Na década de 1960, um movimento musical surgiu entre os jovens europeus mais voltado para os sucessos anglo-saxões. Era o ‘iê-iê-iê’, que também faria sucesso aqui no Brasil. A principal representante do movimento na França foi Françoise Hardy, morta aos 80 anos em Paris.
Em setembro de 1964, Hardy esteve em São Paulo para apresentar dois shows no antigo Teatro Record. Na ocasião, a cantora deu entrevista coletiva. Respondeu as perguntas de maneira lacônica e reclamou que eram “banais” e as mesmas em todos os lugares. “Gosto de perguntas novas”, declarou. Além disso, classificou o rótulo de canções ritmadas serem chamadas pela crítica musical ‘iê-Iê-iê’ de estúpido. A reportagem foi publicada no Estadão em 17/9/1964, com o título “Françoise Hardy pela bossa nova, contra monoquini”.
Leia abaixo a íntegra da entrevista com a grafia original, e clique aqui para ler tudo o que foi publicado sobre a cantora no Estadão.
Françoise Hardy pela bossa nova, contra monoquini
Atribuindo o seu atraso de 75 minutos ao fato de seu secador de cabelo ter uma voltagem diferente da de São Paulo, Françoise Hardy, uma das mais populares cantoras francesas da atualidade, concedeu, na tarde de ontem, uma entrevista coletiva á imprensa.
Após assinar o livro de ouro da Terrazza Martini, onde se realizou a entrevista, a cantora declarou gostar de bossa nova, genero musical que disse não ser muito popular na França. Em seu país natal, a artista ouviu o violonista brasileiro Baden Powell, que, a seu ver “é um grande musico”. Tendo estado no Rio de Janeiro, antes de vir a São Paulo, Françoise disse ser esta cidade muito diferente da Europa e o Rio uma cidade européia.
O “ye-ye”
Sobre as canções que interpreta e que foram denominadas “ye-ye” pela imprensa especializada, a cantora comentou tratar-se de uma denominação estupida de um tipo de canção muito ritmada. Françoise Hardy não se considera sofisticada. Nunca está satisfeita consigo mesma. E’ o que aconteceu após a filmagem de uma película dirigida por Vadim que, uma vez terminada, deixou-a irrealizada.
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SILVIE VARTAN
Em reportagem recente um jornal francês declarou que Françoise Hardy, perdera em popularidade para a cantora Silvie Vartan.A respeito, declarou a entrevistada: “O genero dela é diferente. Cada especie de canção tem um publico definido, não podendo uma cantora tirar a popularidade da outra”. Françoise Hardy é também compositora. Perguntada se gostava mais de interpretar as suas proprias composições, negou-o. Gosta de cantar qualquer coisa, mesmo que não seja francesa, desde que seja boa. Seus compositores prediletos, no entanto, são Georges Brassens e Jacques Brel.
BRASIL
Perguntada sobre a sua impressão de nosso País, disse a cantora: “Os países nada inspiram. Inspiradores são os acontecimentos”. E, segundo declarou, não houve acontecimentos durante a sua estada no Brasil. A artista manifestou a sua posição contraria ás perguntas banais. Gostaria que fossem diversas das que lhe fazem em todo lugar. Indagada se se considerava uma intelectual disse: “Não sou intelectual. Mas gosto de perguntas novas”.
MODA
A cantora “trajava um vestido preto de musseline listado, com mangas compridas. Não tenho costureiro disse a cantora e comprei este vestido em uma loja. Gosto de vestir-me de qualquer maneira e gosto de usar “blue jeans”. Quando solicitamos a sua opinião sobre o monoquíni disse: “E´ um assunto de conversação sem graça”.
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TEMPORADA
Françoise Hardy, que está acompanhada dos musicos Marcel Hendrix (pianista e regente), Jacky Girodo (guitarrista), Ermes Alesi (guitarrista) e Serge Biondi (baterista) realizará uma curta temporada no Teatro Record de São Paulo.
Sua estréia realizou-se ontem, e suas apresentações serão televisionadas pelo Canal 7 hoje, ás 20 e 30 horas, e domingo, ás 22 e 30 horas.
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