USP: a universidade que nasceu das páginas do Estadão e se tornou a maior do País

Preocupação de Julio de Mesquita Filho com a precariedade do ensino superior no Brasil deu origem à discussão que levou à criação da Universidade de São Paulo, em 1934

Por Equipe Acervo

A preocupação do Estadão com a criação de uma instituição de ensino superior em São Paulo surge já em 1880, quando o jornal publica artigo na primeira página conclamando um esforço dos “modestos cidadãos” da Província para fundar uma universidade. A iniciativa era uma reação à proposta do regime monárquico de angariar fundos para a criação de uma universidade no Rio de Janeiro, capital da Corte.

O projeto não vingou. Mas a discussão sobre o ensino superior e a criação de uma universidade paulista retorna em meados da década de 1920. Foi pelas mãos de Julio de Mesquita Filho (1892-1969), que denunciou a “pobreza inacreditável da nossa produção intelectual”. No livro A Crise Nacional, publicado em 1925, o diretor do Estadão faz uma reflexão sobre o Brasil pós-República.

Julio de Mesquita Filho (de pé, quarto, da direita para a esquerda) com parte dos docentes contratados para a USP Foto: Acervo Estadão

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Dessa inquietação nasce, em 1926, o inquérito A instrucção publica em S. Paulo, organizado pelo Estadão para fazer um panorama da educação paulista em todos os níveis de ensino: primário, secundário, profissionalizante e superior. Coube ao professor Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, a coordenação do projeto. Azevedo enviou um questionário para dezenas de profissionais com 12 perguntas - três delas sobre ensino superior.

As respostas foram publicadas no jornal entre junho e dezembro de 1926. A conclusão é desanimadora: das universidades saíam profissionais apenas aptos a exercerem seus trabalhos. Nada mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Julio de Mesquita Filho, para quem a universidade deveria exercer uma “tríplice aliança” - criar, transmitir e divulgar o conhecimento.

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Mesquita Filho fazia então parte de uma comissão estadual para preparar o projeto da futura universidade paulista. Com as turbulências políticas da Revolução de 1932, ele é preso e exilado. Só volta à comissão que seria responsável pela criação da Universidade de São Paulo (USP) quando Armando de Salles Oliveira (1887-1945), seu cunhado e diretor do Estadão, é nomeado interventor do Estado. Em 1934, Salles Oliveira cria a USP por meio de decreto.

Julio de Mesquita Filho deu ao professor Theodoro Ramos (1895-1935) a missão de buscar jovens talentos na Europa. Dessa leva de professores, que ficou conhecida como “missão estrangeira” (parte deles aparece na foto acima, ao lado de Julio de Mesquita Filho, o quarto de pé, da direita para esquerda), foram trazidos para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras docentes alemães, franceses, italianos e portugueses, entre eles Claude Lévi-Strauss (1908-2009), Fernand Braudel (1902-1985) e Roger Bastide (1898-1974).