Desaparecido desde a sua prisão no Rio de Janeiro em 23 de fevereiro de 1974, Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira também desapareceu das páginas do jornal que noticiariam o caso. O desaparecimento do preso político foi um dos assuntos censurados pela ditadura militar naquele ano.
Três meses após a prisão, a notícia "OAB denunciará a Geisel violência", foi proibida de ser publicada na edição de 29 de maio de 1974 e foi substituída por um trecho da peça "Farsa de Inês Pereira", obra do português Gil Vicente publicada em 1523. A publicação de obras clássicas da Língua Portuguesa no lugar das notícias proibidas era um artifício usado pelo jornal na época para denunciar a censura.
Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira voltaria a desaparecer novamente das páginas do jornal em 29 de junho daquele ano, quando o censor do governo encarregado de proibir conteúdos considerados subversivos vetou a publicação da notícia "MDB quer saber motivo de prisões", na qual o nome de Fernando aparecia junto ao do amigo Eduardo Collier Filho e outros presos políticos desaparecidos. No lugar da notícia vetada, o jornal publicou "Rosa, Rosa de Amor... Horas de Amor", poema de 1902 de Vicente de Carvalho.
No começo do ano seguinte, em janeiro de 1975, quando o regime iniciava uma tímida abertura e a censura ao jornal foi encerrada, o nome de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira apareceria em anúncios assinados pela mãe do amigo desaparecido, Risoleta Meira Collier, denunciando o desaparecimento dos dois: "Indagações formuladas junto a Hospitais, Necrotérios e Autoridades, inclusive ao SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR foram inúteis e a família de Eduardo Collier Filho, desesperada, apela a quem souber do destino de Eduardo e de seu amigo Fernando Augusto."
Em 1 de março de 1975, já com a censura levantada, o nome de Fernando Augusto voltou a aparecer na publicação da notícia "OEA aguarda a nota do Brasil". Nesse texto, é relatado que a mãe de Fernando Augusto visitou a Câmara dos Deputados e dizia aos congressistas do MDB. "É mentira, mentira, mentira. Não creio que ele esteja desaparecido. Ele disse que nunca sairia do País sem me avisar."
Fernando Augusto, pai do atual presidente da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], reapareceu no noticiário após 45 anos por causa da declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre o que considera ser a causa da morte do preso e desaparecido político.
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