
“A partir de amanhã, o Grupo Estado, através da Agência Estado, coloca à disposição dos usuários da Internet em todo o mundo seu serviço diário de notícias do Brasil”. Foi assim, com a palavra “Internet” escrita com letra maiúscula, que o Estadão anunciou em sua edição impressa de 19 de fevereiro de 1995 que a partir do dia seguinte o jornal estaria na rede. “A Internet é um dos assuntos mais falados em todo o mundo. Seu potencial é incalculável”, dizia um dos trechos da reportagem.
O acesso à rede mundial de computadores, naqueles dias também chamada de “superestrada da informação”, acabara de ser implantado no Brasil quando as notícias do jornal distribuídas pela Agência Estado passaram a ser publicadas no site World News.
O novo serviço era a versão digital do NewsPaper, produto até então distribuído por fax. Além da inovação de publicar no novo meio digital, o serviço trazia pela primeira vez um anúncio publicitário (do Unibanco) num site jornalístico brasileiro. Em poucos meses, as publicações do Estadão seriam acessadas através de endereços próprios na web.
Novidade tecnológica
A publicação da notícia pelo jornal impresso sobre a estreia do Estadão na rede dá uma ideia da inovação que era na época. Enquanto o jornalista Eduardo Castor Borgonovi detalhava como funcionaria o site no texto principal, o repórter Sérgio Kulpas contava num texto suplementar o que era a internet, sua origem e como ela começou a se estruturar no Brasil. [Leia a íntegra dos textos de 1995 ao final desta matéria]
Apesar de a internet estar disponível no País em ambientes universitários restritos desde 1991, a operação comercial para qualquer usuário de telefonia só seria implantada pela Embratel em 20 de dezembro de 1994.
Até então, as BBSs, redes localizadas, eram o que mais próximo se tinha de internet no País. Por isso, junto com a notícia, um texto suplementar explicava o que era a internet e a sua história, de modo que os leitores pudessem entender do que se tratava.
O serviço noticioso foi inicialmente hospedado no site WordNews, nos Estados Unidos, porque naqueles primeiros dias de 1995 ainda não havia como registrar os domínios, os endereços do site que são digitados nos navegadores, de sites brasileiros.
Além das notícias do dia, o serviço na web tinha conteúdos especialmente produzidos para o novo formato, com fotos, ilustrações e links, recursos multimídias que o novo protocolo ‘www’ permitia explorar. Até então, mesmo em redes restritas, serviços noticiosos podiam fornecer basicamente textos nas plataformas existentes.
Pioneirismo
A Agência Estado, pioneira na transmissão de informações jornalísticas e dados econômicos em tempo real com o Broadcast, operado por FM, e outros serviços disponíveis por meio eletrônico - pagers, informativos por fax, painéis luminosos, BBS e telefone - passou então a levar essa experiência para web.
No primeiro dia, os leitores então puderam ver um material especial sobre a proposta de reforma constitucional apresentada pelo governo federal naquela semana. Nos dias seguintes, com o feriado de carnaval, uma cobertura especial da festa contaria com fotos dos desfiles e bailes pelo País. As limitações técnicas da novidade, porém, ainda não permitiam que os leitores pudessem ter uma experiência como a dos dias de hoje.
Um alerta no texto no final do texto publicado no jornal dava conta das dificuldades que os usuários das conexões por linhas discadas teriam: “Inicialmente, a entrada de fotos no computador do usuário poderá estar um pouco lenta. Isso se deve a que, neste início de operações via Embratel, as condições técnicas ainda não são as ideais. Mas a Embratel está prestes a resolver esse problema.”
Naquele mesmo ano, a infraestrutura da internet brasileira começaria a ganhar corpo e, em alguns meses, as publicações do Grupo Estado estariam na rede com endereços próprios, com a terminologia “.com.br”. No agestado.com.br, a Agência Estado colocaria um noticiário “em tempo real”, com a publicação das notícias simultaneamente aos acontecimentos relatados. Antes da existência dos blogs, o serviço adotava o formato de publicação que se consagraria na web muitos anos depois.
agestado.com.br

No NetEstado (acessado pela endereço estado.com.br), os leitores passaram a ter os conteúdos da edição impressa do jornal acrescidos de conteúdos especiais que o novo formato comportava. No JTWeb (jt.com.br) ficavam os conteúdos do Jornal da Tarde (1966-2012), outro periódico impresso do grupo.
