O jornal O Estado de S. Paulo é conhecido, entre outras razões, pela força e coerência de seus editoriais. Esses atributos são corolários da independência do jornal para defender os valores nos quais acredita e dizer à sociedade, com respeito à verdade factual e absoluta transparência, aquilo que pensa ser o certo. Fiel a seus princípios ao longo dos últimos 150 anos, o Estadão fez da seção Notas & Informações a consciência crítica de seu tempo, um dos pilares sobre os quais se sustenta a opinião pública brasileira.
A seguir, o leitor encontrará uma seleção de 50 editoriais que marcaram a posição do Estadão em momentos históricos, no Brasil e no mundo. Muitos eventos cruciais ocorridos entre janeiro de 1875 e dezembro de 2024, naturalmente, ficaram fora dessa lista, seja porque o jornal optou por não se manifestar sobre eles, seja porque foram tratados não como editoriais propriamente ditos, mas como análises ou artigos assinados por seus fundadores e/ou proprietários. É o caso, por exemplo, da 1.ª Guerra (1914-1918).
A cobertura da chamada “Grande Guerra” foi um verdadeiro tour de force para o Estadão. Júlio Mesquita, então proprietário e principal redator do jornal, tomou para si a responsabilidade de reportar e, principalmente, explicar para os leitores o que acontecia nos fronts da Europa. Durante os quatro anos do conflito, Mesquita publicou n’O Estado de S. Paulo boletins semanais e crônicas sobre os rumos da guerra. E sem jamais tirar os pés do Brasil. Essa portentosa cobertura foi reunida por seu bisneto, Ruy Mesquita Filho, em A Guerra, uma obra de quatro volumes lançada em 2002 pela Editora Terceiro Nome.
As reportagens de Júlio Mesquita sobre a 1.ª Guerra não raro refletiam a própria opinião de seu jornal, servindo, na prática, como editoriais sobre o tema. Foi por meio das reportagens e crônicas assinadas por ele que ficou claro para os leitores que o jornal nutria franca simpatia pelos aliados (França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Rússia, entre outros), mas sem que essa posição significasse uma afirmação de antipatia pelas nações lideradas pela Alemanha e a Áustria no conflito. “O Estado simpatiza com os aliados, não porque antipatize com os alemães, mas porque diverge visceralmente da política autoritária e militarista que desviou a Alemanha da sua luminosa missão e produziu esta guerra odiosa”, escreveu Mesquita.
Outro exemplo de aparente omissão na seção de Notas & Informações é a 2.ª Guerra (1939-1945). Ao longo de praticamente todo o conflito, o Estadão esteve sob intervenção da ditadura de Getúlio Vargas, razão pela qual o jornal não reconhece as publicações no período sob o jugo varguista como parte de sua história.
Os editoriais que aqui vão reunidos, contudo, transmitem ao leitor de hoje, de forma linear e coerente, uma boa ideia de como O Estado de S. Paulo se mantém fiel a seus princípios fundadores, em particular a defesa irrenunciável das liberdades democráticas e dos valores republicanos. Os textos refletem, ainda, a visão que o Estadão tem do jornalismo profissional, concebido por este jornal como uma causa a serviço do melhor interesse público – e, exatamente por isso, imune ao tempo.
Editorial inaugural
No editorial que inaugurou a circulação de A Província de São Paulo, publicado em 4 de janeiro de 1875, o jornal afirmava os princípios editoriais que orientam o Estadão até hoje, 150 anos depois. “Não sendo órgão de partido algum nem estando em seus intuitos advogar os interesses de qualquer deles, e por isso mesmo colocando-se em posição de escapar às imposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos que aspiram ao poder e seus proventos, conta A Província de São Paulo fazer da sua independência o apanágio de sua força.”
A sanção da Lei Áurea
A abolição da escravidão no Brasil foi uma das causas fundantes deste jornal, que, inclusive, deu emprego a negros libertos. Após a sanção da Lei Áurea pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, A Província de São Paulo celebrou a conquista civilizatória no editorial intitulado Glória à Pátria. “É o inverno do que nos ensina a História”, lê-se no texto. “A libertação dos escravos faz-se no Brasil por um acentuado movimento de opinião, pela capitulação franca das últimas forças de resistência, pela desagregação dos movimentos conservadores, mas em plena paz, sem perturbação da ordem, pelo congraçamento dos combatentes da véspera.”
A Proclamação da República
A luta pela substituição da monarquia pelo regime republicano, que confere aos indivíduos o status de cidadãos iguais perante a lei, e não de súditos, foi outra causa inspiradora da fundação de A Província de São Paulo. No último editorial publicado ainda sob o imperador d. Pedro II, no dia 15 de novembro de 1889, o jornal afirmava que “a ditadura monárquica não é outra coisa senão o poder pessoal, reconhecido e proclamado pelos dois partidos constitucionais em oposição”. Na edição histórica do dia seguinte à Proclamação da República, o jornal celebrava: “Reina grande júbilo em toda a população. Viva a República!”.
