RIOAutora do rebatismo da sigla MPB como "Música Preta Brasileira", o que se deu há 20 anos, Sandra de Sá sempre foi movida pela certeza quanto à influência da cultura africana na brasileira. Seu avô materno, seu Manoel, era de Cabo Verde, e ela sente o maior orgulho disso. Em 2007, quando soube, por intermédio de uma pesquisa, que seu DNA é 96,7% africano (2,1% é europeu, 1,1% ameríndio), foi uma alegria só. "Tudo o que a gente tem é herança desses africanos que vieram para cá, tanto faz se é Moreira da Silva, Monsueto, Adoniran Barbosa, Demônios da Garoa, Originais do Samba, Leny Andrade...", diz Sandra, que está comemorando 30 anos de carreira e lançando o CD AfricaNatividade - Cheiro do Brasil (Universal/Nega Produções) - o título é mais um de seus neologismos. "É a África enquanto berço e a África na atividade, influenciando a nossa cultura."O repertório - "uma mistura altamente "brasuka", soul, funk, samba, rock, blues, xote", segundo a própria - tem praticamente só composições próprias, com parceiros antigos, como Macau, Renata Arruba, Mombaça e Zé Ricardo. Faixas como Cheiro de Brasil, Crioulo e África (esta, de Gil Gerson e César Rossini), que ela já havia gravado num LP, falam "do outro lado raiz" dos negros, do "suingue sensual" que nos une. Outras, como Imaginação, Saudade da Gente, E... Vamos Namorar, Viver pra Viver vêm de sua veia romântica. Em Baile no Asfalto, em que conta com a participação do amigo Seu Jorge, ela relembra o passado no subúrbio onde nasceu. Copacabana, em ritmo de bossa nova, Sandra compôs depois de um passeio pelo bairro carioca, antes de seguir para casa, na Lagoa. Fé termina com uma oração numa língua crioula, na voz da cantora cabo-verdiana Ana Firmino. Sandra tem ainda como convidado o rapper angolano MCK, amigo feito no festival Hutúz, de celebração da cultura negra, com quem divide a faixa Evoluir. Entre as regravações, além de África, está Pé de Meia, mais uma já registrada em LP, e Sina, de Djavan.O projeto desse seu 16º CD vem de 2006. Sandra não queria fazer mais um disco, e sim algo que mostrasse que "música não é entretenimento, é cultura". "Eu estava relax, fazendo show, viajando e pensei: tenho todo o tempo do mundo. Comecei a tocar com a banda e quando o CD estava pronto levei para a Universal", conta a cantora, que, após percorrer comunidades de quilombolas, a convite da Secretaria Especial para Promoção da Igualdade Racial, inspirou-se também para fazer um "documental", um documentário musical, com música feita no Brasil, em Angola, Moçambique, Cabo Verde... Ela já está conversando com as embaixadas desses países no Brasil.
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