No dia 12 de janeiro de 1875, “A Província de São Paulo”, nome do Estadão na época, começava a sua segunda semana de existência. Naquela terça-feira, o jornal publicou em sua última página um pequeno anúncio dizendo que estava a procura de “bons officiaes typographos”, com uma ilustração da máquina Alauzet que imprimia a publicação.
Estadão - 12 de janeiro de 1875
Na seção ‘Noticiário’, na página 2, o jornal publicou, entre outros textos, um caso de charlatanismo religioso. Leia a íntegra com a ortografia original da época:
Ante hontem chegaram a esta capital, vindos das bandas do Apiahy 12 indivíduos acompanhados por numerosa escolta. Dez d’elles são recrutas e dous criminosos. Os dez primeiros, se não todos, são da phalange do famoso especulador Felix da Cruz, que sob o título de São Felix, paramentado de vestes fradescas, fanatisava por alli a população ignorante, confessando, casando, e exercendo todos os actos ecclesiaticos do costume.
Consta que esse chefe conseguio escapar á policia, levando em todo caso boa copia de dinheiro, facilmente extorquido dos credulos fanatisados. Contam maravillhas em assumptos de extorções, e monstruosos abusos praticados pelo chefe da seita e por seus intimos adeptos nos seios das familias.
Já na ‘Seção livre’, na página 3, um texto assinado por “Sereno” reclamava dos transtornos causados por “uns bate-pés” realizados num sobrado da rua das Casinhas e do descaso da polícia:
Estadão - 12 de janeiro de 1875
Policiemos a cidade
Em um sobrado da rua das Casinhas há todas as vesperas de dias santos e domingos uns bate-pés, ao som desafinado de um trombone e uma clarineta, que incomodam a vizinhança, pondo-lhe a arder os ouvidos. Na noite de sabbado para domingo ultimo, seria uma hora, houve além do baile uma desordem entre os dançarinos, seguida de uma gritaria infernal de mulheres e homens que desceram para a rua, onde uns questionavam e as mulheres choravam. No entanto, a policia dormia ou fingia dormir.
Há algumas patrulhas tão boas e que tão bem fazem o serviço policial, que estão mettidas quasi toda a noite em uma taberna da rua do Commercio, ou então fazem cousas piores que se não póde dizer. Há dias vimos nós um soldado de policia, que andava patrulhando, prender o companheiro embriagado e dificilmente leval-o para a cadêa. Seria prudente, nesta quadra, que o fiscal se resolvesse a dar cabo da cansoada que vagueia aos bandos de noite pela cidade, enchendo os monturos de immnudicies que, a bem da saude publica, são continuamente atirados para a rua.
ESTADÃO 150 ANOS: UMA NOITE EM 1875
Leia o relato do paginador da primeira edição do jornal