‘Coisas da Cidade’: poluição da água nas fontes de São Paulo em 1920

Na época, as fontes eram a única opção de abastecimento dos bairros mais afastados do centro

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Atualização:

Na coluna ‘Coisas da Cidade’ de 9 de setembro de 1920, José Martins Pinheiro Junior divulga o relatório da prefeitura sobre a qualidade da água existentes nas fontes públicas.

Na época, sem um sistema de tratamento e distribuição de água encanada suficiente que contemplasse a grande parte da população paulistana, as fontes públicas eram as únicas opções para boa parte dos moradores distantes do centro.

O relatório mostra que "quasi todas as fontes publicas mais frequentadas pela população pobre [...] são polluidas".

Leia abaixo a íntegra da coluna.

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O Estado de S. Paulo - 09/9/1920

Coisas da Cidade - 9/9/1920. Foto: Acervo Estad

AS FONTES PUBLICAS

Se os vereadores não estivessem de namoro declarado com os “chauffeurs” (digo mal: com os proprietarios da algumas “garages” ricas da cidade), eu chamaria a sua preciosa attenção para um problema importantissimo: o das nossas fontes publicas. Como, porém, ninguem arranca os respeitaveis edis do escandaloso perigo em que cahiram, com aquelles seductores cavalheiros, com grave prejuizo para os legitimos interesses do povo, - o chronista limita-se a appellar para as autoridades competentes - Prefeitura, Serviço Sanitario ou Repartição de Aguas afim do que o mais depressa possivel sejam dadas providencias que acautelem a Saude publica, tão gravemente ameaçada pelas nossas fontes.

Publicou-se ha pouco tempo uma interessante brochura, da série em boa hora iniciada pelo Serviço Sanitario, acerca de varios problemas e serviços de saneamento. Uma dessas brochuras refere-se ás “Aguas da cidade de S. Paulo”, de nascentes e abastecimento, compendiando tudo quanto a respeito poude apurar o sr. pharmaceutico João Baptista da Rocha chimico do Laboratorio de Analyses. E´ um estudo valioso o do sr. Baptista da Rocha, pela grande copia de dados experimentaes que o autor conseguiu reunir.

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As suas conclusões são tudo quanto ha de mais alarmante para a cidade. Calculem os leitores que, segundo as verificações rigorosas a que procedeu o pharmaceutico Rocha, quasi todas as fontes publicas mais frequentadas pela população pobre, taes como: “Moringuinho”, “Aurea”, “Paraiso”, “Crystal”. “Veridiana”, “Biquinha”, “Santo Amaro”, “Santa Luzia” e outras são polluidas, só se salvando quatro fontes: “Brilhante”, e “Sant’Anna”, na Sexta Parada, a da Chacara do dr. L. de Vasconcellos e a do “Taboão”, nas quaes a agua é pura.

Entre aquellas, têm as suas aguas fortemente polluidas e são, por isso, inconvenientissimas para a cidade, as seguintes: a dos Baixos do Viaducto a de “Santa Luzia”, na rua Bonita, a da Travessa Ruggero, a da rua Fagundes e a “Helena”, na rua França Pinto. A fonte do “Moringuinho”, a “Aurea”, á rua Veiga Filho, a da Avenida Celso Garcia n. 531 e a “Biquinha” da Penha, são francamente polluidas, e nocivas tambem á saude publica. P.

‘P’: Um cronista da cidade de São Paulo

José Martins Pinheiro Junior, ou ‘P’, como assinava, nasceu em 12 de abril de 1884 em Silveiras (SP). Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de São Paulo, em 1907. Dois anos depois, entrou para o jornal ‘O Estado de São Paulo’ como redator, cargo que exerceu durante 35 anos. No jornal, além de redigir a seção ‘Coisas da Cidade’ ocupou-se da também da coluna “Revista das Revistas”. Também foi um dos fundadores da ‘Revista do Brasil’ (1916) e do Diário da Noite (1926).

Como advogado foi nomeado, em 1931, para o cargo de Curador Fiscal das Massas Falidas da cidade de São Paulo, que ocupou até 1954 quando se aposentou. Pinheiro Junior faleceu em 2 de outubro de 1958. No Acervo Estadão estão registrados 3.311 textos publicados por ele entre os anos 1910 e 1945.

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