A história da luta contra o racismo nos Estados Unidos é também a história de seus mártires. Da comoção diante de um ato de coragem à revolta provocada por uma morte bárbara, foram as reações da sociedade americana, demonstradas nas manifestações por justiça, igualdade e reparação, que guiaram esse processo. Os protestos em massa que nos últimos dias tomaram o país após o homicídio de George Floyd, um homem negro, por um policial branco, são um novo marco dessa luta, que ganhou voz e força na década de 1950 e 1960 através do movimento pelos direitos civis e hoje encontra representação no movimento de direitos humanos Black Lives Matter, contra a violência direcionada aos negros. Enquanto Rosa Parks e Martin Luther King se tornaram mártires e heróis célebres da causa negra, de maneira trágica os casos de Emmett Till, Latasha Harlins, Trayvon Martin, Michael Brown, Rodney King e Eric Garner também carregam sua importância histórica. Relembre.
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Emmett Till (1955)
Emmett Till, um menino de 14 anos de idade, foi linchado na cidade de Money, no Mississippi, após ser acusado de ter assobiado para uma atendente branca numa loja. O brutal assassinato e a absolvição dos implicados no caso ganhou as páginas dos jornais, chamou a atenção para violência racial no sul dos Estados Unidos sob as leis de Jim Crow de segregação racial e arregimentou forças para o crescente movimento pelos direitos civis dos negros no país.> Estadão - 25/09/1955 > 13/10/1955
Rosa Parks e Martin Luther King ( década de 1950 e 1960)
Em 1º de dezembro de 1955, a costureira Rosa Parks escreveu seu nome na história da luta contra o racismo nos Estados Unidos ao recusar-se a ceder seu lugar no ônibus a um homem branco. Parks foi presa por seu ato de rebeldia diante das políticas de segregação racial na cidade de Montgomery, no Alabama. O caso desencadeou uma enorme onda de protestos e boicotes ao sistema de transporte público na cidade e se tornou um evento catalisador do movimento por direitos civis. Foi nesse contexto, que o galvanizador pastor Martin Luther King ganhou projeção e os movimentos de desobediência civil não violentos pelos direitos dos negros cresceram na América.
> Estadão - 11/12/1955> Estadão - 23/3/1956
Em 28 de agosto de 1963, cerca de 250 mil pesoas, negros e brancos, participaram da “Marcha sobre Washington”, uma enorme manifestação que mobilizou diversos setores da sociedade americana e tomou a capital americana para pedir por liberdade e trabalho e protestar pelos direitos civis dos negros. Durante os atos, o Martin Luther King realizou o célebre discurso por igualdade e união, em que dizia “Eu tenho um sonho”. Em 1964, o presidente Lyndon B. Johnson assinou a Lei dos Direitos Civis, que decretava o fim das leis de segregação nos Estados Unidos. Em 1965, a Lei dos Direito de Voto, ganrantiu a o direito ao voto dos negros e tornou ilegal a discriminação racial no processo eleitoral.
> Estadão - 29/8/1963
A luta pelos direitos civis e o ódio racial. O progresso da luta pelos direitos civis dos negros na década de 1960 foi marcado por violenta e criminosa resistência no Sul dos Estados Unidos. Entre os atos racistas que marcaram o período estão demonstração públicas que desafiavam as leis anti-segregação e afrontavam decisões da Suprema Corte - como a tentativa de proibir o ingresso de estudantes negros na Universidade do Alabama - e crimes bárbaros, como o atentado contra uma Igreja em Birmingham em 1963 e o assassinato de ativistas dos direitos civis no Mississippi em 1964.>Estadão – 17/9/1963 e 09/8/1964
A morte de Martin Luther King (1968)
Em 1968, o assassinato de Martin Luther King desencadeou a maior onda de manifestações vistas nos Estados Unidos até hoje. Protestos tomaram as ruas de Washington, Chicago, Baltimore, Kansas City, Nova York e outras cidades do país. Atos de violência e repressão levaram à uma escalada da tensão social no período, que é comparado à agitação social durante os anos da Guerra Civil.>Estadão -05/4/1968
> Estadão - 06/4/1968
Rodney King e Latasha Harlins (1991)
Em 03 de março de 1991, o jovem Rodney King, de 26 anos, foi vítima de um dos mais emblemáticos casos de violência policial contra um negro nos Estados Unidos. Após violar normas de velocidade de trânsito e desencadear uma perseguição policial, Rodney foi detido por policiais brancos que o espancaram com cacetetes e chutes durante sua prisão. A cena, gravada em vídeo, chocou os Estados Unidos e o mundo.
Em 1992, a absolvição dos policiais brancos filmados espancando o negro Rodney King durante sua abordagem para prisão, transformaram as ruas de Los Angeles num campo de batalha. A revolta social diante da sentença deu origem aos tumultos, 53 pessoas morreram em mais de duas mil ficaram feridas durante a onda de saques, incêndios, agressões e assassinatos que tomaram por 6 dias a região central e sul da cidade, redutos da comunidade negra e hispânica. O evento é lembrado como um dos mais violentos distúrbios raciais da história recente dos Estados Unidos. .
O assassinato da adolescente Latasha Harlin, de 15 anos, por uma dona de loja coreana em 1991 e a branda pena aplicada no caso também é lembrado como mobilizador da revolta em Los Angeles. A jovem foi morta treze dias após o caso de agressão contra Rodney King.
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Trayvon Martin, Michael Brown e o movimento Black Lives Matter (anos 2010)
A morte do adolescente Trayvon Martini, após ser ter sido alvo de um disparo no peito efetuado pelo um vigilante latino branco, George Zimmerman, em Sanford, na Flórida em fevereiro de 2012 reascendeu a polêmica sobre violência étnico-racial nos Estados Unidos. O adolescente estava desarmado.
Julgado por um tribunal na Flórida, Zimmerman foi absolvido das acusações em 2013. A sentença provocou uma onda de protestos e tensões raciais em diversas cidades americanas e impulsionou o movimento de direitos humanos conhecido como Black Lives Matter, que milita contra a violência e atos racistas praticados contra pessoas negras.
>Estadão - 12/8/2015
As manifestações e revoltas sociais contra as mortes do adolescente Michael Brown, de 18 anos e de Eric Garner, de 43 anos, vítimas da violência policial deram força ao movimento, que cresceu desde os protestos em Ferguson no Missouri, em 2014 e 2015.
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