Escândalo Waldomiro Diniz completa 10 anos

Caso do assessor de José Dirceu negociando propina com bicheiro gerou primeira crise do governo Lula

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Por Liz Batista

Há 10 anos, vinha à tona o primeiro caso de corrupção envolvendo um integrante do governo Lula. Waldomiro Diniz, subchefe de Assuntos Parlamentares, homem de confiança do então ministro da Casa Civil José Dirceu, era exonerado em 13 de fevereiro de 2004, logo após ter sido acusado de ter recebido propina de bicheiros para a campanha do PT, em 2002.  

Três meses antes do escândalo o nome do petista aparecia pela primeira vez nas páginas do Estadão, numa nota de coluna social, em 29 de novembro de 2003. A nota chamava atenção para a  “eficiência” de Waldomiro Diniz, “sempre em reuniões sigilosas e decisivas”, e para sua habilidade em reverter percalços políticos, constituída  nos anos de “experiência nas lutas do PT em Brasília” e durante o governo de Cristovam o Buarque no Distrito Federal. Na linha de frente nas relações com os congressistas, Waldomiro vinha se destacando em situações difíceis, como as votações das reformas da Previdência e Tributária. O texto qualificava o assessor direto de Dirceu como o  homem que “apaga qualquer incêndio”. Em fevereiro de 2004, Waldomiro Diniz passou de bombeiro a incendiário ao ser flagrado numa fita de vídeo pedindo propina ao bicheiro Carlos Cachoeira.

A fagulha. A revelação do escândalo de corrupção manchou a festa de 24 anos do partido e fez os adversários do PT partirem para o ataque. O PSDB pediu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) e o afastamento do ministro da Casa Civil, José Dirceu.  Na tribuna, ao pedir a saída  imediato de Dirceu do cargo até a conclusão das investigações, o deputado Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA) declarava: “Finalmente o PT perdeu a virgindade”.

O governo conseguiu barrar uma CPI  no Congresso. Mas, a Promotoria de Tutela Coletiva do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro iniciou uma investigação. com foco na atuação de Waldomiro durante o período em que presidiu a Loterj. Em seguida, Assembleia Legislativa do Rio abriu uma CPI. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o envolvimento de Waldomiro em crime eleitoral e sua relação com os chefes do jogo do bicho.  A crise política estava instaurada e demoraria a se dissipar. Os mercados reagiram, a BOVESPA registrou queda e o risco país cresceu. José Dirceu, chefe da Casa Civil, o mais poderoso ministro e principal articulador do governo Lula viu abalada sua sustentação política. O presidente Lula editou medida provisória proibindo o funcionamento de bingos - principal interesse de Carlinhos Cachoeira - saiu em defesa do ministro.

O que se seguiu foi uma sequencia de denúncias de corrupção envolvendo membros do governo. A mais contunde delas partiu do deputado Roberto Jefferson (PTB). Ao ser apontado como chefe do esquema de corrupção nos Correios, Jefferson declarou, em junho de 2005, que o PT pagava mesadas para os parlamentares que votassem a favor do governo na Câmara. Chamou o esquema de "mensalão".A ponta do iceberg. Em fevereiro de 2012, a Justiça do Rio condenou Waldomiro Diniz por corrupção e fraude. No entanto, como um procurador do Ministério Público havia apontado dias após a divulgação do vídeo incriminador, em 2004, Diniz poderia ser “a ponta de um gigantesco iceberg”. Carlos Cachoeira, o bicheiro que aparecia negociando propina com Waldomiro na gravação de 2004, se tornou o personagem principal de uma CPI mista no Congresso Nacional , em abril de 2012. Entre parlamentares que tiveram seus nomes ligados ao do bicheiro preso na Operação Monte e acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás estão o do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), do deputado Carlos Lereia (PSDB-GO), do ex-senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT). Fernando Cavendish, presidente da construtora Delta também foi investigado no inquérito.  

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Mais de oito meses depois de instalada a CPI, os trabalhos são encerrados. Os parlamentares que integravam a comissão rejeitaram o relatório final apresentado pelo deputado Odair Cunha (PT-MG), que pedia o indiciamento de 29 pessoas. No seu lugar, é aprovado uma espécie de relatório paralelo do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF). Sem apontar responsáveis, o relatório propõe o envio de todos os dados ao Ministério Público.# Siga: twitter@estadaoacervo | facebook/arquivoestadao | Instagram | # Assine  

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