“Glauber Rocha está louco?” Quando, em entrevista histórica, o jornalista José Barreto de Jesus, do Estadão, questionou a sanidade do cineasta baiano, ecoava uma perplexidade coletiva diante do apoio de Glauber Rocha (1939-1981) à abertura política do governo do general Ernesto Geisel (1974-1979). O diretor de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), obra-prima que denunciou as mazelas do sertão brasileiro por meio de uma estética revolucionária, parecia ter se desviado de sua narrativa como ícone da esquerda.
O aparente paradoxo revelou um homem que se recusava a ser aprisionado em expectativas preestabelecidas entre esquerda e direita, certo e errado ou como acaba o filme de 1964… “assim mal dividido/esse mundo anda errado/a terra é do homem/num é de Deus nem do Diabo”.
Em maio de 1981, apenas três meses antes de sua morte, Glauber falou a Christina Autran em Portugal, onde passava temporada, sobre Revolução do Cinema Novo, seu terceiro livro, e adiantava a publicação de outro, O Século do Cinema - que saiu em 1983. Em agosto, o cineasta morreu pouco depois de desembarcar no Rio, vítima de complicações de uma broncopneumonia. “Ele, antes de ter sido invejado, foi muito injustiçado em sua própria terra, vítima do subdesenvolvimento, vítima de uma cultura colonizada”, disse o diretor Luís Carlos Barreto na ocasião.
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