Manchete em todo o mundo, tão triste quando inesperado, o acidente de automóvel que matou a princesa Diana entrou para história como um dos eventos mais marcantes da década de 1990. Em 31 de agosto de 1997, o motorista do Mercedes-Benz onde a princesa de Gales viajava com seu namorado Dodi Fayed e um guarda-costas perdeu o controle da direção do automóvel que se chocou contra um dos pilares de concreto do túnel d'Alma, em Paris. O carro estava em alta velocidade e buscava despistar um grupo de fotógrafos em motocicletas que tentavam fotografar o casal. Apenas o guarda-costas sobreviveu ao acidente. Diana chegou a ser levada ao Hospital Pitiê-Salpêtriére, mas não resistiu.
O Estado de S.Paulo - 01/9/1997
A morte da princesa Diana, comoveu o mundoe colocou em discussão a atuação dos paparazzi. A tragédia foi capa da edição de 01 de setembro de 1997. No caderno especial o Estado prestou tributo ao trabalho humanitários da princesa e trouxe as declarações de pesar de líderes mundias. Coube ao correspondente Gilles Lapouge tratar da questão dos meios utilizados pela imprensa marrom e o apetite da sociedade por sensacionalismo. “Por trás da morte de Diana, além dos paparazzi está a sociedade contemporânea, que consome o que eles produzem”, dizia o texto.
A princesa e os paparazzi. Aos 36 anos, Diana era uma das figuras maismais carismáticas do seu tempo - era chamada de 'princesa do povo'em referência à sua alta popularidade, mantida mesmo após o divórcio com o príncipe Charles. O fascínio midiático exercido por ela foi despertado logo quando apareceram as primeiras notícias sobre seu namoro com o herdeiro do trono inglês, desde lá o interesse do público por sua figura só cresceu. O mundo parou para assistir seu casamento de conto de fadas na Catedral de Saint Paul, em Londres. Um bilhão de pessoas assistiram ao evento televisionado via satélite.
Pouco afeita aos protocolos, sua naturalidade e ausência de formalidades encantavam ao público e à imprensa, habituados com um perfil mais solene dos membros da família real. O interesse da mídia sobre a simpática e bela princesa, que um dia poderia se tornar rainha, manteve-se durante todo seu casamento e nascimento dos filhos, os príncipes William e Harry. Mas, foi quando a relação com Charles passou a parecer em crise que a avidez dos jornais por notícias cresceu. Mesmo com a separação e com o divórcio, quando foi afastada a possibilidade de ser rainha, a figura de Diana seguiu sendo alvo preferencial dos tabloides. Cada passo seu era acompanho por dezenas de paparazzi. Nos dias que antecederam o acidente a perseguição à Diana se intensificou. À medida que a relação com Dodi se tornava pública aumentava a disputa entre os fotógrafos para obter uma imagem do novo casal.
O Estado de S.Paulo -08/,11,16,30/8/1997
As primeiras fotos de Diana e Dodi juntos, se abraçando, durante um cruzeiro pelo Mediterrâneo foram vendidas por 500 mil dólares, estima-se. Em direitos de republicação em dois jornais calcula-se que tenham rendido 200 mil dólares.
Mais famosa que os Beatles. “Ela não entende que é a mulher mais famosa do mundo desde os Beatles”, assim se justificava o paparazzo Mark Saunders. O fotógrafio passava dias inteiros no encalço de Lady Di para obter as fotos mais íntimas da princesa. Em entrevista, Saunders contou que conseguiu comprar uma casa com o valor que recebeu de uma foto de Diana. Na imagem ela conversava com o filho mais velho, príncipe William, após a bombástica entrevista que concedeu à BBC falando de seu casamento e confirmando que havia mantido um caso extraconjugal. Na foto, que estampou os tabloides europeus, William parece chorar.
Foram incontáveis os apelos da princesa ao Comitê de Reclamações contra a Imprensa, e vários foram os processos perdidos pelos tabloides, mas os ganhos com a publicação das fotos da princesa superavam em muito as multas recebidas. Assim, a saga de Diana e os paparazzi se prolongou até seu fatal acidente.
O Estado de S.Paulo - 01/9/1997
Legado humanitário. Diana havia viajado para Paris para escapar da polêmica gerada por suas declarações ao jornal Le Monde.Tratando sobre a questão das minas terrestres, a princesa descreveu a atuação do anterior governo britânico como “inútil” e qualificou como bem melhores os esforços do governo trabalhista de Tony Blair, algo que enfureceu os conservadores.Os Tories fizeram críticas ferozes à sua atitude e ao abandono do protocolo que exige que membros da realeza se abstenham de manifestar opiniões pessoais em determinadas questões políticas.
Com frequência fugindo aos padrões de comportamento da família real, não era a primeira vez que Diana quebrava protocolos e se tornava alvo de críticas. Conhecida por sua atuação em campanhas humanitárias, a princesa estava particularmente empenhada na luta pela eliminação de minas terrestres, tendo se pronunciado publicamente pedindo um compromisso internacional pelo banimento dessas armas. Em janeiro de 1997, ela esteve em Angola, país com o maior número de vítimas dessas explosões. Visitou hospitais de reabilitação de pessoas que sofreram amputações e apresentou aos fotógrafos, que a seguiam por todos os cantos do mundo, uma figura diferente, uma Diana que buscava suas lentes.
Diana caminha na faixa de segurança de campo minado em Angola, janeiro de 1997.Foto: José Manuel Ribeiro/ Reuters
A princesa não desviou o olhar das câmeras que registraram o momento em que caminhou pela pequena faixa de segurança de um campo minado em Huambo. Centenas de jornalistas de diversos países acompanharam a ação que serviu para divulgar o trabalho da ONG Halo Trust e conscientizar sobre o problema das minas. As imagens ganharam a imprensa mundial. Usando o tipo de publicidade e atenção que declaradamente buscava, a princesa construiu um legado para uma maior conscientização sobre causas humanitárias.
O Estado de S.Paulo - 11/10/1997
A campanha antiminas recebeu o Nobel da Paz daquele ano e em dezembro de 1997, o Tratado de Ottawa, que visa a eliminação das minas terrestres em todo o mundo, foi ratificado. Hoje 162 países são seus signatários.Veja também:
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