Durante os anos de chumbo da ditadura militar, por quase três anos (entre o segundo semestre de 1972 e o início de 1975), o Estadão e o Jornal da Tarde tiveram censores agindo nas suas redações.
O envio de agentes para a sede do jornal aconteceu assim que a direção das publicações se recusou a praticar a autocensura e a seguir às determinações dos órgãos de censura do governo sobre assuntos que não deveriam ser abordados pelos veículos de imprensa.
A diretriz foi a de manter o trabalho jornalístico sem censura prévia, cabendo aos censores excluir do noticiário o que o governo não queria que fosse a público.
Os censores, instalados num canto da gráfica após os jornalistas recusarem sua presença na redação, liam todo o noticiário diário antes de o material ser impresso e definiam quais notícias poderiam ser publicadas e quais seriam eliminadas das páginas dos jornais. Leia também:>> Encontradas páginas inéditas da censura ao Estadão Outra decisão editorial marcou a história de resistência do Estadão contra a censura: no lugar de matérias cortadas pelos censores foram publicados poemas (versos de Os Lusíadas, de Camões) e cartas fictícias no Estadão; e receitas culinárias no Jornal da Tarde.
Conteúdos que não seriam retirados pelos censores, mas que serviam para denunciar a censura, atraindo a atenção dos leitores, por serem completamente fora das habituais matérias noticiosas que normalmente ocupavam aquelas páginas. Uma linguagem que possibilitava ao público notar as alterações.
Leia também: >> Ditadura militar censurou notícias sobre epidemia de meningite em 1974>> 'Estado' teve noticiário sobre o Chile censurado, após golpe militar no país Outra medida adotada foi a de preservar os originais censurados, que não puderam ser levados à público na época. Hoje, a maior parte das milhares de notícias censuradas podem ser lidas em sua íntegra original no site do Acervo Estadão. O leitor pode ver a página que foi proibida e clicar para visualizar a página publicada com poemas em seu lugar.
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