Estrutura de ensino desconexa, onde as poucas universidades formavam apenas para o ofício, falta de preparação de docentes e inexistência da prática da ciência. Esse era parte do panorama da educação do Brasil em meados da década de 1920. O quadro inquietava o educador Fernando Azevedo e o jornalista Júlio de Mesquita Filho. Para eles a mudança sócio-política do País só viria através da educação. Para concretizar a mudança que idealizavam era preciso consultar professores, cientistas e escritores. Com esse espírito o jornal ‘O Estado de S. Paulo’ iniciou em 1926 uma pesquisa sobre a situação da educação em São Paulo. Coube a Fernando de Azevedo, a pedido de Mesquita Filho, que o coordenasse.
O inquérito investigou todos os aspectos do ensino no Estado, o primário, secundário, profissionalizante e superior. Para fazê-lo, foi enviado um questionário para dezenas de pessoas envolvidas no ensino. Das doze perguntas, três era sobre o ensino superior. Elas pediam opinião sobre a 'criação de uma universidade em São Paulo, organizada dentro do espírito universitário moderno' e de que forma uma universidade poderia se tornar uma "instituição orgânica e viva"'. As respostas foram publicadas no jornal logo que eram recebidas sob o título “A Instrucção Publica em S.Paulo”. Foram 34 colunas publicadas entre os meses de junho e dezembro. Todas estão organizadas abaixo nas 'Paginas Selecionadas'.A partir das respostas, a conclusão a que se chegou era de um ensino totalmente desconectado. No caso das universidades, elas simplesmente formavam profissionais para exercer a profissão. A resposta do escritor Amadeu Amaral sintetiza aquela realidade. Para ele nas universidades havia "quase exclusivo domínio dos objetivos imediatos e aparentes: o exame, a formatura, a colocação, a carreira prática ou profissional. Corresponde ainda à concepção mais comum no Brasil acerca das funções da escola; a primazia que se concede ao "saber" (entendendo-se por "saber" aquilo que um escritor estrangeiro definiu: "uma pequena enciclopédia de conhecimentos inúteis"); ao desprezo a que se relega a "cultura", que é assimilação, conversão do aprendido em substância própria, formação do espírito, aumento de capacidade e de atividade espontânea".Criar, transmitir, divulgar. Nada mais contrário ao projeto idealizado por Azevedo e Mesquita Filho de um sistema orgânico entre todos os níveis de ensino onde a universidade teria que exercer uma 'tríplice aliança'. Segundo Azevedo, em artigo publicado em 1945 no 'Estado', a universidade deveria "elaborar ou criar a ciência, pela pesquisa, de transmiti-la, pelo ensino de alto nível, e de divulgá-la, por tôda a espécie de meios". Parceria. O encontro entre Mesquita Filho (1892 – 1989) e Azevedo (1874 – 1974) começou em 1922 e foi fundamental para a criação da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que completam 80 anos. Azevedo, mineiro de São Gonçalo do Sapucaí, já escrevia na imprensa paulistana desde 1918. Em 1922 foi convidado, também por Mesquita Filho, a escrever sobre o centenário da Independência. Aproveitando o convite, sugeriu ao diretor do jornal uma matéria sobre sobre educação física, tema que ele se dedicava juntamente com o latim. Desde 1916, ensinava literatura e língua latina na Escola Normal de São Paulo. No ano seguinte, também a convite, entrou definitivamente para a redação do 'Estado' publicando todos os sábados coluna sobre crítica literária. Foi assim até 1926, quando deixou o posto para assumir o cargo de Diretor-Geral da Instrução Pública na capital federal. Lá fez uma revolução no ensino instituindo, entre outras coisas, o acesso ao magistério somente por concurso, criação de estrutura física destinada à educação e valorização da Escola Normal para reforçar o magistério.
>> Veja abaixo todo o inquérito "A instrucção publica em S. Paulo"
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