Em de 3 de julho de 1970, começava uma novela que só teve fim 36 anos depois. Paulo Maluf, então Prefeito de São Paulo, publicou a lei 7.485 concedendo como prêmio 25 Fuscas à equipe da seleção brasileira tricampeã no México que trouxe definitivamente a Taça Jules Rimet para o Brasil. A verba para os presentes que seriam entregues no dia 21 daquele mês foi retirada do Departamento de Obras Públicas que estava destinada à construção de edifícios públicos. O valor de Cr$ 315.000,00, reservado para a compra dos carros, equivaleria hoje a R$ 3.937.500.00, segundo o Conversor de Valores do Acervo Estadão baseado no preço do exemplar do jornal. Na época esse montante teria o valor da compra de 787.500 exemplares do Estadão.
A lei foi aprovada pelos vereadores em 30 de junho por 10 votos a favor e 7 contrários. Chamado de “projeto Volkswagen”, a homenagem foi entendida como um jogo de cena para o prefeito que estava com a popularidade baixíssima.
Meses antes, Maluf foi vaiado durante o jogo de apresentação da seleção no Morumbi por mais de 100 mil pessoas e na festa da chegada dos jogadores tricampeões realizada no Vale do Anhangabaú. “O prefeito apenas utiliza mais uma forma para aparecer, cada vez que entregar um carro, nas manchetes de determinados jornais. Mas o prefeito se esquece de que já bateu todos os recordes nacionais de impopularidade, quem sabe até os internacionais”, declarou o verador João Carlos Meirelles ao Estadão em 30 de julho.
Logo depois da lei ter sido publicada, foi aberta uma ação popular para que o prefeito e o presidente da Câmara Municipal devolvessem o dinheiro aos cofres públicos. Em 1981, o STF condenou o ex-prefeito a pagar, mas ele se negou e disse que faria tudo de novo e argumentou que “a homenagem partiu do povo de São Paulo, na figura de seu prefeito. São Paulo tem potencial econômico para isso”.
Em 1996 a decisão foi revogada pelo mesmo tribunal aceitando a tese da defesa de que havia uma lei municipal aprovando a compra dos carros. Entre idas e vindas de recursos, o processo foi finalizado em 2006 garantindo ao ex-prefeito a não pagar os Fuscas.
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A festa da entrega. O 'projeto Volkswagen' foi pensado para o dia em que a Taça Jules Rimet viesse para São Paulo. O dia da chegada foi 21 de julho de 1970.
Antes das entregas dos Fuscas, os integrantes da seleção foram ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual, para receber das mãos do governador Abreu Sodré miniaturas da estátua Jules Rimet feitas em ouro, “a miniatura da taça é de ouro puro, pesando 135 grama, tem 18 centímetros de altura, assentada em pedestal de sodalita e jacarandá paulista, num peso total de meio quilo", informou a reportagem do Estadão que esteve no evento.
O governo encomendou 50 miniaturas, mas só distribuiu 42”, informou a reportagem do Estadão que esteve no evento. O valor de cada uma foi de Cr$ 2.800,00 (hoje equivalente a R$ 35.000,00). Comparado com os valores atualizados, o gasto total com as estátuas foi de R$ 1.750.000,00, ou seja 44,4% dos valor da compra dos carros.
A festa da entrega dos Fuscas foi na prefeitura da cidade, que na época era localizada no Parque do Ibirapuera. Tinham direito a receber os carros os 22 jogadores do time, o técnico Zagalo, o preparador físico Admildo Chiroll e Mário Américo, massagista da equipe. Antes da entrega, Pelé entregou e autografou uma camisa da seleção e um par de chuteiras para Paulo Maluf.
Os carros de cor verde ficaram enfileirados na marquise do Ibirapuera. Cada um tinha etiqueta no vidro com o nome do jogador e número da camisa que vestiu no torneio e, sobre o capô, um ramalhete de flores. Antes da entrega os homenageados subiram em um palanque para serem homenageados. O prefeito fez discurso breve dizendo que os jogadores tinham direto a homenagem feita por “esta cidade de seis milhões de trabalhadores.”
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