Cédula sem ‘Deus’ vale até R$ 2.800

MP quer tirar a frase ‘Deus seja louvado’ das cédulas; Sarney mandou colocá-la

PUBLICIDADE

Atualização:

O real nasceu ateu. As primeiras séries da nova moeda antes mesmo de sua circulação, iniciada em 1 de julho de 1994, saíram sem a frase “Deus seja louvado”, impressas no anverso. Agora a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão entrou com ação para que ela seja definitivamente retirada alegando que a expressão fere os princípios de laicidade do Estado e é ilegal.

O Estado de S. Paulo - 17/5/1994

Reportagem de 1994 sobre a exclusão da frase "Deus seja louvado" das cédulas de Real.  Foto: Acervo Estadão

PUBLICIDADE

A frase só voltou a ser impressa na gestão de Rubens Ricupero na pasta da Fazenda. Ele assumiu em 30 de março de 1994. A maioria das cédulas sem a expressão carrega assinatura de seu antecessor Fernando Henrique Cardoso e Pedro Malan, presidente do Banco Central. O restante é assinada por ele, substituto de Cardoso e Malan, presidente do Banco Central.

E aí que os colecionadores ficam atiçados, explica o numimatista e autor do livro “Cédulas do Brasil”. Claudio Amato. A pouca quantidade de notas de R$ 100,00 sem a expressão e com assinatura de Ricupero mexe com o mercado numismático.

Uma dessas notas em perfeito estado, sem dobras e marcas de uso, chega a valer até R$ 2.800, segundo Amato. O valor se explica também pela pouca quantidade de séries impressas com assinatura de Ricupero, foram apenas 3, ante 1.198 por Fernando Henrique. Cada série é composta por 100 mil notas.

Cédula de 100 reais sem a inscrição "Deus seja louvado".  Foto: Acervo Estadão

Com Deus

Foi desde o cruzado, em 1986, que a frase passou a ser impressa nas cédulas. Não existe nenhuma lei que obrigue o Banco Central ou a Casa da Moeda de incluí-la. Esse é um dos argumentos da Procuradoria, além do aspecto da laicidade. Se qualquer presidente desejar colocar outra frase nas notas, não há nada que o impeça, argumenta procurador regional dos Direitos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias.

No caminho inverso, basta uma ordem do ministro da Fazenda ou do presidente da República para que a expressão saia. Segundo o Banco Central, foi do então presidente José Sarney a ordem para incluí-la.

Publicidade

No governo Itamar Franco, quando o real surgiu não havia nenhuma ordem expressa da presidência para que a expressão voltasse. É o que noticiou o Estadão em 17 de maio de 1994. O então presidente interino e diretor de Produção da Casa da Moeda, Tarcísio Caldas Pereira, afirmou não ter recebido nenhuma determinação do Banco Central para incluir a expressão. Mas o Banco Central informa que o pedido partiu do ex-ministro Fernando Henrique Cardoso através de ‘aviso do Ministério da Fazenda’ do dia 30 de março de 1994, último dia de Cardoso no cargo.


ACERVO ESTADÃO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.