A Campanha Civilista
O consenso entre o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro foi rompido pela primeira vez desde 1894 com vistas à sucessão do então presidente Afonso Pena na eleição de 1910. Após disputas políticas no seio do próprio governo, Pena apontou como candidato seu ministro da Guerra, o marechal Hermes da Fonseca, esperando obter um consenso que nunca houve. Os republicanos paulistas, por sua vez, decidiram apoiar Rui Barbosa em uma campanha chamada de “civilista” tanto pela trajetória do jurista baiano como pela afirmação de que a política é própria da vida civil, posição que o Estadão sustenta até hoje. “O dever hoje (dia da eleição) é, pois, votar pela supremacia do poder civil na República brasileira, pela lei e contra a espada.”
Quebra da Bolsa de Nova York e o café
Três dias após a quebra da Bolsa de Nova York, o Estadão publicou um editorial em que alertava para os riscos da crise global que se iniciaria e seu impacto sobre os negócios do café. O jornal afirmou que, até então, não havia comentado a situação financeira de São Paulo porque acreditava na disposição do governo federal de socorrer os cafeicultores, responsáveis pelo principal produto de exportação do Brasil. Mas, diante da “inesperada perturbação dos mercados monetários do mundo, ocasionada pela crise londrina e pelo ‘crack’ da Bolsa de Nova York”, o Estadão cobrava medidas de socorro aos produtores.
O elogio a Getúlio Vargas
Ao longo de sua história, o Estadão foi um dos veículos mais críticos a Getúlio Vargas. Dois meses antes da eleição de 1930, o jornal elogiou o candidato à Presidência da República por sua postura liberal, que comungava com os princípios do jornal. O líder gaúcho, como se pode ler no editorial, tinha “a preocupação de satisfazer às aspirações nacionais dominantes neste período histórico da República brasileira”. “Ainda não se soube de um só ato de sua excelência, no governo de seu Estado, que denote intolerância, capricho, despotismo e indulgência para com a fraude”, desvios combatidos pelo jornal. A História mostrou que ele mudaria radicalmente de posição, e, assim, o Estadão passaria a se opor à tirania de Vargas, mostrando que quem mudou foi o ditador, não o jornal.
A Revolução Constitucionalista de 1932
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi exaltada pelo Estadão como uma “aliança patriótica” firmada por São Paulo, Rio Grande do Sul e outros Estados. Dois dias após a deflagração da luta armada, o jornal exaltava o espírito revolucionário e cobrava o restabelecimento da legalidade para que o País pudesse seguir em frente. O movimento, iniciado em 9 de julho daquele ano, e posteriormente sufocado pelas tropas federais de Getúlio Vargas, se tratava de um embate de vida ou morte, do qual não se deveria recuar. O movimento, do qual o jornal participou ativamente, levou à Constituição de 1934, derrubada por Vargas em 1937, quando começou a ditadura do Estado Novo.
A fundação da Universidade de São Paulo
Entusiasta da criação de uma universidade em São Paulo, o Estadão abraçava essa bandeira desde o século 19. Muito antes da fundação da Universidade de São Paulo (USP), o diretor do jornal, Júlio de Mesquita Filho, já colocava o tema no jornal. Foi no dia 25 de janeiro de 1934 que o interventor federal, Armando de Salles Oliveira, assinou o decreto para a criação da USP. Dois dias depois, o jornal afirma que “a ação da universidade é eminentemente civilizadora, pois que tende a fazer da mocidade uma força de renovação social e de regeneração política”. Segundo o jornal, a criação da USP era “um belo serviço e uma esplêndida homenagem ao espírito”. Com a passagem dos anos, a USP foi reconhecida como a melhor universidade da América Latina.
A promulgação da Constituição de 1934
Vista como a conclusão da obra que São Paulo “encetou em 1932”, quando houve a Revolução Constitucionalista para a restituição da legalidade no Brasil, a promulgação da Constituição de 1934 é celebrada pelo Estadão. A Carta Magna que levou o Estado de São Paulo ao campo de batalha foi enfim promulgada. Para o jornal, isso significava que as vidas perdidas na luta dos paulistas contra as forças federais não haviam sido em vão, afinal, “desse glorioso sacrifício adveio, para o Brasil, a restauração do regime legal”. Segundo o jornal, o heroísmo de São Paulo havia posto fim ao governo ditatorial.
A prévia do Estado Novo
Semanas antes do golpe de Getúlio Vargas para se manter no poder, o jornal já tratava do clima golpista para impedir a eleição de 1938. A pretexto do Plano Cohen, farsa forjada por militares sobre uma suposta “ameaça comunista”, o governo decretou o estado de guerra, que dava amplos poderes a governadores, exceto aos da oposição, e suspendeu direitos constitucionais. O Estadão percebeu o ardil e se posicionou a favor das eleições presidenciais e em defesa da Constituição. “A colheita de apreensões a que estamos assistindo vem da semeadura de erros a que, alegremente, com a despreocupação e a leviandade de um colegial travesso, o governo da República se entregou.”
