Rodas no texto. Em sua resposta, Gomes Filho diz que levantamento feito nas contas da universidade mostra que em 2009, quando Rodas era o diretor, 41% das verbas não foram usadas.
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