Há um século: a defesa do patrimônio artístico nacional

Leia texto de 1924 sobre projeto que pretendia impedir a retirada de bens culturais do Brasil

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Por Acervo Estadão

A preocupação com a retirada de objetos de arte ou documentos históricos do Brasil para outros países foi abordada no Estadão de 17 de outubro de 1924. Sob o título “Um projecto louvavel” na seção “Noticias diversas”, o texto “A defesa do patrimônio artistico nacional” exaltava um projeto de lei que pretendia garantir a permanência em território brasileiro de itens do acervo cultural e histórico nacional espalhados por vários locais do País.

Já nos temos descurado bastante desse assumpto, e não minguada parte do nosso patrimonio artistico tem sido levada para outras terras, onde se da grande apreço ás obras de arte primitiva. Para os Estados Unidos, principalmente, muitos exemplares preciosos têm sido transportados das cidades brasileiras mais antigas, como as da Bahia, Minas Geraes, Pernambuco e Rio de Janeiro, cujos templos e residencias, da epoca colonial, encerram objectos a que só indiferença ou incultura do nosso povo poderia não attribuir o seu justo apreço.

Estadão, 17/10/1924

Leia a íntegra com a ortografia original da época e veja páginas e anúncios de 100 anos atrás.

Estadão - 17 de outubro de 2024

Estadão de 17 de outubro de 1924. Foto: Acervo Estadão

UM PROJECTO LOUVAVEL

A DEFESA DO PATRIMONIO ARTISTICO NACIONAL

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Em telegramma do Rio, que hoje publicamos, damos noticia do projecto apresentado ao Congresso Nacional pelo deputado sr. Augusto de Lima, o qual visa impedir saiam do paiz os objetctos de arte ou documentos históricos de valor.

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Já uma vez nos referimos a esse assumpto, chamando a attenção dos poderes publicos para o abandono em que se deixava o patrimonio historico e artistico do Brasil, e o faziamos a proposito de uma pastoral do exmo. arcebispo de Mariana, em que o illustre prelado revelava o mais louvavel interesse a respeito das obras de arte existentes nas egrejas da sua archidiocese.

E´ pois com toda a satisfacção que vemos assim accordes os representantes do poder publico e os dirigentes da egreja catholica no Brasil, em promover a defesa do thesouro artístico nacional, que nem por não ser dos mais ricos, ou por não abranger largos periodos da história, merece menor solicitude da parte dos verdadeiros patriotas.

Já nos temos descurado bastante desse assumpto, e não minguada parte do nosso patrimonio artistico tem sido levada para outras terras, onde se dá grande apreço ás obras de arte primitiva. Para os Estados Unidos, principalmente, muitos exemplares preciosos têm sido transportados das cidades brasileiras mais antigas, como as da Bahia, Minas Geraes, Pernambuco e Rio de Janeiro, cujos templos e residencias, da epoca colonial, encerram objectos a que só indiferença ou incultura do nosso povo poderia não attribuir o seu justo apreço.

Nem se diga que essa é uma preoccupação de somenos, ao lado de outras que o momento comporta, pois que, em todos os povos civilisados, mesmo nos de vocação artistica menos caracteristica, o assumpto é hoje tratado tão zelosamente quanto os mais importantes que possam occupar a attenção de seus dirigentes.

O patrimonio artistico de um paiz é em boa parte o expoente sensivel do seu caracter como nacionalidade, e a preocupação em o defender e accrescentar denota o vigor em que esse mesmo caracter se conserva, mantido pelo sentimento de cada membro da colectividade.

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Se se tornar effectiva a disposição legal que promove aquele distincto deputado mineiro, e se se puzer na sua futura execução todo o rigor desejavel ainda muita coisa se poderá salvar do que nos resta em objectos de arte, alfaias, moveis antigos, baixellas e tantos outros elementos que documentam o gosto umas vezes ingenuo, outras bem afinado, das gerações que nos precederam na obra de civilisação deste largo trecho da América.

Estadão - 17 de outubro de 2024

Estadão de 17 de outubro de 1924. Foto: Acervo Estadão

Estadão - 17 de outubro de 1924

Estadão de 17 de outubro de 1924. Foto: Acervo Estadão

Estadão - 17 de outubro de 1924

Estadão de 17 de outubro de 1924. Foto: Acervo Estadão

Pesquisa, digitalização, tratamento de imagens, transcrição, indexação, redação e edição: Cristal da Rocha e Edmundo Leite.

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