A defesa de eleições presidenciais
Em edição de 15 de outubro de 1937, o jornal criticava a violência política perpetrada por governadores em diversos Estados do País sob o pretexto do estado de guerra. O Estadão mencionava a inação do governo federal e, diante da situação caótica em que o País se encontrava, colocou em dúvida a realização de eleições e voltou a exigir o fim do estado de guerra. “Abandonadas ficarão as urnas se, até lá, não cessarem as violências políticas que, com uma frequência alarmante, estão sendo cometidas em vários pontos da República”, afirmou o jornal. “A liberdade de propaganda e a verdade eleitoral são conquistas de que o povo brasileiro não pode mais ser privado sem que recuemos no terreno da cultura política e da civilização.” Menos de um mês depois, em 10 de novembro, Getúlio Vargas instaurou o regime do Estado Novo, e as eleições presidenciais de 1938 foram canceladas.
A intervenção de Vargas no jornal
Ao lado da seção Notas e Informações, o jornal publicou um texto em razão do 13.º ano da morte de Júlio Mesquita. Não se tratava apenas de uma homenagem. O Estadão descrevia o mundo em guerra no qual triunfavam a injustiça, a violência e a crueldade, o que muito aborreceria um idealista como Júlio Mesquita. Sem citá-lo, o jornal fez uma crítica velada a Getúlio Vargas. “Não compreendia que se pudesse chamar de civilizado a um país de onde houvesse sido desterrada a liberdade de pensamento, onde não houvesse tolerância com as crenças alheias, onde não existisse justiça para todos os homens, sem distinção de classes, de raças, de crenças e de cores políticas e onde não se respeitasse tudo quanto a moral ordena e o Direito aconselha.” Dez dias depois, em 25 de março, a sede do Estadão foi invadida por militares. Quando volta a ser publicado, em 6 de abril, o jornal já estava sob intervenção da ditadura de Vargas. Foram cinco anos de censura, período que o jornal não reconhece como parte de sua história.
O jornal volta às mãos dos Mesquitas
Com o fim da ditadura Vargas, o jornal voltou às mãos de seus donos no dia 6 de dezembro de 1945. Depois de cinco anos sem publicar nada que soasse desfavorável ao governo, os editoriais do Estadão são retomados e voltam ainda mais críticos do que já eram, sobretudo em relação ao regime de Getúlio Vargas. “Derrubada a ditadura, que se apossara desta folha mediante inqualificável coerção exercida sobre seus proprietários, coação cujos pormenores já são de domínio público, o novo governo do Brasil, presidido por um juiz eminente, entendeu de praticar o ato de justiça que era a reposição das coisas no seu estado anterior.”
O respeito às urnas
A apuração das eleições presidenciais de 1945 foi longa e avançou sobre o mês de dezembro, mas as primeiras informações davam conta de que a vitória seria do general Eurico Gaspar Dutra, ex-ministro da Guerra durante todo o Estado Novo e, por óbvio, apoiado por Getúlio Vargas. Embora tenha declarado apoio ao brigadeiro Eduardo Gomes, o jornal defendia a democracia e pregava o respeito às urnas, um princípio que sempre honrou ao longo de sua história. “Seja qual for o candidato vitorioso, represente ou não represente o que há de mais puro no sentimento democrático da Nação, será o escolhido do eleitorado e, portanto, o chefe legítimo da República. O que o eleitorado decidir deverá ser cumprido.”
Contra os jogos de azar
O repúdio que o Estadão manifesta aos jogos de azar não é recente nem muito menos motivado pelo advento das bets ou, antes delas, pela proliferação dos bingos. Já em 1945 o jornal rechaçava, com muita contundência, os cassinos e o jogo do bicho, que haviam proliferado durante a ditadura. Àquela época, o Estadão já defendia a anulação de suas concessões e alertava sobre os males causados pela jogatina aos apostadores, vítimas maiores, mas também às suas famílias e à sociedade como um todo. “O jogo tornou-se, dentro em pouco, e ainda continua a ser, uma das mais terríveis pragas sociais que infectam o Brasil. Rios de dinheiro perdem-se, diariamente, nos grandes centros de jogo e uma verdadeira devastação moral se está observando, devido a esse vício até no seio das famílias. São de arrepiar as histórias que, a esse respeito, correm o mundo.”
Em defesa de uma nova Constituição
Concluídas as eleições, o governo do general Eurico Gaspar Dutra anunciou o início das discussões sobre a nova Constituição. O jornal celebrou a iniciativa e defendeu a revogação imediata da Constituição de 1937, de inspiração claramente fascista. Por muitos anos, o jornal não mais citaria o nome de Getúlio Vargas em seus editoriais, passando a identificá-lo apenas como “ditador”. “Produto exclusivo da vontade do ditador, aquele papel a que deram o título de Constituição, como podiam ter dado o nome de Evangelho ou qualquer outro, devia, imediatamente, ser eliminado do corpo da nossa legislação”, disse o jornal. “Se, ainda, a Carta de 1937 fosse um modelo de democracia, vá lá! Nenhum mal haveria em conservá-la até a promulgação da nova Constituição. Ela é, porém, precisamente o contrário disso: ela é um modelo de carta antidemocrática.”
