Durante as visitas guiadas ao Acervo Estadão um dos momentos de maior impacto acontece quando algumas amostras do gigantesco arquivo fotográfico são expostas aos visitantes. Quando a reprodução da imagem acima é retirada de um envelope, imediatamente vem a reação, não importando a idade, origem ou formação do grupo: “Pelé! Pelé!”
Questionados como podem ter certeza de que é o Pelé, se não aparece o rosto dele, nem o símbolo do Santos ou da seleção brasileira na camisa, não há nenhuma legenda na foto mostrada e que vários outros jogadores negros vestiram a camisa 10 em seus times, os visitantes prontamente começam a responder mais ou menos assim: “É o gesto dele, o jeito de jogar. É o Pelé.”
Sim. É o Pelé. Confirmamos, como se fosse preciso. Os que o viram jogar não tem dúvida e os que não viram parecem ter uma memória herdada dos pais, tios, avós e primos mais velhos sobre as atuações de Pelé.
Mundial de Clubes no Maracanã
A foto assombrosa foi feita pelo fotógrafo Domício Pinheiro, do Estadão, no primeiro jogo do Santos na final do Mundial de Clubes, contra o Benfica, em 19 de setembro de 1962, no Maracanã. Apesar de ao longo dos anos tornar-se uma das fotos mais memoráveis do rei do futebol, ela não foi publicada no jornal na época. Mesmo sendo considerada tecnicamente imperfeita por causa da sub-exposição, Domício acabou captando a alma de Pelé naquele lance. A foto eterniza o 10 a Pelé.
Nos anos seguintes, o fotógrafo, que acompanhou de perto toda a carreira de Pelé, selecionou o fotograma várias vezes como destaque de seu trabalho. Em 1972, a foto da alma de Pelé pode ser vista na exposição dedicada a Domício e Pelé na galeria da Fotóptica no centro de São Paulo.
Três anos depois, o fotógrafo retrabalhou a imagem de Pelé com uma montagem repetindo o lance várias vezes para a XIII Bienal de Arte de São Paulo, em 1975.
A popularização da imagem da alma de Pelé acontece na década seguinte, quando a foto foi escolhida como capa e pôster do livro em fascículos " Era Pelé - o Atleta do Século”, de 1984.
Domício Pinheiro, que trabalhou por mais de quatro décadas no Estadão, morreu aos 76 anos, em 1998.
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