Dos idos de 1930 até os anos de 1970, tempos de Páscoa eram sinônimo de chocolates Sönksen. Fundada no século 19 como “La Bonbonniere” antes de adotar o sobrenome de uma das famílias proprietárias posteriores, a empresa é apontada como a primeira a fabricar produtos de chocolates no Brasil e se manteve como uma das líderes no mercado nacional de doces e chocolates finos até a década de 1970.
Anúncios publicitários da La Bonbonnniere na revista Tico-Tico nos anos 1920 traziam a inscrição “casa fundada em 1887″ junto ao nome dos controladores “Sonksen Irmãos & C.”.
Já em 12 de abril de 1958, um anúncio no Estadão fala “em comemoração do seu 70º aniversário de fundação, Sönkson Chocolates S.A. tem o prazer de comunicar ao distinto público a inauguração de sua nova loja. Rua 24 de maio, nº 29”. Em 21 de dezembro, uma pequena nota no jornal com o título “Aniversário de indústria” informa que a festa confraternização em comemoração aos 70 anos na sede da empresa seria no dia 27 de dezembro de 1958.
Se os 70 anos exatos fossem contados naquele ano, a fundação então seria em 1888, ano atribuído ao início das atividades da Sönken em várias publicações posteriores.
Mas seja qual for o ano exato da fundação formal, no século 20 a Sönkson estabeleceu-se como referência de chocolates finos, sendo por anos a segunda maior fabricante de produtos sofisticados do setor, com 30% do mercado, atrás da Kopenhaguen, que dominava com 65% das vendas.
Fossem ovos de Páscoa, coelhos de chocolate ou os deliciosos e populares “Urso Branco” (de chocolate branco) e “Urso Marrom” (de chocolate ao leite), a Sönksen tinha os produtos certos para adoçar as mesas em tempos de festa. Durante vários anos, no período da Páscoa há propagandas da Sönken publicados no Estadão anunciando ovos e coelhos de chocolate.
A empresa também desenvolvia produtos e kits especiais para outras datas festivas além da Páscoa. Vendia doces para o Natal, Dia das Mães, Dia dos Namorados.
Páscoa
Natal e aniversário
Com produtos voltados para classe A, que incluíam chocolates finos como bombons de fondant e recheados com geleia, a Sönksen também era famosa por suas balas azedinhas e de cevada. O cheiro que exalava da sua fábrica na Rua Vergueiro inebriava quem passasse pelas proximidades, e está gravado na memória olfativa dos antigos moradores daquela região.
Na década de 1930, a Sönksen e outras fabricantes de chocolate se uniram em campanhas publicitárias conjuntas que defendiam que “chocolate é alimento”, ressaltando valores nutricionais dos seus produtos, citando estudos científicos e médicos para alavancar a venda de chocolates para crianças.
Campanha
Apesar do crescimento do mercado de chocolates, a Sölken passou a ter dificuldades. No início da década de 1970, a empresa foi colocada à venda. Em 1977 pediu concordata. O crescimento da concorrência, o fato dos doces da Sönksens serem mais sofisticados e mais caros e vendidos - alguns deles - apenas nas lojas da empresa, estão entre os fatores que levaram à falência e ao fechamento em 1983.
No dia 5 de setembro daquele ano, um incêndio tomou conta da fábrica durante a execução de despejo. Reportagem do Estadão em 6 de setembro de 1983 contava como foi a tensão na fábrica no dia anterior, quando o fogo colocou um ponto final na trajetória da Sölken.
Despejo e incêndio
O repórter Jari Cardoso contou em detalhes como foi o último dia da fábrica da Sölken:
“O incêndio que destruiu ontem uma máquina de fabricar ovos de Páscoa, avaliada em Cr$ 100 milhões, e derrubou parte do telhado da sede da Sönksen Produtos Alimentícios S.A., ocorreu quando estava sendo executada ‘uma ação de despejo contra a empresa.
O ex-diretor-presidente da fábrica, José Cilhas de Oliveira e Silva, que se encontrava no local, acusou os empregados como autores do incêndio, e a Policia Técnica foi chamada para investigar o caso. O fogo começou por volta das 10h30 no setor de embalagens e destruiu toda a unidade.
“A firma estava em pé de guerra quando o incêndio começou” — informou o encarregado da expedição, Joaquim Bueno, funcionário da Sonksen há 16 anos. É que por volta das 9 horas cinco caminhões de carga, equipados com guincho, tendo a inscrição ‘’Transportadora Lapa”, haviam estacionado em frente à fábrica para cumprir a ação de despejo movida pelos proprietários do prédio e ex-donos da empresa, que são membros da família Sonksen.
Os caminhões iriam levar embora todas as máquinas da fábrica, mas os empregados, que estão com os salários atrasados desde abril, decidiram impedi-los, exigindo que fosse aguardada a presença no local de dirigentes de seu sindicato e também o atual diretor-presidente da empresa, Petter Schone, que é seu acionista majoritário.
Os funcionários estavam dispostos a formar uma “barreira hunana” na porta da fábrica para que as máquinas não fossem retiradas, alegando que elas eram “a nossa garantia”. Segundo eles, a empresa deve aos empregados entre Cr$ 50 milhões e Cr$ 70 milhões, e negaram veementemente que tivessem algum interesse em pôr fogo na fábrica.
Atendendo a uma sugestão do oficial de justiça, o funcionário Joaquim Bueno passou a anotar os números de cada uma das máquinas e outros empregados foram destacados para acompanhar os caminhões - e ficar sabendo o seu destino.
Joaquim estava anotando os números das máquinas quando foi atingido por cacos de vidro nas costas (eram pedaços do telhado) e ouviu gritos de “fogo”. Já fazia algum tempo que entrara no prédio o pessoal que chegou junto com os caminhões e várias máquinas já tinham sido deslocadas até o pátio da fábrica.
Antes da chegada dos bombeiros, essas pessoas e os caminhões desapareceram, enquanto chegavam ao local o diretor Peter Schone e também o presidente do Sindicato dos Empregados do Setor de Cacau e Balas, Ermelino Soares de Camargo, e o advogado do sindicato, Nelson da Silva.
Schone assistiu de longe ao trabalho dos bombeiros e logo foi embora, evitando os funcionários e a imprensa. Os empregados, alguns chorando. reuniram-se e decidiram recorrer à policia para guardar a fábrica. Eles temiam que sumissem as máquinas e os arquivos do departamento pessoal. Um grupo foi então até o 15º DP, mas o delegado disse que não poderia fazer nada enquanto a Policia Técnica não examinasse o local. Com isso, os próprios empregados resolveram guardar a fábrica.” [Leia mais]
Apesar do incêndio e da falência, passado mais de um século, a marca ainda está gravada na memória daqueles que provaram seus doces. As embalagens de lata das famosas balinhas Sönskens viraram itens de colecionadores em sites especializados.
Estadão - 6 de setembro de 1983
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