A criação do Estado de Israel
O surgimento do Estado de Israel foi um dos principais eventos históricos após o fim da 2.ª Guerra Mundial. O jornal defendeu a criação do Estado desde o início. Já à época, no entanto, questionava a capacidade da Organização das Nações Unidas (ONU) de manter a paz na região, uma vez que os conflitos com a Palestina se iniciaram quase imediatamente após sua deliberação. “De tudo resultou a impressão, inteiramente real, de que as Nações Unidas, não dispondo de forças concretas para impor suas deliberações, pouco representarão, de fato, doravante na vida internacional”, diz o jornal. “Poderão, entretanto, tais esforços de boa vontade vencer os formidáveis obstáculos que começam a dificultar o estabelecimento de um mundo mais tranquilo e mais seguro?”, questionava o jornal.
O 'ex-ditador' é eleito presidente
As eleições presidenciais de 1950 indicavam a provável vitória de Getúlio Vargas contra o brigadeiro Eduardo Gomes, fato que o jornal muito lamentou. Os editoriais, que raramente tinham títulos, passaram a tê-los na década de 1950. O jornal chamava a União Democrática Nacional (UDN) à reflexão após mais uma derrota eleitoral em As surpresas do pleito. Vargas era chamado de “ex-ditador”. “Deve-se concluir daí que o povo é pela ditadura e não toma em consideração as violências praticadas contra os seus direitos fundamentais? Parece-nos que não”, diz o jornal. “A UDN, seja qual for a extensão do revés sofrido, tem sobre os ombros responsabilidades a que não há de fugir. Com elas, tem também à sua frente o futuro da democracia brasileira, que só com a UDN pode contar, no crepúsculo que desceu a 3 de outubro e nas trevas em que vamos mergulhar com Getúlio.”
O atentado da Rua Tonelero
No dia seguinte à tentativa de assassinato de Carlos Lacerda, um dos maiores opositores de Getúlio Vargas, o jornal não hesitou em censurar o incidente no editorial Surto de banditismo. Com a descoberta do envolvimento de integrantes da guarda pessoal de Vargas no atentado, começava o declínio de seu governo. “Naturalmente, não fizeram a obra por conta própria. Fizeram-na por conta de alguns dos covardes, mais ou menos ligados ao Catete, contra os quais o sr. Carlos Lacerda tem movido uma campanha desassombrada”, disse o jornal. “Começa, dessa maneira, a expandir-se, na capital do Brasil, o cangaceirismo político. Ao lado dos aproveitadores de bons negócios, à sombra do Catete, apresenta-se, agora, a malta de sicários ao serviço desses aproveitadores. A gente que nos governa quer praticar toda a sorte de patifarias, mas não admite que alguém o censure, com franqueza e coragem, em letra de forma.”
O 'Estadão' defende a renúncia de Vargas
Ao longo de agosto de 1954, o avanço das investigações sobre o atentado implicava servidores próximos a Getúlio Vargas, e o jornal publicava editoriais cada vez mais contundentes contra o presidente. No editorial Posição insustentável, publicado em 10 de agosto daquele ano, o Estadão exigia sua renúncia. “Quem deve ser substituído é Sua Excelência, o senhor presidente da República. Sua Excelência é que se tornou incompatível com as altas funções que a Nação lhe cometeu”, afirmou o jornal. “O remédio para a situação pessoal de Sua Excelência está na própria Carta Constitucional: é entregar o governo ao vice-presidente da República.” Vargas, no entanto, resistia e cogitava decretar estado de sítio para se manter no poder.
O suicídio de Vargas
No dia 24 de agosto, o jornal voltou a cobrar a renúncia de Getúlio Vargas em editorial e comparou sua situação à de um fantasma a errar de sala em sala no Palácio do Catete. Neste dia, o presidente tiraria a própria vida. No dia seguinte, o jornal abandonou a postura combativa e manifestou seu respeito no editorial Desfecho trágico. “Não estava na previsão de quem quer que seja, nem seria desejado pelos homens de sentimentos cristãos o trágico desfecho que teve a crise político-militar oriunda do crime da Rua Tonelero. Na manhã de ontem, o sr. presidente da República pôs termo à existência com um tiro no coração. Quando sua excelência vivia não poupamos críticas severas aos seus atos e às suas palavras que nos pareciam condenáveis. Agora que está morto só nos resta descobrir-nos diante da sepultura em que jaz o seu corpo.”
A Revolução Cubana
O então diretor de Opinião do Grupo Estado, Ruy Mesquita, acompanhou com entusiasmo a Revolução Cubana. Ele visitara o país três anos antes e testemunhou a ascensão de Fidel Castro como líder revolucionário. Em 3 de janeiro de 1959, o jornal informava a “entrada vitoriosa das forças revolucionárias lideradas por Fidel Castro”. O editorial, publicado na mesma edição, comemorava a queda do ditador Fulgêncio Batista. O entusiasmo do Estadão não tardaria a arrefecer, “pelo menos até o momento em que ele se proclamou um aliado do comunismo internacional”, segundo Ruy Mesquita revelaria mais tarde.
