PUBLICIDADE

Maconha era vendida como remédio para asma, bronquite e insônia antes de ser criminalizada

Medicamentos com cannabis eram usados para tratar doenças respiratórias nos séculos 19 e 20; substância foi considerada entorpecente em 1938

PUBLICIDADE

Foto do author Edmundo Leite
Foto do author Liz Batista
Atualização:
Anúncios de remédios com maconha Foto: Acervo Estadão

O Brasil já teve períodos em que a substância cannabis, a substância psicoativa da maconha, era comercializada livremente em farmácias como medicamento. O uso da maconha com fins medicinais é descrito em anúncios nas páginas do Estadão desde o fim do século 19.

PUBLICIDADE

"Um infeliz carregador de jornaes, atacado de violenta asthma com suffocações, ia ver-se obrigado a abandonar a modesta posição que lhe assegurava o pão, bem como à família, quando leu casualemente um jornal que tratava da efficacia dos Cigarros de Cannabis Indica da Grimault & C. Fez uso della, e tão satisfeito ficou que, no auge da alegria, escreveu que sem elles sua vida seria impossível", destaca o anúncio de 22 de maio de 1896.

Como não havia restrição à droga – só em 1938 a substância foi considerada entorpecente – e o uso medicinal era corriqueiro, havia vários anúncios patrocinados por médicos e clínicas exaltando os benefícios da cannabis em tratamentos de saúde.

As principais indicações eram para problemas respiratórios como asma, bronquite e tosse. Os “cigarros índios” (cigarrettes indiennes) com a substância cannabis indica, do laboratório francês Grimault & Comp, eram vendidos sem restrições e seus benefícios eram veiculados em testemunhais na seção livre, a de pequenos anúncios, do jornal.

Anúncios de remédios com maconha nos séculos 19 e 20.  Foto: Acervo Estadão

Além de problemas respiratórios, os remédios com maconha também eram indicados para insônia. Os “Cigarros Índios” (cigarrettes indiennes) com a substância ‘cannabis indica’ prometiam alívio imediato dos sintomas. Industrializados, os cigarros eram vendidos embalados e comercializados pelo laboratório francês Grimault & Comp.

Em 1919, a substância também aparecia como sugestão para o tratamento da gripe espanhola.

Mais detalhes da história do uso medicinal da maconha podem ser vistos no Museu da Maconha e da Marijuana de Amsterdã e no site do livro o Antigo Livro da Cannabis, ambos em inglês. O museu holandês classifica o período entre 1837 e 1937 como os anos de ouro da maconha medicinal.

Publicidade

Segundo o museu, a cannabis era o segundo ingrediente mais frequentemente usado em medicamentos disponíveis nas farmácias da Europa e dos Estados Unidos, ficando atrás apenas dos opiáceos.

Agentes da Segurança Pública promovem queima demaconhana Rua Tenente Pena, 100, na capital paulista,SP, 10/7/1958. Foto: Reynaldo Ceppo/Estadão

Com a droga proibida, o consumo de maconha virou questão policial. Um nota dos anos 50 mostra uma discussão sobre as estratégias para combater a droga no II Congresso Nacional de Polícia.

O Estado de S. Paulo - 15/5/1958

 Foto: Estadão

Além das páginas policiais, a maconha aparece no noticiário como uma fonte de preocupação comportamental e de saúde. Ao longo dos anos, com a prisão de usuários com pequenas quantidades, intensificou-se o debate sobre a descriminalização e a liberação do uso medicinal da substância.

Cocaína do caboclo

Nos anos 30, o Estadão publicava o relato de Gastão Cruls sobre uma expedição que realizava na Amazônia, no qual, entre outros assuntos, falava sobre a maconha. :

“... O dirijo, também conhecido por “fumo d’Angola”, “maconha, “diamba, ou “riamba” é a cocaína do caboclo... "

“...Informa-me o Ricardo que o dirijo (nome mais em voga aqui”, também é appellidado de “birra”, e quando eu lhe peço maiores esclarecimentos acerca dos seus effeitos, elle se limita a dizer que um bom cigarro desse fumo faz a pessoa ficar “falista”...”

Publicidade

Estadão - 4/1/1930

 Foto: Acervo Estadão
 Foto: Acervo Estadão

Em 1957 o Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, patrocinou uma conferência intitulada “O Mito da Maconha”, com o professor Jaime Regalo Pereira.

Catedrático aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Jaime Regalo Pereira defendeu na sua palestra que, ao contrário dos efeitos somáticos conhecidos, os alegados efeitos psíquicos observados em usuários - estados alucinatórios ou visionários - não podiam ser atribuídos à maconha.

Estadão - 30/5/1957

 Foto: Estadão

ACERVO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.