BRASÍLIA - Aos 25 anos, Thiago Süssekind ostenta no currículo atuações relevantes na política: foi líder regional de movimento social, organizou protestos em defesa do impeachment de um presidente e participou, como cabo eleitoral, de candidaturas vitoriosas. Esses feitos estão alinhados com uma formação acadêmica sólida que dá sustentação às ideias do jovem. Ele é bacharel em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestrando em Políticas Públicas na Universidade de Oxford.
Thiago se engajou cedo na luta política. Em 2020, foi eleito líder da divisão fluminense do Movimento Acredito, uma das muitas iniciativas de renovação política que pipocaram no Brasil pós-junho de 2013. A organização prega comprometimento com a justiça social e a responsabilidade fiscal, além de se declarar suprapartidária e progressista. Esses valores estão em linha com os discursos de Thiago em debates sobre o País.
Thiago Süssekind faz parte da nova série do Estadão “Nomes para ficar de olho”, que traz perfis em texto e vídeo de jovens que devem ganhar projeção no debate público nacional nos próximos anos.
Moderação na política
O estudante carioca é um defensor da moderação na política. Ele já foi um franco apoiador do progressismo liberal, ou liberalismo igualitário, mas diz ter ficado mais “consequencialista” e menos apegado às definições políticas. Além disso, avalia que já não faz mais sentido se apegar ao rótulo de liberal, uma vez que, em sua avaliação, esses ideais foram deturpados por quem os reivindica no debate público atualmente.
“Se sou um liberal, eu sou um liberal muito estranho, muito esquisito, e eu acho que nem faz mais sentido me apropriar desse termo atualmente, porque na prática ele virou outra coisa”, diz.

Thiago se coloca na centro-esquerda do espectro político, mas reconhece que tem muita gente de esquerda que não gosta de ouvi-lo dizer que fazem parte do mesmo campo. Na visão dele, a política ideal é aquela que concatena políticas progressistas com responsabilidade fiscal, mesma combinação que está no cerne do projeto do Movimento Acredito.
A organização tem a deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) como principal expoente. A parlamentar também é uma das maiores inspirações de Thiago.
Para o jovem, o PSB é a sigla que constrói o projeto de País mais próximo de seus valores na política. Segundo Thiago, o que o afasta da centro-direita é o apego desse campo à defesa da economia de mercado em vez de uma centralidade maior no combate às desigualdades.
“O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e qualquer projeto de País precisa ter isso em consideração”, defende.

Com esses ideais em mente, ele partiu ainda na faculdade para a arena política. Fez parte da organização dos atos de rua que pediam o impeachment do então presidente Jair Bolsonaro, em 2021. O jovem fala com orgulho que, com o Acredito, puxou a primeira manifestação contra Bolsonaro no Rio: uma carreata contra a política de contaminação de rebanho defendida pelo governo federal.
Diálogo com aliados improváveis
O envolvimento na organização de atos de rua o levou a dialogar com grupos políticos com os quais não é alinhado, como a esquerda tradicional e o MBL, em prol de uma frente ampla contra Bolsonaro. O jovem diz que conquistou “aliados improváveis” na luta política, porque todos reconheciam a existência de um objetivo comum.
Um exemplo de parceria construída nesse processo foi com militantes de partidos comunistas que, conforme afirma, o chamavam de “o centrista que a gente gosta”, justamente por sua capacidade de construir consensos.
“O mais valioso que eu tirei daquela experiência como uma das lideranças na organização do ‘Fora, Bolsonaro’ no Rio foi a importância de construir consensos e a habilidade de diálogo para conversar com todos os lados”, conta. “Foi uma experiência muito interessante, que levou a gente a ter imagens incríveis, como uma bandeira associada aos movimentos libertários, uma cobra sobre o fundo amarelo, ao lado de uma bandeira comunista.”

Ele também foi um defensor da frente ampla e do voto útil em Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno de 2022 contra Bolsonaro. Mesmo distante do PT, o jovem fez apelos a pessoas de direita e de centro para que votassem no petista como forma de preservar a democracia. Por vias trocadas, repetiu o pedido aos petistas, para que abandonassem a candidatura de André Ceciliano (PT) ao Senado pelo Rio e votassem em Alessandro Molon (PSB), seu padrinho na política.
Carreira ‘muito ingrata’
O engajamento na política, em especial na militância, no entanto, murchou um pouco nos últimos anos, após decepções com movimentos de renovação. Thiago conta que já quis concorrer a cargos eletivos, mas que hoje não tem tanta certeza sobre esse caminho, porque considera a carreira de político “muito ingrata”.
“Se eu fosse tentar esse caminho da política institucional, seria de uma forma muito individual, sem abrir mão de nenhum compromisso ético, de nenhum compromisso com a integridade, fazendo tudo da forma que acho correta.”
O pé atrás de Thiago sobre o seu futuro na política vai na contramão da opinião de seus mentores. Para o ex-deputado federal Alessandro Molon, que foi professor de Thiago na UERJ, o estudante mostra preparo e preocupação em construir pontes, o que seria útil para eventual futuro na política.
“Acho natural que ele tenha essas dúvidas. Mostra que essa questão para ele não é uma obsessão, é muito provavelmente uma vocação. Não só vejo espaço para ele (na política), como acho fundamental abrir espaço para jovens como o Thiago, que queiram servir ao País na política. Eu espero que ele tenha esse desejo”, disse Molon ao Estadão.
Enquanto avalia os próximos passos, Thiago estuda segurança pública e revela o desejo de continuar contribuindo com o debate público. Atualmente, mantém um blog onde faz análises da conjuntura política nacional e internacional.