O Muro de Berlim
De um dia para o outro, Berlim Oriental acordou isolada por arame farpado e um muro de concreto de 48 quilômetros de extensão, erguido para bloquear suas fronteiras. Assim informava o Estadão na edição de 15 de agosto de 1961. “As fronteiras da liberdade estão fechadas”, definia o editorial daquele dia. Eram tempos da guerra fria, que não só dividia Berlim, mas separava o mundo entre os polos liderados por EUA e União Soviética. O jornal, claro, opunha-se ao bloco soviético e questionava a divisão da capital alemã, descrevendo o “esmagamento das esperanças”.
A crise dos mísseis de Cuba
O mundo prendeu a respiração durante 13 dias, depois que se descobriu que mísseis balísticos soviéticos foram colocados em Cuba. A crise foi televisionada em todo o mundo e tornou-se o ponto mais próximo de uma possível guerra nuclear. O Estadão acompanhou a crise tanto em reportagens quanto em editoriais, até o fim, depois de negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Em 26 de outubro, o jornal elogia a condução prudente dos EUA e a solidariedade prestada pelos países latino-americanos ao governo Kennedy, mas lamenta o posicionamento do governo brasileiro no editorial Leviandade e irresponsabilidade.
O apoio ao Golpe Militar
Durante o período 1946-1964, o Estadão se alinhou à UDN de Carlos Lacerda e fez oposição a todos os governos, em especial ao de João Goulart. Em 1964, como praticamente todos os grandes jornais da época, o Estadão apoiou a insurreição militar que levou ao golpe – descrito por Ruy Mesquita como “contragolpe” – e à eleição indireta do marechal Castello Branco. O jornal publicaria alguns editoriais de apoio. Em 2 de abril, o jornal dizia em sua manchete “Vitorioso o movimento democrático”, enquanto o editorial fazia um balanço daqueles dias instáveis e comemorava a derrubada de Jango. Em 1965, quando ficou claro que os militares não entregariam o poder aos civis, como haviam prometido, o jornal rompe com o regime e passa a ser um veículo tão crítico à ditadura que, alguns anos depois, sofreria uma nova intervenção na redação.
Instituições em frangalhos
Provavelmente o mais citado editorial da história do Estadão e do País, Instituições em frangalhos reafirmava a condição do jornal como uma das poucas trincheiras abertas na imprensa profissional contra o regime militar. O texto denunciava o fim de qualquer aparência de normalidade democrática do regime com o qual o Estadão rompera três anos antes. Em 13 de dezembro de 1968, a edição do jornal foi apreendida e, a partir dali, o Estadão passou a contar com censores da Polícia Federal. No mesmo dia, seria assinado o AI-5, com o qual o presidente Costa e Silva decretou o fechamento do Congresso e concedeu amplos poderes ao regime.
A queda do regime português
Liderado por oficiais de média patente, um golpe militar derrubou, em abril de 1974, a mais antiga ditadura da Europa Ocidental, vigente desde 1933 e liderada por Antônio Salazar. Em apoio ao movimento, portugueses foram às ruas de Lisboa e lançaram cravos sobre os rebeldes. Entrava para a História a Revolução dos Cravos. Um editorial avaliava seu desfecho ainda incerto. “Ao imobilismo obscurantista de ontem sucede uma incógnita”, escrevia o Estadão, reconhecendo que “não se passa, sem traumas, de meio século de totalitarismo para a democracia”.
A Lei da Anistia
Aprovada em 1979, a Lei da Anistia abriu caminho para o retorno dos exilados políticos e para a redemocratização do País. Foi o começo do fim das arbitrariedades do regime militar. Embora tenha reconhecido a importância desse pacto nacional para a pacificação necessária à volta do Brasil aos trilhos das liberdades democráticas, o Estadão não deixou de observar, seis anos antes da eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, que a Anistia era apenas um palmo de terreno a mais que se conquistava na dura guerra entre o autoritarismo e a democracia. “A Anistia pode ser uma esperança de paz – não é, todavia, sua certeza.”
As Diretas Já
No dia seguinte à rejeição da emenda Dante de Oliveira pelo Congresso, que pleiteava o retorno de eleições diretas para a Presidência da República, o jornal compartilhava o sentimento de frustração e destacava o isolamento do presidente João Figueiredo. “Não bastassem os comícios colossais em que o povo manifesta pacificamente sua preferência pelas Diretas Já, a solidão em que se encontra o Palácio do Planalto é atestada pelas pesquisas que expõem com números contundentes essa realidade dramática: aquilo que a população quer colide frontalmente com aquilo que os poderosos do dia desejam impingir-lhe. E não fosse suficiente a evidência que se reflete em tais pesquisas, há a circunstância de que contra as intenções da oligarquia se levanta, unânime, a grande imprensa – jornais e emissoras de rádio e TV.”
