São Silvestre: saiba quem venceu a primeira prova, que teve tochas, garoa e disputa na virada do ano

Atletas saíram da Avenida Paulista e passaram o réveillon de 1925 para 1926 correndo pelo centro de São Paulo até chegarem à atual ponte das Bandeiras

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Atualização:
Montagem com a notícia original do resultado da primeira corrida de São Silvestre em 1925 e foto do primeiro vencedor, Alfredo Gomes. Foto: Acervo Estadão

“Realiza-se hoje, nesta capital, uma interessante prova athletica, a corrida de S. Silvestre, que será disputada na distância de pouco menos de 9.000 metros. O interessante da prova é que a mesma será realizada à noite, justamente no momento em que a população, acordada e esparsa pela cidade, aguarda a passagem do anno. Estende-se o percurso entre os bairros da Villa Mariana e Ponte Grande. A partida dos concorrentes dar-se-á em tempo de que possam passar pelo centro da cidade à hora mais ou menos em que se festeja a entrada do novo anno”, contava a reportagem do Estadão de 31 de dezembro de 1925, que narrava o “enthusiasmo despertado nos meios athleticos pela magnífica prova”.

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O bairro da “Villa Mariana” mencionado no texto não corresponde a atual divisão geográfica da cidade de São Paulo, como pode ser verificado na descrição do percurso publicada na época: “A metragem do percurso é de 8.800 metros aproximadamente - com saída em frente ao Trianon e chegada na Ponte Grande. A partida será dada as 23 horas e meia, com o seguinte percurso: avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antonio, rua Santo Amaro, Parque Anhangabahu´, avenida São João, rua Libero Badaró, largo de São Bento, rua Florencio de Abreu, avenida Tiradentes e praça do Esportes, na Ponte Grande.”

A reportagem contava ainda que a intenção inicial da organização da prova, criada pelo jornalista Casper Líbero, era de que os 60 competidores inscritos corressem levando um “archote”, uma espécie de tocha ou lanterna, para iluminar o percurso. Mas os apetrechos não ficaram prontos a tempo e então só os juízes portaram a iluminação com fogo:

“Deliberára a commissão encarregada dessa corrida que cada corredor levasse comsigo um archote, o que emprestaria, sem dúvida, á prova um caracter de originalidade, pelo menos para os paulistas. Não tendo sendo possível, entretanto, confeccionar os archotes a tempo de ficarem todos promptos no dia da prova, ficou resolvido que os mesmos só serão entregues aos juizes de percurso, indicadores de caminhos e cyclistas que porventura quiserem acompanhar os concorrentes”.

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Em outro trecho, o texto de 1925 informa como seria a iluminação do percurso: “Os juizes indicadores do percurso trarão fogos de côr verde e os estacionarios, que receberão as fichas dos athletas, fogos de côr rubra. Os corredores não empunharão lanternas japonezas, como a principio se decidira.”

Forte e impertinente garôa

Como a prova varou a virada da noite de réveillon, o resultado da corrida, disputada em meio a carros e pedestres nas ruas, só foi noticiado pelo jornal na edição do dia 2 de janeiro de 1926:

“Partindo da Villa Mariana com destino a Ponte Grande, os concorrentes passaram pelo centro da cidade pouco depois da meia-noite. Veiu a ser esse o ponto mais difficil do percurso. Justamente á essa hora, começou a cahir uma forte e impertinente garôa que tornou o calçamento do centro da cidade escorregadio, sendo esse um obstaculo accrescido aos outros com os quaes já contavam os concorrente áquela prova, quaes fossem o excessivo e natural movimento de vehiculos e pedestres.”

(...) A’ chamada feita á hora da partida deixaram de responder cerca de 12 inscriptos. Dos que participaram da competição, 11 foram classificados. O melhor tempo alcançado para o percurso, que media aproximadamente 8.800 metros foi de 23. 19″, 4|5, obtido por Alfredo Gomes, que se preparára cuidadosamente para a corrida”.

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Alfredo Gomes era um dos principais atletas do País naquela época e, em 1924, integrou a delegação brasileira que disputou a Olimpíada de Paris.

Além da medalha de ouro para o vencedor, a primeira corrida de São Silvestre premiou o segundo lugar com medalha de prata e medalha de bronze para o terceiro colocado e todos os concorrentes que chegassem ao ponto final até 8 minutos após o vencedor.

Veja mais detalhes da primeira São Silvestre nos jornais da época

Estadão - 31 de dezembro de 1925

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Estadão - 31/12/1925 Foto: Acervo Estadão

Estadão - 31 de dezembro de 1925

Estadão - 31/12/1925 Foto: Acervo Estadão

Estadão - 2 de janeiro de 1926

Recorte com segunda parte dos corredores que completaram a primeira corrida de São Silvestre, na virada de 1925/1926. Foto: Acervo Estadão

Mudando com o tempo

Inicialmente, a prova era aberta apenas para competidores homens e brasileiros. Só em 1945 os primeiros atletas estrangeiros - um chileno e um uruguaio - estrearam na competição. Em 1975 foi criada a prova feminina e desde então a participação feminina tem crescido na São Silvestre. É uma mulher a detentora do maior número de vitórias da competição. A portuguesa Rosa Mota venceu a corrida seis vezes. Depois dela, o 2º maior vencedor é o queniano Paul Tergat, com cinco vitórias.

Navegue pela galeria, veja imagens históricas da corrida e conheça mais curiosidades:

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Durante anos a transmissão da corrida de São Silvestre pela televisão era uma espécie de contagem regressiva informal para o Ano Novo. Há registros de que a TV Tupi chegou a transmitir a prova antes da TV Gazeta, inaugurada em 1970. Em 1982 a corrida noturna começou a ser televisionada conjuntamente pela Gazeta e TV Globo. A partir de 1989, passou a ser realizada no período da tarde. Desde 2012 a prova é disputada no período da manhã.

Ao longo dos anos, a corrida que cruza tradicionais ruas do centro de São Paulo e é a mais tradicional prova de rua do calendário esportivo nacional, foi suspensa apenas uma vez, em 2020, devido à pandemia de covid-19.

ACERVO

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