Tomás Covas ambiciona ser deputado para além de ‘nepobaby’, vê PSDB sem liderança e flerta com MDB

Jovem é visto como promessa na política, mas busca diferenciação em relação ao pai e ao bisavô; veja o perfil dele na nova série do Estadão, ‘Nomes para ficar de olho’

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - Aos 19 anos, Tomás Covas é pré-candidato a deputado estadual por São Paulo. Apesar de seu padrinho político, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), já imaginá-lo na disputa por uma vaga na Assembleia Legislativa (Alesp) em 2026, o jovem prefere “manter a calma” e analisar o momento ideal para fincar de vez os pés no terreno da política.

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“Depois que perdi meu pai (Bruno Covas, morto em 2021 vítima de um câncer), senti um pouco da pressão de algumas pessoas que logo vieram querer que eu fosse candidato em 2024”, afirma Tomás ao Estadão. Quatro anos depois, ele diz que já “não cai mais na pilha” que as pessoas depositam nele e acredita que o ingresso na política deve ser fruto de um desejo genuíno, em vez de uma obrigação hereditária.

Tomás Covas faz parte da nova série do Estadão “Nomes para ficar de olho”, que traz perfis em texto e vídeo de jovens que devem ganhar projeção no debate público nacional nos próximos anos.

A um ano de um novo ciclo eleitoral, ele mantém um pé na política e outro em seus objetivos pessoais. Até o início deste mês, exerceu o cargo de coordenador de Políticas para a Juventude no governo Nunes, o que diz ter lhe rendido aprendizados sobre o funcionamento da máquina pública.

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Filho de Bruno e bisneto de Mario Covas, Tomás diz que ingresso na política tem de ir além da 'obrigação hereditária' Foto: Denise Andrade/Estadão - 23/4/2022

Atualmente, cursa o primeiro semestre de Direito no Ibmec tendo como horizonte de trabalho não a advocacia ou a magistratura, mas o exercício de um cargo eletivo. “Acredito que seja muito importante ter formação e capacitação para que possa ir mais preparado para uma candidatura”, avalia.

Livre do rótulo de ‘nepobaby’

Os estudos e a qualificação técnica também são uma forma de Tomás tentar provar que não é apenas um “nepobaby” - termo usado para descrever celebridades que tiveram sucesso na mesma profissão dos pais. O jovem reconhece que o contato próximo com o pai durante a atividade política fez com que ele partilhasse muitas visões de mundo com Bruno Covas. Porém, faz questão de frisar: “Eu sou o Tomás, ele é o Bruno”.

Ainda que faça uma risca no chão em relação a seu pai, é indiscutível que o vislumbre de uma candidatura aos 21 anos (em 2026) vem da linhagem familiar, que começa ainda antes de Bruno. Tomás é bisneto do ex-governador de São Paulo e um dos fundadores do PSDB, Mario Covas.

Além da Prefeitura de São Paulo, o rapaz também estagiou no Palácio dos Bandeirantes a convite do ex-governador João Doria, de quem Bruno Covas foi vice na administração paulistana entre janeiro de 2017 e abril de 2018.

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“Nas eleições que eu disputar, não quero dizer que serei candidato só porque sou o filho do meu pai. Acho que isso seria totalmente errado e antiético, mas vai ser uma grande missão que terei pela frente para mostrar um pouco quais são as minhas bandeiras, as minhas ideias, a minha visão de mundo”, diz.

Ao lado de Bruno Covas e Ricardo Nunes após o resultado do primeiro turno das eleições de 2020: ideias próprias Foto: Daniel Teixeira / Estadão

Tomás se define como centrista, que sabe reconhecer os valores sociais da esquerda e que vê como positiva a cooperação com o mercado, por meio de privatizações e concessões, como defende a direita.

Nas eleições de 2024, o jovem foi contrário à candidatura do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Ao votar, disse que ia “passar o trator” em cima do psolista, que representava a esquerda naquela eleição. Ainda durante as convenções do MDB, Tomás discursou no palanque de Nunes contra “o radicalismo” representado pela candidatura de esquerda.

A leitura dele é de que o Estado não deve ser mínimo, conceito que se popularizou entre correntes de direita no debate público, mas “necessário”, com foco em entregar aquilo que é a sua missão. O jovem, contudo, não detalha qual seria essa missão. Ele rejeita a pecha de que políticos de centro seriam “em cima do muro”, ou “isentões”, e avalia que, na verdade, esse espectro garante “a liberdade de pensar no que é melhor dos dois lados”.