A morte de Tancredo Neves
A morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, após 39 dias de internação hospitalar para tratar uma diverticulite, foi o anticlímax do processo que levou à eleição, ainda de forma indireta, do primeiro presidente civil pós-ditadura militar. Abrindo uma exceção ao padrão de publicação diária de notas distintas de opinião, o Estadão dedicou toda a página 3 ao editorial sobre Tancredo, um dos idealizadores da Nova República, que não chegou a tomar posse, advertindo, de forma peremptória, que o Brasil não aceitaria intervenções antidemocráticas.
A renúncia de Collor
A renúncia de Fernando Collor de Mello no início da sessão de julgamento de seu impeachment, em 1992, apenas dois anos depois de sua posse, foi um artifício para tentar livrá-lo da pena de inelegibilidade. Collor foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular pós-ditadura militar, mas os muitos escândalos de corrupção de seu governo resultaram no processo de impeachment. O Estadão defendeu, de forma taxativa, a punição exemplar não apenas de Collor, mas de todos quantos se serviram da coisa pública.
O Plano Real
No dia em que entrou em vigor o Plano Real, em julho de 1994, a três meses de uma eleição presidencial, o Estadão, ao mesmo tempo que exortava o apoio da população, manifestava receio em relação a mais um plano econômico, sobretudo depois do fracasso de outros que mudaram a moeda e congelaram preços ao menos cinco vezes desde o regime militar. O texto afirmava que o êxito do plano representaria a vitória de qualquer que fosse o presidente eleito; o malogro, a derrota de todos. De fato, o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso (PSDB) venceu a eleição e o Plano Real ficou consagrado como o marco de estabilização da economia brasileira.
A PEC da Reeleição
Após a promulgação da Emenda Constitucional 16, que permitiu que o então presidente Fernando Henrique Cardoso, governadores e prefeitos disputassem um segundo mandato consecutivo, o jornal lamentou que a emenda não tivesse sido aprovada pelo Congresso em 1993, quando havia amplo consenso entre os parlamentares para autorizar a reeleição dos chefes do Poder Executivo das três esferas da administração pública. No editorial O grande desafio, o Estadão dizia que, para ter mais chances de se reeleger, FHC, cuja popularidade caía à época, precisaria oferecer à população algo além da estabilidade da moeda.
Os atentados de 11 de Setembro
Em editorial sobre os atentados terroristas do 11 de Setembro, o jornal pontuava que os ataques atingiram todo o sistema de valores do Ocidente e conclamava as democracias globais a se unirem para defender tudo o que o mundo ocidental colocou de pé política, econômica e culturalmente, valores que deveriam ser preservados a todo custo em nome das liberdades individuais. O jornal já considerava o possível envolvimento de Osama Bin Laden com aqueles terríveis crimes.
A primeira eleição de Lula da Silva
Neste editorial sobre a primeira eleição de Lula da Silva para a Presidência da República, o jornal avaliava que a vitória do ex-líder sindical havia sido inconteste, mas que o PT, ao contrário do presidente eleito, não saiu consagrado das urnas. Com base neste diagnóstico, o Estadão cobrou que as estratégias de Lula no governo levassem em consideração o fato de que a população brasileira deu a ele, e não ao seu partido, uma grande vitória.
O escândalo do mensalão
Semanas após a entrevista em que o então deputado federal Roberto Jefferson acusou o PT de pagar R$ 30 mil a deputados do PL e do PP, esquema que ficou conhecido como “mensalão”, o jornal exortou o presidente Lula da Silva a encarar de vez os problemas que o assombravam e pelos quais era o maior responsável, pois, mesmo tendo sido informado antecipadamente sobre as práticas nada republicanas de sua base, pouco ou nada fez para impedi-las.
A crise financeira mundial
Após a quebra do banco de investimento Lehman Brothers, o quarto maior dos EUA à época, o jornal antecipava que o pior da crise financeira originada pela avaliação inflada de títulos imobiliários de baixíssimo valor de crédito ainda estava por vir. O editorial chamava a atenção para a necessidade de prudência fiscal no Brasil ante o virtual agravamento da crise financeira global.
A eleição de Barack Obama
Confirmada a eleição de Barack Obama, primeiro negro eleito presidente dos EUA, o jornal ressalta que o democrata é um estadista, cuja votação entre os brancos (43%) foi a maior desde a eleição de Lyndon Johnson em 1964. O Estadão pondera, contudo, que a vitória de Obama, de realidade muito diferente da de seus compatriotas também negros, provocou esperança desmedida não só em seu país, como no mundo.
A eleição de Dilma Rousseff
Sem Lula da Silva, afirma o Estadão, Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente do Brasil, nem sequer teria sido candidata. O jornal destaca no editorial que Dilma, em discurso de vitória, se diferenciou de Lula ao prometer ser intolerante com a corrupção, defender a imprensa livre e falar em governo de união, distanciando-se do discurso divisivo do “nós contra eles”, típico de seu padrinho político.
