O histórico bairro da Saracura localizado em torno do córrego do mesmo nome e que se tornaria o atual Bixiga foi tema da coluna “Coisas da Cidade” no Estadão de 18 de outubro de 1924. O motivo era a falta de uma linha de bonde para atender os moradores da região que no passado abrigou um quilombo com o mesmo nome. Sob o título “um pedido justo”, o autor da coluna, que assinava apenas como “P.”, publicou uma carta que se refere ao local como um bairro pobre, “esta humilde Saracura”.
Em S. Paulo cuida-se muito dos arrebaldes ricos onde moram os figurões e nababos, mas desprezam-se os bairros pobres, cujos moradores entretanto, são homens comuns como os outros e pagam também os seus impostos. A esta humilde Saracura, por exemplo, que se tem transformado tanto, e é tão povoada, nada têm dado os poderes municipaes - nem calçamento, nem arborização, nem bondes.
Falou-se ha tempos numa avenida do Anhangabau´, mas até agora nada se fez para realizar esse grande melhoramento.
Estadão, 18/10/1924
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Estadão - 18 de outubro de 1924
COISAS DA CIDADE
UM PEDIDO JUSTO
A’cerca do bonde n.40 e do que aqui se escreveu sobre a necessidade de se alterar o seu trajecto, recebemos hontem a seguinte carta: “Sr. P - Folgo muito em saber que também os bairros pobres merecem a sua attenção e os seus commentarios. Assim fizessem o mesmo os vereadores.
Em S. Paulo cuida-se muito dos arrebaldes ricos onde moram os figurões e nababos, mas desprezam-se os bairros pobres, cujos moradores entretanto, são homens comuns como os outros e pagam também os seus impostos. A esta humilde Saracura, por exemplo, que se tem transformado tanto, e é tão povoada, nada têm dado os poderes municipaes - nem calçamento, nem arborização, nem bondes.
Falou-se ha tempos numa avenida do Anhangabau´, mas até agora nada se fez para realizar esse grande melhoramento. Qualquer Casa Verde ou Bosque da Saude, ou Anastacio, situados incalculavelmente mais longe do que este bairro, que está a quinze minutos a pé do centro da cidade, — tem já o grande beneficio dos bondes. E nós ainda os esperamos, precisamos fazer longa caminhada até a rua Manuel Dutra ou Santo Antonio para alcançar os bondes.
Quando lemos na sua seção há muitos mezes que o sr. prefeito em pessoa se empenhava por um novo trajeto do bonde n. 40, nós exultâmos, contentíssimos. Iamos ter, finalmente, esse grande melhoramento, graças á boa vontade do dr. Firrmiano Pinto.
Até hoje nada se fez, e, com o longo tempo decorrido, também a nossa esperança está se apagando.
Mas, sr. redactor, se a Light tivesse um pouquinho de boa vontade realisaria logo essa modificação de trajecto. O bande n. 40 segue pela avenida Brigadeiro Luiz Antonio e Avenida Pauilsta até a Rua Pamplona, de onde desce para o Jardim Paulista.
Ora, em vez seguir por essas duas avenidas que contam numerosas linhas de bondes, seria muito mais razoavel que o bonde n. 40 seguisse pela rua de Santo Antonio e dalli demandasse a rua Pamplona.
O trecho novo não é grande e serviria uma parte povoadíssima da Bela Vista e à Saracura, que conta igualmente, grande população. Essa coisa simples e barata daria maior renda á Light e a tornaria querida dessa boa gente, que nem por ser pobre deve merecer menos da Light e da Camara.
Mas, esperemos ainda... A Esperança é a ultima taboa dos naufragos e dos... municipes.
Em nome dos meus vizinhos infortunados, muito lhe agradeço, sr. P., a attenção que der a esta carta, e sou, etc.” Tem ahi a Light um pedido muito digno de ser attendido, sobretudo quando pedido igual já lhe fez, segundo se affirma, o sr. prefeito de S. Paulo... —P.
Estadão - 18 de outubro de 1924
Estadão - 18 de outubro de 1924
Pesquisa, digitalização, tratamento de imagens, transcrição, indexação, redação e edição: Cristal da Rocha e Edmundo Leite.
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