Ao longo de 10 anos, o Estadão fez uma minuciosa cobertura da Operação Lava Jato, desde março de 2014, quando saiu às ruas a primeira fase da maior ofensiva já deflagrada contra a corrupção no País. As 80 etapas da operação culminaram na prisão de 293 investigados, em 244 condenações de 159 denunciados e na recuperação de R$ 2 bilhões aos cofres públicos.
A Polícia Federal e a força-tarefa do Ministério Público Federal em Curitiba assombraram o País ao desmascarar o cartel de empreiteiras que se apossaram de contratos bilionários de diretorias estratégicas da Petrobras, loteadas pelo PT, PP e MDB a partir de 2003, no primeiro governo Lula (2003-2011). A estatal sofreu um rombo de R$ 6 bilhões. Lula acabou condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em três instâncias judiciais no famoso processo do triplex do Guarujá. Ele ficou preso durante 580 dias, até que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as acusações, declarando a suspeição do então juiz Sérgio Moro, condutor da Lava Jato.
A intensa rotina da Lava Jato foi acompanhada instantaneamente pela reportagem do Estadão, que levou a seu público todos os detalhes das prisões de empresários, doleiros, políticos e dirigentes da petrolífera. Os leitores amanheciam com informações exclusivas. A grande cobertura ficou centralizada no Blog do Fausto Macedo e mobilizou numerosa equipe de profissionais, com destaque para os repórteres Júlia Affonso, Ricardo Brandt, Mateus Coutinho, Fábio Serapião, Beatriz Bulla, Breno Pires e Rafael Moraes Moura.
Em 23 de março de 2016, o blog divulgou com exclusividade a íntegra da extensa planilha da Odebrecht com os nomes de 279 políticos e 22 partidos que teriam recebido propina da empreiteira. Em abril de 2017, também em primeira mão, o repórter Breno Pires revelou os nomes apontados nos inquéritos abertos no STF pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato, colocando o alto escalão político do País sob investigação.
A publicação em série de documentos no blog tornou-se uma marca da cobertura que virou fonte de consulta pública. O notável acervo da Lava Jato - vídeos de interrogatórios de investigados e delatores, relatórios da Polícia Federal, decisões judiciais, denúncias dos procuradores - foi divulgado sem restrições, estratégia que provocou impacto e uma corrida dos leitores ao site do jornal.
Os furos de reportagem se multiplicaram. Na lista de matérias com ampla repercussão está o bilhete manuscrito na prisão, em 2015, pelo empresário Marcelo Odebrecht, o “príncipe das empreiteiras”. Também ganharam repercussão o decreto de prisão de Lula, o bloqueio de R$ 600 mil de suas contas e a sentença no caso triplex, além do áudio da conversa do petista com Dilma Rousseff no qual a então presidente comunicava seu ato de nomeação de Lula para a chefia da Casa Civil. Ainda, a revelação sobre o “banco da propina” da Odebrecht que girou US$ 1,6 bilhão e a delação do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, em agosto de 2014, que abriu caminho para a sucessão das mais sensíveis etapas da Lava Jato com a revelação dos métodos adotados pelo “clube das empreiteiras”.
Em 2016, Moro concedeu ao Estadão sua primeira entrevista sobre a Lava Jato, então em seu auge. Nela, o então juiz declarou que “jamais entraria para a política”. Em 2018, no entanto, ele deixou a toga e aceitou convite para assumir o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro. A grande operação ruiu - logo, o STF colocou abaixo os processos, tornando-os nulos, e a força-tarefa, antes exaltada pelos ministros da Corte, foi alvo de pesadas críticas e extinta.
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