Em 1996, com a evolução das tecnologias, A Agência Estado implantaria um pioneiro sistema editorial, do tipo atualmente conhecido como CMS, que permitia a publicação de notícias com rapidez até então desconhecida. A estreia do publicador aconteceu na Olimpíada de Atlanta, o que permitiu uma transmissão online inovadora dos acontecimentos esportivos. Da festa de abertura ao atentado a bomba, passando pelas conquistas das medalhas, tudo era informado em questão de minutos, padrão que seria estabelecido para as coberturas de qualquer assunto.
Estadao.com.br
Outro grande evento esportivo marcaria um grande salto do Estadão na internet. Em 1998, com a Copa do Mundo da França, pela primeira vez seria adotado o endereço estadao.com.br, que seria o embrião do modelo de portal de notícias que seria implementado somente dois anos depois. Em vez de três sites separados, toda a cobertura do principal torneio de futebol do mundo estaria concentrado numa única página sob a url estadao.com.br/copa.
Além disso, o Estadão seria pioneiro no envio de três repórteres exclusivamente para a cobertura via web. A novidade era tanta que as negociações com a Fifa para esse credenciamento foram longas, até que a entidade entendesse que, apesar de serem do mesmo veículo impresso, se tratavam de profissionais que teriam uma outra função, voltada para o noticiário online. “Acesse o Estadão na Copa e viva a primeira cobertura de Copa pela internet em todos os tempos”, dizia o anúncio publicado para apresentar o site aos leitores do jornal.

Naquele mesmo ano, as eleições presidenciais também contariam com o novo modelo de cobertura digital. A apuração dos votos, ainda sem a rapidez atual, era atualizada minuto a minuto com informações recebidas dos repórteres que acompanhavam os resultados nos tribunais eleitorais e centros de apuração.
Dois anos depois, na virada do século, o portal Estadão.com.br estrearia o novo modelo digital que seria aprimorado constantemente até os dias atuais, com a incorporações das novas tecnologias, linguagem, ferramentas e outras inovações
Estadão - 19 de fevereiro de 1995

Grupo Estado ingressa na rede Internet
Material poderá ser acessado gratuitamente até 31 de março
Eduardo Castor Borgonovi
A partir de amanhã, o Grupo Estado, através da Agência Estado, coloca à disposição dos usuários da Internet em todo o mundo seu serviço diário de noticias do Brasil. O serviço, chamado “Brasil News Roundup”, versão eletrônica do Newspaper (distribuído por fax), pode ser acessado na World News, uma rede da Internet, sediada em Washington (EUA), pelo endereço: http:warldnews.net.
A WorldNews On Line, parceira da Agência Estado nesse serviço, foi fundada em 1992 para distribuir eletronicamente grandes jornais de cada país em escala internacional pela Internet. Além dos serviços noticiosos da Agência Estado, a World News começa a distribuir em março o jornal mexicano Excelsior e o egípcio Al Ahram. O responsável pela América latina é seu vice-presidente, o brasileiro Roberto Garcia.
Embora não seja a pioneira em colocar noticiário brasileiro na Internet (o Jornal do Commércio, do Recife, já distribui suas notícias na rede há meses) a Agência Estado é a primeira no Brasil a entrar com noticiário nacional na famosa Web, atualmente a grande sensação da rede mundial.
Além disso, é também a primeira do Brasil a colocar um. anúncio na Internet. O anúncio, do Unibanco, pode ser visto em cores e conquistou a glória de se tornar histórico.
O material noticioso do Grupo Estado, via AE na Internet poderá ser acessado gratuitamente até o dia 31 de março, a partir de quando os usuários deverão pagar uma taxa de acesso, ainda não definida.
Em seus informativos diários, a Agência Estado na Internet oferecerá cadernos especiais temáticos chamados Special Features, com textos e fotos exclusivas. O primeiro desses cadernos circulará amanhã, a respeito da proposta de reforma constitucional apresentada esta semana pelo governo federal. Terá, inclusive, ilustração e fotos — outro feito igualmente inédito no Brasil. Nos próximos dias vai ao ar outra feature, com a cobertura nacional diária dos desfiles de ruas e bailes, ilustrada com várias fotos coloridas todos os dias.
