O posicionamento do Estadão sobre o golpe de 1964, e o debate entre Ruy Mesquita e Gilles Lapouge

No texto ‘Duas visões autênticas’, os dois defendiam suas posições a favor e contra o movimento intervencionista

Foto do author Liz Batista

Em 21 de junho de 1964, poucos meses após o golpe militar no Brasil, toda a contracapa do Estadão foi reservada para um embate de visões, uma expressão da liberdade de pensamento defendida pelo jornal. O texto “Duas visões autênticas” sobre o golpe, trazia os telegramas trocados entre o jornalista Ruy Mesquita e o correspondente em Paris, Gilles Lapouge. Neles, ambos defendiam suas posições a favor e contra o movimento intervencionista.

Cartas de Ruy Mesquita e Gilles Lapouge com debate sobre o golpe de 64 foram publicadas no Estadão em 21 de junho de 1964 Foto: Acervo Estadão - 21/06/1964

PUBLICIDADE

Como quase toda a grande imprensa, o Estadão apoiou a deposição do presidente João Goulart (1919-1976), defendendo uma intervenção militar transitória, que serviria para impedir um golpe da esquerda e cessaria após reformas estruturais e com a convocação de eleições no ano seguinte, como previa o calendário eleitoral. Temia-se o caos e a aproximação com o socialismo nos moldes cubanos. Essa foi a posição de Mesquita. Lapouge, por sua vez, se manifestava contrário à quebra institucional.

O Estadão externou seu primeiro incômodo com o rumo que as coisas estavam tomando apenas nove dias após o golpe, ao alertar: “espera-se que [o regime] vigore somente até 1966 com a posse de um novo presidente eleito.”

Em 1965, com a decretação do Ato Institucional nº 2 (AI-2), que cancelou as eleições presidenciais, o jornal iniciou o rompimento com o governo. A ruptura definitiva ocorreu em dezembro de 1968, com o endurecimento ainda maior do regime a partir do AI-5. A publicação do editorial “Instituição em Frangalhos” motiva a apreensão do jornal e a invasão de sua gráfica pelos militares. Posteriormente, há a instalação da censura imposta pela ditadura, contra a qual o jornal sempre lutou.

Publicidade

A correspondência entre Mesquita e Lapouge foi republicada no especial de 60 anos do golpe militar e também editada em livro.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.