Por quase três anos, entre o segundo semestre de 1972 e o início de 1975, o Estadão e o Jornal da Tarde – publicação do Grupo Estado criada em 1966 – tiveram censores atuando em suas redações. A instalação de agentes da ditadura na sede do jornal ocorreu quando a direção da empresa se recusou a praticar a autocensura. A diretriz dada aos jornalistas era: “Façam reportagens e escrevam. Os censores que cortem”.
Outra decisão editorial marcou a história de resistência do Estadão contra a censura: o jornal se recusou a modificar a diagramação de suas páginas e, no espaço das reportagens vetadas, publicou poemas – como os versos de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões – e cartas fictícias no Estadão; e receitas culinárias no Jornal da Tarde. Os conteúdos atraíram a atenção dos leitores, por serem completamente fora do noticiário habitual.
A censura presencial se estendeu até 4 de janeiro de 1975. No período, milhares de textos foram proibidos pelos censores e os versos de Camões apareceram 655 vezes no jornal.
Esse conteúdo foi digitalizado e está acessível para consulta no site do Acervo Estadão. Isso foi possível graças a outra história de resistência e de compromisso com a liberdade e preservação da memória. Armando Augusto Bordallo, diretor do arquivo do jornal no período, organizou uma operação para recolher os originais censurados, escondê-los e preservá-los. Os textos podem ser vistos na íntegra, na versão planejada originalmente, e também como foram publicados na época, após serem marcados pelas canetas dos censores.
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