Além das notícias da AE, o caderno conterá reportagens especiais produzidas pelos jornais A Crítica (Manaus), O Povo (Fortaleza), Jornal do Commémio (Recife), A Tarde (Salvador), O Estado de Minas (Belo Horizonte), Correio Popular (Campinas) e O Estado (Florianópolis) - alguns dos 150 diários brasileiros que se alimentam de notícias da Agência Estado.
Mais um passo - Entrar na Internet é mais um passo para a Agência Estado, pioneira em vários outros produtos eletrônicos no Brasil. “A Agência Estado cumpre mais uma etapa na sua proposta de atender a diferentes segmentos de mercado, por novos meios e com produtos personalizados”, explica Rodrigo Mesquita, diretor da AE. “É mais um passo que leva o jornalismo brasileiro ao Primeiro Mundo da informação.”
Até hoje, a AE é pioneira em vários outros produtos eletrônicos, como informações financeiras em tempo real (Broadcast), pagers, informativos por fax (NewsPaper, FaxPaper e Times-Fax), audiotexto (900-0700), painéis luminosos, BBS (Bulletin Board System), CD-Rom, além de um serviço de fornecimento de reportagens e fotos para jornais do País, universidades, empresas e emissoras de tevê, rádios e revistas.
Noticiário - Com a entrada na Internet, o Grupo Estado, através da Agência Estado torna disponível seu noticiário e matérias especiais para 30 milhões de usuários da rede em todo o mundo. Segundo as previsões, esse número deve chegar a, 200 milhões até o final do século.
“Essa nova mídia ainda tem aspectos desconhecidos”, afirma o coordenador do projeto, jornalista Júlio Moreno, diretor de marketing da AE. “Mas a Agência Estado se dispõe a explorar esse caminho sem medo”, diz. ‘Tivemos o apoio entusiasmado de alguns usuários atuais, na fase de testes, e uma igualmente empolgante curiosidade de alguns importantes anunciantes que se dispõem a caminhar conosco nesses primeiros passos na chamada superestrada da informação.”
Participaram ainda da equipe pioneira da AE na Internet: Eduardo Castor Borgonovi, Francisco Torrealba, Flavia Sampaio e Marcelo Silveira, Monica Maia e Raquel Costa.
A Internet é um dos assuntos mais falados em todo o mundo. Seu potencial é incalculável. Os mais importantes jornais já entraram na Internet. Estão na Internet, por exemplo, o TimesFax, do New York Times (inaugurou seus serviços há duas semanas), a revista Time, o San Jose Mercury News, da Califórnia, e a agência italiana de notícias Ansa, entre outros.
Fotos — Inicialmente, a entrada de fotos no computador do usuário pode estar um pouco lenta. Isso se deve a que, neste início de operações via Embratel, as condições técnicas ainda não são as ideais. Mas a Embratel está prestes a resolver esse problema. Os comentários e sugestões sobre o serviço podem ser mandados por e-mail para Info@worldnews.net ou agestado@embratel.net.br. Pedidos de maiores informações, no Brasil, pelo telefone 0800-161313 ou fax (011) 265-3139.
Rede começou a ser formada nos anos 60
Sérgio Kulpas
No final da década de 60, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Darpa) preocupado com as conseqüências de um ataque nuclear massivo - eram tempos de Guerra Fria com a ex-URSS - imaginou um meio de manter conectados os centros militares de inteligência e pesquisa por meio de uma rede de redes” entre computadores, descentralizada e super-ramificada.
O Darpa usou seus próprios recursos e modelou a ARPAnet, o embrião da atual Internet. Essa rede de comunicações cientfficas e militares permaneceu dormente por quase uma década. Em 1985, o número de redes conectadas à ARPAnet já era imenso e ultrapassava as fronteiras dos EUA - universidades européias estabeleceram contatos com instituições parceiras nos Estados Unidos e propiciaram forte impulso à popularização da rede.
A Internet é atraente exatamente pelo volume e pela variedade de informações: além do correio eletrônico, é possível consultar bibliotecas científicas, transferir arquivos, pesquisar em bancos de dados, resolver problemas em grupo. E hoje já é possível comprar e anunciar na rede.
A Internet começou a ser usada pelas universidades públicas brasileiras em 1991. A pioneira foi a Universidade de São Paulo (USP). No final de 1994, a Embratel anunciou seu programa experimental para o acesso comercial à rede.
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