Da resenha que fez para o Estadão de uma nova edição da autobiografia de Caetano Veloso, Verdade Tropical, em 2017, o jornalista Alberto Bombig chegou a uma constatação fundamental: São Paulo foi para a Tropicália o que São Francisco foi para os hippies e Londres para o punk. Alguma coisa muito forte aconteceu quando Caetano e Gilberto Gil cruzaram com Rita Lee e os Mutantes. Só em Sampa, diz Caetano, “sucessos que não dependem de adesão nacional eram possíveis”.
Ainda em 2017, quando o Tropicalismo completou 50 anos - contados a partir da apresentação das músicas Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, e Domingo no Parque, de Gilberto Gil, no 3.º Festival Record -, o crítico e pesquisador musical Zuza Homem de Mello (1933-2020) escreveu no Estadão que o movimento era um “projeto ambicioso”, para além da música: “Viu-se aos poucos que a estética da canção tropicalista se integrava com as demais manifestações artísticas que, antes mesmo de ir de encontro à repressão política do regime militar como as mais significativas canções de festival, representava uma inquietação existente também no teatro (O Rei da Vela), no cinema (Terra em Transe), na literatura (poesia concreta e ensaios como Kuarup e Panamerica) e nas artes plásticas (instalação de Helio Oiticica no MAM do Rio)”.
Segundo Zuza, o Tropicalismo desmontou preconceitos e “permitiu a coexistência do arcaico com o moderno”. O movimento, que representou uma revolução no cenário musical com ecos até os dias atuais, foi reprimido a partir de dezembro de 1968, com a instauração do Ato Institucional 5 (AI-5) e a prisão e depois o exílio de Gil e Caetano.
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