Dois anos após a eclosão do escândalo de Watergate, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, anunciou na noite de quinta-feira de 8 de agosto de 1974 na Casa Branca que renunciaria ao cargo. Um dos fatos políticos mais marcantes do século 20, a renúncia de Richard Nixon ocupou toda a capa do Estadão no dia seguinte. [Clique nas imagens para ver as páginas ampliadas e nas datas para acessar os jornais da época]
A dimensão da notícia sem precedentes pode ser medida com a inusual manchete de letras maiúsculas “RICHARD NIXON RENÚNCIA”, recurso usado pelo jornal somente em acontecimentos extraordinários como a chegada do homem à Lua, a conquista do tricampeonato do Brasil na Copa do Mundo e o incêndio do Edifício Joelma.
Abaixo da manchete um texto detalhava o fato histórico:
WASHINGTON - Alegando falta de apoio do Congresso para prosseguir desempenhando suas funções de presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon transmitiu ontem à noite à nação sua decisão de renunciar à chefia do Executivo. O vice-presidente Gerald Ford, assume hoje a Presidência. Ainda não se sabe quem será seu substituto, como vice-presidente.
A renúncia de Nixon, submetido a fortes e crescentes pressões dos congressistas, da imprensa e da opinião pública, foi a forma que encontrou para escapar a um julgamento político pelo Senado. Em sua fala à nação, transmitida pela televisão - que é transcrita abaixo, integralmente - Nixon não somente fez referências ao caso Watergate, cujos desdobramentos o levaram a demitir-se, como ainda assegurou que seu propósito principal, desde que assumiu a Presidência, foi garantir e consolidar a paz mundial. [Leia a íntegra do pronunciamento de Nixon no jornal da época]
Watergate: saiba como foi o escândalo que derrubou Nixon
O caso Watergate, que levou à renúncia do presidente americano em 1974, começou durante a campanha de reeleição de Nixon em 1972. Eleito em 1968 pelo Partido Republicano, Nixon se candidatou ao segundo mandato quatro anos depois e venceu facilmente a disputa. Mas foi atropelado pelo escândalo do arrombamento e invasão de um comitê do partido adversário, o Democrata, no edifício Watergate, em Washington.
Cinco homens foram presos às 2h30 da madrugada de 17 de junho de 1972 tentando grampear os telefones do Comitê Nacional Democrata no complexo de escritórios Watergate, na capital americana. A polícia informou que os homens presos tinham pelo menos dois aparelhos sofisticados de escuta telefônica. Encontrou ainda chaves falsas e pés-de-cabra, além de 2.300 dólares em dinheiro, a maior parte em notas de 100 dólares sequenciadas.
A partir dessa notícia, dois repórteres do jornal Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, conduziram uma série de reportagens que apontaram o envolvimento da administração do republicano Richard Nixon na tentativa de arrombamento do QG do partido democrata para instalação de aparelhos de escutas.
A dupla contou com a colaboração crucial de uma fonte anônima conhecida como “Garganta Profunda” - anos depois identificada como Mark Felt, ex-segundo em comando do FBI (a Polícia Federal dos Estados Unidos). O trabalho dos dois jornalistas no caso foi contado por eles no livro “Todos os Homens do Presidente”, que virou um premiado filme estrelado por Robert Redford, Dustin Hoffman e Jason Robards em 1976.
Os fatos revelados pelos jornalistas foram fundamentais para abertura de um inquérito no Senado em 7 de fevereiro de 1973. Apesar das insistentes negativas de envolvimento no caso, em abril de 1973, com o avanço da investigação, três dos principais assessores do presidente Richard Nixon renunciam. Em maio, o Comitê do Senado que investiga o caso Watergate dá início às audiências transmitidas pela televisão.
Quanto mais fatos surgiam mais se complicava a situação de Nixon. O escândalo trouxe a público a existência de gravações de áudio onde Nixon, entre outros delitos, tentava intervir em uma investigação federal em curso.
Em março do ano seguinte, sete assessores e o secretário de Justiça, John Mitchell, são indiciados por obstrução de Justiça. Em maio de 1974, a Congresso inicia movimentação para instauração de processo de impeachment contra Nixon. Em 24 de julho a Suprema Corte ordena a entrega das gravações de conversas no gabinete presidencial. As fitas, embora parcialmente apagadas, provam que Nixon planejou intervir nas investigações do FBI.
Em 8 de agosto de 1974, Richard Nixon anuncia que renunciará à presidência dos Estados Unidos. Em pronunciamento em cadeia nacional de TV , diz que espera que sua renúncia apresse “o início do processo de cura de que os Estados Unidos necessitam tão desesperadamente”.
O escândalo se tornou uma referência histórica de combate à corrupção e abuso de poder, onde os poderes Judiciário e Legislativo e a imprensa tiveram papel decisivo.
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