Religioso critica operação militar ‘contra inocentes’

Monsenhor diz que ação do governo atacou família que não tem ligação com guerrilha. Governo atua para defender operações

PUBLICIDADE

A onda de repressão aos guerrilheiros marxistas do Exército do Povo Paraguaio (EPP) na região de Concepción, norte do Paraguai, descambou para a matança de inocentes. A opinião é do monsenhor Lucio Ortiz, da Diocese de Concepción, criticando incursões da Força-Tarefa Conjunta (FTC) na caçada promovida contra militantes da organização de extrema esquerda que sequestrou Arlan Fick, de 16 anos, em abril.

CPY9 ASSUNÇÃO PARAGUAI 18/09/2014 GUERRILHA PARAGUAI CIDADES ESPECIAL DOMINICAL EXCLUSIVO EMBARGADO Policiais da Força Tarefa Conjunta da polícia Paraguaia (FTC) fazem patrulha na localidade de Tacuati em busca de Arlan Fick , filho de brasileiros residentes no paraguai que foi sequestrado pela guerrilha Exercito Popular do Paraguai ( EPP ) no último dia 2 Abril em PasoTuya , no Norte do País . Governo paraguaio e a guerrilha EPP travam combates na região de Concepcíon , no Norte do país , onde vivem muitos fazendeiros brasileiros . Foto: Clayton de Souza/Estadão

PUBLICIDADE

“A polícia cometeu um erro estratégico grave em Kurusú de Hierro”, disse o religioso na quarta-feira, em Concepción, referindo-se ao ataque da FTC do dia 12 de setembro, na localidade de Kurusú de Hierro, contra a casa da família Ovelar. Identificados pela FTC como parentes de Noel Adalberto Ovelar, procurado pelo sequestro de Fidel Zavala, seriam aliados do EPP. Foram cercados à noite. 

De acordo com a polícia, havia a informação de uma reunião de líderes do EPP no local. No ataque, morreu Hermenegildo Ovelar. Ficaram feridos Maria da Glória Gonzalez e Marcos Ovelar, que morreu dias depois no hospital. Familiares dos mortos, porém, negam ligação com os guerrilheiros.

Ortiz lembrou que o vigário Pablo Cáceres, que também trabalha em Concepción, conhece a família. “Ele esteve na casa deles depois do ataque da FTC. São pessoas que nada têm de ligação com os sequestradores de Arlan nem com guerrilha”, afirmou o monsenhor.

Publicidade

Ele disse que acompanha a situação da família Fick, que vive em Paso Tuya, vizinha de San Pedro, e sofre com a ausência de Arlan. “Há um clima de inquietação entre as famílias, que temem represálias na região”, disse o religioso. “Nesta hora os pais ficam desesperados. É preciso ter fé e esperança na libertação de Arlan”, pregou.

Na semana passada, o presidente Horácio Cartes visitou a cidade para demonstrar presença do poder central. Ele fez questão de declarar apoio ao ministro do Interior, Francisco de Vargas, que chefia a operação contra o EPP e estava sob fogo cerrado das críticas pelo ataque em Kurusú de Hierro. De acordo com informações de autoridades policiais, há provas da ligação dos guerrilheiros com o narcotráfico, principalmente com traficantes de maconha.

Tráfico. O Paraguai é o principal fornecedor da droga para o Brasil. E o grupo dos irmãos Alfredo e Albino Jara Larrea, responsável pelo ataque, no início de setembro, à Fazenda La Novia, na região de Concepción, teria ligações com o crime organizado brasileiro. De acordo com investigações, um dos soldados do Agrupamento Campesino Armado (ACA), Ruben Dario Lopez Fernandes, fugiu da Cadeia de Concepción ajudado pelo Primeiro Comando Geral (PCG), de Santa Catarina, que trafica maconha. / P.P.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.