A ideia de apresentar ao mundo uma Nação moderna, respeitada entre as demais, com laços diplomáticas que se estendiam por todo o globo e integrada aos progressos e tecnologias de sua época norteou as festas do Centenário da Independência do Brasil, em 1922. A expressão plena desse ideal materializou-se na Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil, realizada no Rio de Janeiro e inaugurada em 7 de setembro daquele ano.
Com uma expressiva verba de cerca de 100 mil contos de réis, o presidente Epitácio Pessoa não poupou esforços para fazer da exposição um sucesso. Expressões culturais de sua época, as Exposições Universais, ou Feiras Mundiais serviam para fomentar a integração, o intercâmbio cultural, as relações comerciais entre as nações e apresentar os avanços tecnológicos do período; além de ajudar a promover a imagem internacional dos países que as sediavam.
Ao unir as celebrações do centenário à grande exposição e torná-la internacional, o governo fez tanto do evento, como toda a estrutura montada para instalação dos pavilhões um legado de sua administração - onde funcionaram alguns dos pavilhões estão hoje o Museu Histórico Nacional, o Museu da Imagem e do Som, a Academia Brasileira de Letras e o Centro Cultural da Saúde.
A data de caracter nacional foi transformada num acontecimento internacional. Foi o primeiro evento do gênero realizado após a Primeira Guerra Mundial e até hoje é a única exposição universal realizada na América do Sul.
O complexo da exposição se situava no centro do Rio de Janeiro, na região onde antes havia o Morro do Castelo. No final da Avenida Rio Branco, um pórtico monumental de 33 metros de altura marcava sua entrada.
Com pavilhões de mais de seis mil expositores e com a participação de todos os Estados brasileiros e de 14 países, entre eles, Estados Unidos, França, Itália, Portugal, Inglaterra, Bélgica, Japão e Argentina, a grandiosa estrutura foi cuidadosamente iluminada com luzes noturnas para se destacar ao longe. Mais de 3 milhões de pessoas visitaram a feira, que terminou em março de 1923.
Além da Exposição Internacional, outros pontos altos dos festejos do centenário foram a execução da primeira transmissão de rádio no País; a primeira travessia aérea do Atlântico Sul, no raid Lisboa - Rio, realizado pelos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral; e a visita de membros da Família Imperial Brasileira para celebrar o centenário da Independência do Brasil.
O primeiro retorno dos descendentes de D. Pedro I ao País depois da proclamação da República, acabou sendo eclipsado pela morte do Conde d'Eu, viúvo da princesa Isabel, durante a viagem de vinda.
Pelas ondas do rádio. um marco da nova era das comunicações, a primeira transmissão de rádio no País, também foi realizada naquele Sete de Setembro. Pelas ondas do rádio, os brasileiros puderam ouvir o discurso ufanista de Epitácio Pessoa transmitido simultaneamente à abertura da exposição e, em seguida, a sinfonia O Guarani (1870), de Carlos Gomes, transmitida diretamente do Teatro Municipal do Rio.
Às margens do Ipiranga. Os festejos do centenário se estenderam por todo o Brasil. Em São Paulo, além de paradas militares com bandas e fogos de artifícios, a data foi celebrada com a reforma do Museu Paulista, ou Museu do Ipiranga.
Foi nesse período que a instituição viu ampliadas as salas dedicadas à História da nacional, foi também naquele ano, que o Monumento à Independência do Brasil começou a ser erguido na colina do Ipiranga, hoje parte do complexo que compõem o Parque da Independência, que fica nas margens do córrego do Ipiranga onde D.Pedro I proclamou o Brasil uma nação independente.
As primeiras pospostas para a construção de um monumento no local do “brado retumbante” surgiram do Império. Mas, foi só em 1917 que a ideia ganhou força, como um marco das celebrações do centenário da Independência em 1922.
Um concurso foi aberto para escolha do projeto, com edital anunciado no Estadão em 7 de setembro daquele ano. Os consulados brasileiros na América do Sul, nos Estados Unidos e Europa divulgaram o edital, atraindo vários escultores de renome internacional.
Em 1919, a comissão julgadora, depois de analisar os 27 projetos criados em maquetes e esboços escolheu a criação do escultor italiano Ettore Ximenes. Em 1922 o monumento ainda em construção foi inaugurado. As obras foram finalizadas em 1926.
As exaltações patrióticas que dominaram os festejos do centenário não foram suficientes para abafar as tensões sociais e políticas do período. A rebelião militar de 5 de julho de 1922- conhecida como a Revolta dos 18 do Forte - contra a posse de Arthur Bernardes, eleito presidente em março daquele ano, marcaria o início dos levantes tenentistas que desgastaram a República Velha até sua derrubada com a Revolução de 1930.
Os 150 anos da Independência. Realizados durante a ditadura, os festejos do sesquicentenário da Independência em 1972 exaltavam a união nacional através do militarismo. O governo Médici conseguiu negociar com o governo militar português que os restos mortais de D. Pedro I fossem transladados para o Brasil. Antes de serem abrigados na cripta do Monumento à Independência, os despojos passaram em peregrinação por todas as capitais num programa de comemorações que tomaram o País.
>> Estadão - 7/9/1972 e 8/9/1972
Leia também:>> 7 de Setembro: ditadura usou data para exaltar militarismo>> Dom Pedro I no Brasil: Ditadura trouxe restos mortais, mas erro de cálculo impediu sepultamento>> 100 anos da travessia aérea Lisboa-Rio
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.