
“Já não há mais escravos no Brazil. A lei n. 3353, de 13 da Maio de 1888 assim o declara no meio de festas que se estendem por todo o paiz, para honra e gloria desta nação da America.”Assim foi comemorada a abolição da escravidão no País na manchete, A Pátria Livre, da edição de 15 maio de 1888 do jornal O Estado de S.Paulo – na época chamado de A Província de São Paulo. O artigo declarava que a Lei Áurea vinha para completar “o trabalho de destruir e arruir de todo a vergonhosa instituição”do direito de propriedade sobre o homem. Dias antes, quando a lei saiu do Parlamento para ser encaminhada à regente, princesa Isabel, que a promulgou, o jornal já anunciava, no texto Glória à Pátria, de 13 de maio:“Está exticta a escravidão no Brazil”. Naquelas linhas, são evocadas homenagens à luta abolicionista, saudações aos trabalhos de Aureliano Cândido Tavares Bastos, Luiz Gama, Américo Campos, Ferreira de Menezes, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e a lembrança dos exemplos das províncias do Ceará e do Amazonas, que aboliram a escravidão em seus territórios quatro anos antes, em 1884.

O tom da celebração expressa na cobertura pode ser melhor entendido quando nos deparamos com os artigos de Francisco Rangel Pestana, um dos fundadores do jornal. Redator e articulista, Rangel Pestana foi militante abolicionista e signatário do Manifesto Republicano de 1870. Foi sua pena que, em abril de 1884, anunciou aos leitores da Província que a causa da abolição começava “a ser comprehendida como deve em todo o paiz: - é já uma arvore frondosa, cujas raízes vigorosas se estendem por toda a parte e, onde quer que cheguem, encontram alimento nos homens de tempera elevada”, e que declarou, em julho do mesmo ano:“dentro de poucos annos a escravidão estará extincta. O seculo XX não encontrará escravos no Brazil.” Para ele, as causas abolicionista e republicana eram indissociáveis. Pensamento refletido em sua atuação política empenhada em tornar a bandeira do fim da escravidão consenso entre os membros do Partido Republicano Paulista.

Dizia que
“democracia e escravidão são cousas que se repellem”
e criticava as
“conveniencias de occasião”
de políticos que se declaravam republicanos, mas não abolicionistas. Enxergava nos casos do Ceará e do Amazonas uma prova da força de um futuro sistema federativo,
“pela abolição a cargo das províncias chegaremos à autonomia politica e à descentralização administrativa sob a fórma – Federação”
, escreveu.
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