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Porém, quando questionado sobre os seus faróis na política para além de Bruno Covas, as respostas são predominantemente de figuras de direita, como o prefeito Ricardo Nunes, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), o secretário paulista e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, o ex-governador Rodrigo Garcia e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A única referência que foge desse espectro é o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

No processo de se preparar para o futuro, Tomás conta com a orientação dos avós Renata Covas e Pedro Lopes. A avó paterna, que é filha de Mario Covas, faz o papel de mentora do neto com o conhecimento que angariou nos bastidores da política.

Momento delicado do PSDB

Outro fator que pesa para a definição dos rumos do jovem na política é o desmantelamento do PSDB, partido ao qual é filiado. Tomás afirma que a sigla “vive um momento muito delicado, comandada por algumas pessoas que não defendem os seus ideais originais”. Na leitura dele, faltou ao partido uma liderança que pudesse afastá-lo do fisiologismo de outras legendas que se reivindicam de centro, mas que acabam sendo vistas como em cima do muro. “Eu acho que o futuro do PSDB a Deus pertence”, resume.

“Eu continuo filiado, mas não sei se for candidato será pelo PSDB. Não é algo que eu pense hoje e não é uma das minhas prioridades”, diz. Tomás vê a fusão com o MDB, partido com o qual tem flertado, como alternativa para a sigla não se dissolver por completo. Porém, o jovem avalia que os tucanos não devem selar a união. Com esse cenário de indefinição na legenda fundada por seu bisavô, ele não esconde que o MDB de Nunes pode ser seu destino.

“Eu acho que o MDB é um partido que, no cenário nacional, é considerado de centro, que é um pouco o meu aspecto político. A sigla está muito bem nacionalmente, tem uma visão mais definida e segue um pouco das raízes do PSDB também.”

Com Tarcísio e Nunes no primeiro turno das eleições de 2024; Tomás ensaia candidatura a deputado em 2026 Foto: Felipe Rau/Estadão - 6/10/2024

Críticas em família

Esse posicionamento contrasta com a declaração dada por ele após o primeiro turno das eleições de 2024. Na ocasião, o jovem votou ao lado de Nunes e rejeitou a ideia de deixar o PSDB.

Tomás foi um ativo importante na campanha do prefeito, que abriu a programação no horário eleitoral gratuito com uma declaração do jovem exaltando a lealdade de Nunes ao projeto de Bruno Covas.

Foi justamente a aproximação com o MDB que rendeu a Tomás algumas das críticas mais duras que recebeu neste início de carreira política. O apoio a Nunes, sucessor de seu pai, em vez de José Luiz Datena, o nome do PSDB para disputar o pleito, lhe rendeu uma ameaça de expulsão do partido vinda de José Aníbal (PSDB), candidato a vice na chapa de Datena. “Ele não tem mais nada a ver com o PSDB. Apoia um bolsonarista (Nunes)”, afirmou Aníbal. “É um garoto que, na minha opinião, está sendo muito manipulado por essa gente.”

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O ex-vereador Mario Covas Neto (PSDB), tio de Tomás, apontou que a proximidade de Nunes com Jair Bolsonaro, algo que foi minimizado pelo rapaz, contrariava os posicionamentos de Bruno Covas, que fez frente ao negacionismo científico do ex-chefe do Executivo federal.

“Sempre acho válidas e gosto de receber críticas, mas essa do Zuzinha (Mario Covas Neto) foi demais, porque ele estava defendendo uma candidatura que não tinha nem chão, nem rumo e nem força política, a do Datena, que é sempre um fanfarrão”, rebate o jovem.

Apesar de Nunes ter contado com o apoio de Bolsonaro na eleição, Tomás se mostra um crítico do ex-presidente e contemporiza a aliança feita pelo padrinho político. O estudante avalia que há caminho para a direita sem o ex-presidente.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não escapa das “bordoadas de Tomás”. Na visão do jovem, o “petista se perdeu”, sobretudo na economia, ao se desconectar dos pontos positivos apresentados em mandatos anteriores, como a maneira com que lidou com a flutuação do dólar.

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