A irritação brotou forte nas urnas holandesas. Numa conquista inesperada, os nacionalistas do Partido para a Liberdade (PVV), liderados pelo notório Geert Wilders, obtiveram 37 de 150 cadeiras no Parlamento. A coalizão de Trabalhistas e Verdes levou 25; os Liberais, do premiê incumbente, Mark Rutte, 24; e o Novo Contrato Social, uma nova legenda de centro-direita, 20.
Num sistema partidário fragmentado, a formação do governo deve tomar meses e é incerto se Wilders será premiê. Mas a integração ao governo do partido anti-imigração, anti-islã, anti-União Europeia e anti-ambientalista, até então marginalizado, é quase inevitável. “Eles não podem nos contornar”, disse Wilders. “O eleitor disse: basta!”
Basta do quê? Primeiro, da imigração indiscriminada. Mesmo que tenha refreado propostas extremas, como banir mesquitas e o Corão, a hostilidade ao islã ainda é a assinatura do PVV. Além dos atritos culturais, as ondas migratórias têm pressionado o generoso Estado de Bem-Estar Social holandês. Planos ambientalistas draconianos também irritaram as populações rurais.
Essa impaciência ecoa pela Europa. Os xenófobos da Alternativa para a Alemanha se tornaram o segundo partido mais popular no país. Na Itália, a direita dura liderada por Giorgia Meloni assumiu o poder. Na França, o movimento nacionalista de Marine Le Pen tem conseguido mais votos a cada eleição e pode vencer em 2027. A direita populista aumentou seu estoque eleitoral na Suíça, Áustria e Escandinávia e pode ampliá-lo no Parlamento Europeu em 2024.
Na esquerda, os social-democratas estão em declínio. Muitos os veem como elitistas e invertebrados. Seu eleitorado envelheceu. Jovens progressistas se voltam a radicais socialistas. Mas esses partidos têm um teto e dificilmente formam maiorias para governar. As classes populares estão sendo alienadas pelos custos das políticas ambientalistas dos verdes, assim como pelas taxonomias da opressão dos identitários. A esquerda precisa se reinventar. Mas é incerto como o faria e mesmo se o quer.
Sobrepor rótulos (“fascistas”, “extremistas”, “ultras”) só tem aglutinado eleitores frustrados. A demonização não está funcionando. Isso vale para os centristas, liberais e conservadores. Até agora, eles têm tentado isolar a nova direita sob um cordão sanitário. As mídias se recusam a lhe dar voz.
Sem abdicar da intransigência contra o autoritarismo e a violência, os partidos mainstream terão de aprender a negociar e eventualmente cooperar com a direita dura. Em muitos casos, o exercício do poder leva à flexibilização e ao pragmatismo, como no governo de Meloni, ou, do contrário, ao desgaste, como na Polônia. Mas mais importante é que os partidos tradicionais reconheçam que negligenciaram os anseios das classes populares e as reformas da democracia liberal, da governança tecnocrática e da economia de mercado.
Se quiserem vencer os populistas radicais de direita e engajar os moderados em processo construtivos, a esquerda precisa acusar menos, a direita tradicional precisa se angustiar menos, e ambos precisam fazer mais política.