Na sua coluna ‘Coisas da Cidade’, de 13 de janeiro de 1925, o colunista e observador do cotidiano de São Paulo, José Martins Pinheiro Júnior, relata um acontecimento comum até hoje na cidade: a confusão causada por pedestres reunidos nas calçadas e carros estacionados nas ruas.
O relato de Pinheiro Júnior é sobre a rua 15 de Novembro, uma das mais movimentadas do centro e pertencente ao Triângulo como era conhecida a região muito movimentada da cidade na época, englobando, além dela, a Rua Direita e a São Bento. Para desfazer o nó, foi necessário a intervenção da polícia livrando das calçadas os transeuntes e negociantes que faziam dela seu local de trabalho, e também os carros estacionados na rua esperando pelos seus passageiros.
Leia a íntegra do texto com a grafia da época:
O TRANSITO NO CENTRO
A policia tomou hontem uma boa providencia: a de evitar as agglomerações de pessoas na rua 15 de Novembro. Ha muito tempo que toda a gente se queixava de não poder andar livremente na principal arteria da cidade, onde o movimento, já de si enorme, era aggravado com a permanencia de grupos de populares nas calçadas.
Nas vizinhanças do Banco Francez e Italiano, principalmente, os grupos eram sempre numerosos e compactos, sobretudo das 14 ás 16 horas, por fórma que poucas pessoas se aventuravam a abrir caminho por entre elles.
Só mesmo as que podiam ir avançando lentamente, ás cotoveladas e encontrões, é que não fugiam para a calçada fronteira ou para melô da rua.Mas, ainda ahi, um ou outro grupo de conversadores ou de corretores, a decidirem na rua os seus negocios, constituiam outros tantos estorvos, em certas horas do dia, e, quanto no leito da rua, os automoveis se encarregavam de o tornar cada vez mais insufficiente, estacionando longos quartos de hora a espera dos seus proprietarios ou freguezes.
Ora, tambem os automovels são attingidos pelas medidas policiaes, pois, segundo parece, o seu estacionamento não é mais permittido senão durante rapidos instantes.
Hontem, o serviço na rua 15 de Novembro foi bem executado, por inferiores muito delicados, que encontravam as melhores disposições da parte de todos.
- Boa coisa! ouvimos de um popular que conversava com outro, e foi convidado a circular. Boa coisa! Ao menos assim A gente poderá andar mais depressa pela rua 15... Que essas providencias não sejam do curta duração, como já tem succedido, tal é o nosso voto mais sincero, P.
‘P’: Um cronista da cidade de São Paulo
José Martins Pinheiro Junior, ou ‘P’, como assinava, nasceu em 12 de abril de 1884 em Silveiras (SP). Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1907. Dois anos depois, entrou para o jornal ‘O Estado de São Paulo’ como redator, cargo que exerceu durante 35 anos. No jornal, além de redigir a seção ‘Coisas da Cidade’ ocupou-se da também da coluna “Revista das Revistas”. Também foi um dos fundadores da ‘Revista do Brasil’ (1916) e do Diário da Noite (1926).
Como advogado foi nomeado, em 1931, para o cargo de Curador Fiscal das Massas Falidas da cidade de São Paulo, que ocupou até 1954 quando se aposentou. Pinheiro Junior faleceu em 2 de outubro de 1958. No Acervo Estadão estão registrados 3.311 textos publicados por ele entre os anos 1910 e 1945.