O impeachment de Dilma
Em dezembro de 2015, a Câmara dos Deputados aceitou a denúncia por crime de responsabilidade contra a então presidente Dilma Rousseff, reeleita no ano anterior. O jornal apoiou o processo de afastamento, na expectativa de que ele desse fim à crise política e econômica que havia se instalado desde o fim de seu primeiro mandato, e defendeu também a saída definitiva de seu algoz, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da vida pública. “Desqualificada como chefe de governo, Dilma só pode exibir a seu favor a imagem de administradora pública idônea. Incompetente e desajeitada, mas honesta” disse o jornal. “O que o Brasil espera agora é que uma faxina política exemplar seja feita a partir do afastamento de Dilma e de Cunha da vida pública. Isso depende do Congresso, que é o foro constitucionalmente adequado para decidir, politicamente, uma questão essencialmente política. E certamente será levada em conta a vontade amplamente majoritária dos brasileiros, que sabem ser necessária a restauração da moralidade para que os outros graves problemas do País se resolvam.”
Uma escolha muito difícil
O editorial Uma escolha muito difícil destacou a polarização que passaria a pautar a política brasileira. Candidato à Presidência em 2018, Jair Bolsonaro se apresentou na campanha como um campeão “antissistema”, defensor de valores tradicionais e, sobretudo, inimigo figadal do lulopetismo. O candidato petista Fernando Haddad assumiu a cabeça de chapa após Lula da Silva ser preso e condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. “Como se vê, o eleitor estará diante de uma escolha muito difícil, e a campanha, que deveria servir para iluminar um pouco mais as propostas em jogo, provavelmente servirá para aumentar ainda mais os antagonismos, as indefinições e as confusões que, afinal, garantiram a passagem de Bolsonaro e Haddad para o segundo turno”, dizia o editorial.
A crise da ordem liberal
Neste editorial, o jornal destacou uma onda de retrocesso das liberdades fundamentais e direitos democráticos, sobretudo nos últimos 15 anos. Diferentemente de outras ondas autocratizantes, como na emergência do nazifascismo e do comunismo no período entreguerras ou das agitações civis e ditaduras militares nos anos 1960-1970, desta vez o ataque à democracia se dava não de fora, mas de dentro, por um processo de erosão a partir da manipulação de instrumentos democráticos. À época, o jornal mencionava a primeira eleição de Donald Trump e a aprovação do Brexit pela maioria dos eleitores do Reino Unido, ambas em 2016, mas eventos mais recentes e posteriores à publicação, como a ascensão da extrema direita filonazista na Alemanha, a invasão do Capitólio em 2021, o esfacelamento das regras de comércio internacional ou o irredentismo da Rússia, confirmaram sintomas manifestos desta recessão global da democracia liberal.
A Lava Jato e o lavajatismo
Deflagrada em 2014 pelo Ministério Público Federal de Curitiba, a Operação Lava Jato desbaratou o maior esquema de corrupção de que se tem notícia na história do Brasil, o chamado “petrolão”, que, sob os governos do PT, movimentou bilhões em propinas envolvendo, entre outras coisas, contratos da Petrobras com empreiteiras nacionais. Muitas descobertas da operação foram perdidas à medida que foram se revelando abusos do devido processo legal, motivados por um voluntarismo de natureza política (ou antipolítica). O lavajatismo, segundo o jornal, acabou levando à anulação de vários processos, à impunidade dos corruptos e, por fim, à eleição de Jair Bolsonaro. “Operações como a Lava Jato não só podem, como devem continuar existindo. O que há de acabar é o lavajatismo, esse estado de espírito segundo o qual vale tudo em nome de uma suposta elevação moral da sociedade.”
O revanchismo contra a Constituição de 1988
Dos muitos inimigos de conveniência conjurados por Jair Bolsonaro para inflamar seus correligionários e lançar cortinas de fumaça sobre sua incompetência, o maior deles foi o Supremo Tribunal Federal. Mas, ao fim e ao cabo, esse e outros inimigos se provaram meros avatares em que Bolsonaro projetou seu ressentimento profundo com o fim do regime militar e a redemocratização materializada na Nova República. “Na realidade, o inimigo de Jair Bolsonaro não é a Corte, tampouco seus integrantes. Seu inimigo é a Constituição de 1988”, diz o editorial. O jornal reconhece que a Constituição de 1988 tem muitos defeitos, mas ressalta que o bolsonarismo se volta justamente contra suas qualidades. “Ao longo de sua carreira política, ele tem representado e verbalizado a voz dos perdedores de 1988, aqueles que se opuseram e continuam a se opor ao Estado Democrático de Direito. Daí que sua batalha atual seja contra as eleições e as urnas. Tudo integra o mesmo pacote autoritário e antirrepublicano.”
Lula não ganhou um cheque em branco
Após o Supremo Tribunal Federal anular, em 2021, as condenações de Lula da Silva no âmbito da Operação Lava Jato, restaurando seus direitos políticos, o ex-presidente concorreu a um novo mandato, disputando o segundo turno contra o incumbente Jair Bolsonaro. Apesar dos escândalos de corrupção e da recessão que marcaram as gestões lulopetistas, a população, em boa parte exausta com a truculência e a incompetência do governo Bolsonaro, deu um voto de confiança ao petista, conferindo-lhe um terceiro mandato presidencial. No editorial, o jornal destaca que a vitória de Lula da Silva se deu por pequena margem, o que reforça não ter havido adesão incondicional ao lulopetismo.
A pandemia de covid-19
Ao fim de dezembro de 2019, começaram a chegar notícias sobre a emergência de um misterioso vírus na província de Wuhan, na China. Em menos de dois meses, o planeta inteiro estava em pânico, as pessoas reclusas em suas casas e os negócios fechados. Até o fim de 2024, o coronavírus causaria oficialmente mais de 7 milhões de mortes, posicionando a pandemia de covid-19 como a quinta mais letal da história humana. No editorial Três anos que nunca acabarão, o jornal ressalta a necessidade de o mundo criar um sistema de vigilância e um protocolo de isolamento caso novos surtos de doenças sejam detectados. “Estamos todos juntos num mundo ameaçado por novas doenças. É incerto o que virá, quando, onde ou como, mas a única certeza é que virá.”
Intolerável assalto à democracia
Uma semana após a inauguração do mandato de Lula da Silva, em 8 de janeiro de 2023, uma multidão de manifestantes bolsonaristas, que há meses vinham protestando em frente a quartéis pedindo uma intervenção militar, saíram do Quartel-General do Exército em Brasília e marcharam em direção à Praça dos Três Poderes. Rompendo barreiras das forças de segurança inacreditavelmente despreparadas, centenas de manifestantes ocuparam a rampa e a laje de cobertura do Congresso Nacional, enquanto outros tantos conseguiram invadir e vandalizar o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Cerca de 400 pessoas foram detidas no ato e outras 1,2 mil foram presas nos acampamentos em frente ao QG do Exército no dia seguinte. No editorial Intolerável assalto à democracia, publicado na noite daqueles eventos, o que não é costume do jornal, o Estadão já recusava a condescendência com os insurgentes, cobrava a responsabilização de todos os golpistas e destacava a conivência de Jair Bolsonaro.
Um ano de uma guerra absurda
Após anexar a Crimeia em 2014, o presidente russo, Vladimir Putin, lançou uma invasão não provocada em grande escala à Ucrânia em fevereiro de 2022, detonando o maior conflito armado na Europa desde a 2.ª Guerra Mundial, que resultou numa crise de refugiados e dezenas de milhares de mortos, incluindo civis atacados deliberada e indiscriminadamente. Putin alegava que o objetivo de sua “operação militar especial” era “desmilitarizar e desnazificar” a Ucrânia, exigindo como condição para o fim das hostilidades a anexação de territórios no leste do país. “O Ocidente precisa se preparar para essa guerra longa, de imediato fornecendo mais armas para que a Ucrânia ganhe posições na batalha. Com tanques e eventualmente caças, isso é possível. Ainda assim, será preciso se preparar para as retaliações de Putin”, diz o editorial.
Inteligência artificial, sabedoria humana
Em novembro de 2022, a OpenAI lançou o ChatGPT (sigla para Chat Generative Pre-trained Transformer), basicamente, um sistema de geração de textos sob demanda do usuário. Em cinco dias o website alcança mais de 1 milhão de usuários e em pouco mais de um mês chegou a 100 milhões. O episódio marca a primeira onda de popularização global massiva da inteligência artificial (IA) generativa. Imediatamente, páginas impressas e digitais de todo o mundo foram inundadas por manifestações que variam do mais extremado otimismo ao mais aterrorizante pessimismo. “Mais do que frear o desenvolvimento técnico da IA, é preciso acelerar a busca por sua segurança. De resto, é preciso alinhar as expectativas. Nenhuma tecnologia jamais fez ou fará um milímetro de diferença se não for superado o supremo desafio humano de usar o conhecimento não para alimentar o egoísmo e a destruição, mas para estimular a solidariedade e a inteligência”, diz o editorial.
Traidores da Pátria
Em novembro de 2024, investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Contragolpe revelam detalhes de uma suposta tentativa de golpe de Estado. Engendrada por militares correligionários do presidente Jair Bolsonaro logo após as eleições de 2022, a operação alcunhada “Punhal Verde e Amarelo” previa, segundo a Polícia Federal, sequestrar e assassinar o ministro do Supremo Tribunal Federal e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin. O jornal não hesita em censurar os golpistas e cobra sua responsabilização. “Se felizmente a intentona não foi adiante, o simples fato de frutificar entre os mais bem treinados militares do Exército esse ímpeto golpista em nada tranquiliza a Nação. O País só estará em paz quando, um por um, todos os traidores da Constituição, que, como dissera Ulysses Guimarães, também são traidores da Pátria, forem julgados por seus crimes sob a égide do mesmo Estado Democrático de Direito contra o qual se insurgiram.”